São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) considera que um ajuste “mais tempestivo” da taxa básica de juros (Selic) para um nível contracionista seja a estratégia “mais apropriada” no momento para garantir que a inflação perca força e se alinhe às metas previstas para 2022 e 2023, segundo a ata da última reunião do grupo, ocorrida na semana passada.
O Copom detalhou na ata que, durante o encontro, houve uma discussão a respeito das divergências existentes entre o cenário básico desenhado pelo grupo e as expectativas do mercado para a inflação, refletidas na pesquisa Focus.
No momento da reunião, o comitê previa que a inflação terminaria 2021 em 6,5%, diminuiria para 3,5% em 2022 e para 3,2% em 2023, enquanto na pesquisa Focus as previsões para a inflação eram de, respectivamente, 6,8%, 3,8% e 3,25%.
“Primeiro, as expectativas podem incorporar diferentes hipóteses sobre os fatores determinantes da inflação, tais como os preços administrados e o crescimento econômico, além de conter diferentes percepções sobre cenários de risco ou alternativos”, disse o Copom na ata.
“Segundo, a longa sequência de choques e revisões unidirecionais das expectativas pode gerar um aumento da percepção da inércia inflacionária. Finalmente, pode haver, entre os participantes de mercado, diferentes premissas sobre a função de reação da política monetária”, acrescentou.
O grupo disse também – assim como apontado no comunicado com a decisão sobre a Selic – que o fortalecimento da inflação nos chamados “componentes inerciais” dos índices de preços (aluguel, por exemplo) poderia fazer com que as expectativas de inflação ficassem ainda mais distantes do cenário básico durante a reabertura do setor de serviços.
“O Comitê considerou que deveria, mais uma vez, reforçar seu compromisso inequívoco na persecução das metas de inflação no horizonte relevante de política monetária, tendo como norte o seu cenário básico, assim como a avaliação sobre o balanço de riscos”, disse o Copom.
AJUSTE TEMPESTIVO E CONTRACIONISTA
O Copom afirmou que embora suas projeções de inflação estejam alinhadas com as metas para 2022 e 2023 – de 3,5% e 3,25%, respectivamente -, “os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções” e que isso enseja “uma trajetória para a política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico”.
No cenário básico, a Selic terminaria este ano em 7,00% e diminuiria ao longo de 2022 para 6,50%.
“Levando em conta o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê observou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, são necessárias elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até patamar acima do neutro para que se obtenha projeções em torno das metas de inflação no horizonte relevante. Sendo assim, tornou-se apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar consistente com política monetária contracionista”, disse a o Copom na ata.
“O Copom concluiu que um ajuste mais tempestivo da política monetária é a estratégia mais apropriada, neste momento, para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023”, afirmou.
CENÁRIO ECONÔMICO
O Copom considera que a projeção do mercado para o crescimento da economia está “sensivelmente mais otimista” do que as do próprio BC, segundo a ata da reunião mais recente do grupo, ocorrida na semana passada.
“Para o Comitê, o segundo semestre do ano deve mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente. O Comitê notou que a mediana das projeções de crescimento, segundo a pesquisa Focus, está sensivelmente mais otimista do que as do seu cenário básico e ponderou se as dificuldades relacionadas à dessazonalização das séries devido ao choque da pandemia explicariam essa divergência”, afirmou.
O Copom considerou também que a ociosidade na economia está diminuindo e caminhando rapidamente para os níveis observados ao final de 2019, mas que “a pandemia ainda segue produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos e, em particular, sobre o mercado de trabalho, com consequências para a dinâmica recente e prospectiva da inflação”.
Em relação ao exterior, o grupo avaliou que os estímulos fiscais e monetários estão promovendo crescimento “robusto” e que a dinâmica de inflação dependerá cada vez mais das condições de demanda.
“Novas discussões sobre o risco de um aumento duradouro da inflação nos Estados Unidos e a consequente reprecificação nos mercados financeiros podem tornar o ambiente para as economias emergentes desafiador”, acrescentou a ata.