Cosan entra em mineração e prevê produção acima de 10 mi t/ano; ação sobe

A empresa criou uma joint venture com Paulo Brito, da Aura Minerals, e adquiriu o Porto de São Luis; objetivo é produzir minério de alta qualidade

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São Paulo – A primeira produção de minério de ferro da JV Mineração – joint venture anunciada ontem pela Cosan por meio da sua controlada Atlântico junto com o Grupo Paulo Brito, do fundador da Aura Minerals – ocorrerá entre 2025 e 2026 e será de 10 milhões de toneladas por ano, mas a previsão é de um aumento significativo em cinco anos. A futura mina fica na região de Carajás, no Pará, próximo à mina S11D, da Vale, e também prevê a produção de um minério de alta qualidade, com teor em torno de 67%.

“Já fizemos 50 mil metros quadrados de sondagens e faremos mais 80 mil metros de sondagem nos próximos anos, são mais de 2 bilhões de toneladas de recursos minerais para transformar em minas. Há confiança, com base em estudos e consultores, que vamos trazer números muito interessantes em cima de recursos já significativos”, disse o presidente da nova companhia, Juarez Saliba de Avelar, que fez sua carreira dentro da Vale, participando do início do S11D, e que teve passagem também pela CSN.

“Precisamos primeiro desenvolver a área perto de Carajás e nossa meta é começar com 10 milhões de toneladas em 2025 e 2026 e, posteriormente, diversos outros projetos vão ser desenvolvidos”, explicou ainda o executivo, durante teleconferência com analistas.

Segundo Avelar, o minério produzido pode ter teor até acima de 67%, o que chamou de “altíssima qualidade” e deve fazer com que consumidores paguem um bom “prêmio” pelo produto. O objetivo, afirma, é buscar nichos, assim como faz a Vale com o minério que produz na região. Também há previsão de produzir outros produtos a partir do minério que também possam trazer prêmios para a companhia.

De acordo com o presidente da joint venture e também com a diretoria da Cosan, não haverá problemas para o escoamento dessa produção, que deve usar a ferrovia que pertence à Vale, com a qual negociam, e o Porto de São Luis, adquirido pela empresa.

A Cosan, por meio da Atlântico, fez uma proposta para comprar 100% do porto pelo valor de R$ 720 milhões. A expectativa da Consan é que o acionista controlador do porto, o grupo chinês China Communications Construction Company Limited (CCCC), venda sua participação restante.

“A decisão de entrar nesse negócio é ter encontrado um ativo muito relevante, que é um ativo portuário. Nosso objetivo, depois de alguns meses de conversa com Paulo Brito, era buscar um ativo logístico que justificasse a entrada no negócio. O timing do negócio foi definido por isso, é o último ativo dessa relevância disponível nesse local”, explicou o diretor financeiro da Cosan, Marcelo Martins.

O presidente da JV Mineração ainda afirmou que o porto tem capacidade de escoamento superior a 50 milhões de toneladas de minério de ferro e que há previsão de expandir a sua capacidade conforme a produção aumente. Questionados sobre a possibilidade de uso do porto que pertence à Vale, também localizado na região, Avelar disse que o porto da mineradora é privado e acredita que a companhia não teria intenção de transportar produção de terceiros, já que também trabalha no limite de sua capacidade, além de reiterar que o Porto de São Luis tem flexibilidade.

O presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães, reiterou que a entrada no segmento de mineração foi definida pela existência do porto, já que o escoamento costuma ser um gargalo na produção de minério e levando em consideração a experiência em logística da empresa, além de sua intenção de diversificar o seu portfólio.

“Eu e Marcelo temos falado sobre a diversificação do nosso portfólio em moedas, esse projeto traz também conhecimento de Brasil, que tem vantagem competitiva no minério com empresas como a Vale. Não faríamos ainda o negócio se não tivéssemos o parceiro certo, gostamos de sócios, estamos agregando. Vemos vantagem também por ser um ativo greenfield, que não traz nenhum legado, o que permite menor pegada de emissão de carbono”, afirmou.

Segundo os executivos, o objetivo é que o projeto seja construído no modelo ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) desde o início, com uso de energia renovável e economia de água, sem uso de barragens no processo de extração do minério, o que também é visto como vantagem competitiva.

SÓCIOS E FUNDOS DE INVESTIMENTOS

O diretor financeiro da Cosan disse ainda que pode trazer outro investidor para o projeto se julgarem necessário, mesmo que possuam 100% dos recursos necessários para o porto e para o projeto de mineração. Na JV Mineração, a Cosan terá 37% de participação e controle compartilhado da nova companhia, ou seja 50% das ações. O porto será integralizado na joint venture.

Martins reiterou ainda que a intenção é sempre trabalhar com sócios e parceiros, principalmente fora do que consideram portfólio permanente da Cosan.

“A ideia de trabalhar com fundos de investimentos tem a ver com o perfil do investimento, a ideia é ser mais rápido para atrair parceiros, gerar liquidez, vemos portfólio com horizonte diferente do portfólio permanente. Queremos ter estrutura flexível para buscar alternativas de forma mais rápida, como listagem ou entrada de outros investidores”, disse.

REAÇÃO DO MERCADO

As ações da Cosan sobem com o anúncio de planos do grupo para entrar no setor de mineração e comprar o Porto São Luís, com análises mistas sobre as informações divulgadas pela empresa. Às 12h26 (horário de Brasília), o papel da companhia (CSAN3) tinha alta de 3,75%, a R$22,95.

O Goldman Sachs chamou a atenção para “o valor reduzido do investimento inicial, o potencial para novos investimentos em novas áreas e os riscos de execução associados”, em relatório divulgado antes da teleconferência da companhia sobre o anúncio, realizada na manhã de hoje.

Com isso, os analistas citaram que a classificação neutra para as ações da companhia e preços-alvo para 12 meses de R$ 21,90 e US$16,40, considerando uma meta média ponderada de 2022E EV/ EBITDA de 8,1 vez.

“Os principais riscos para nossa visão incluem níveis de atividade econômica mais altos ou mais baixos do que o esperado, preços locais do Brent mais altos, mudanças maiores do que o esperado na produção, risco cambial, intervenção governamental em preços de gasolina e diesel”, disseram Bruno Amorim e João Frizo, do GS.

A Guide Investimentos avalia como positivo o impacto do anúncio às ações, devido à diversificação dos negócios da companhia, em função do seu histórico positivo de alocação de capital e retorno aos acionistas, alémda posição favorável do Brasil para operações de minério de ferro, principalmente no Pará, onda a Vale já atua.

“Vemos o mercado positivo para os próximos anos com a expansão de crescimento da China e expansão da produção de aço. O grupo possui uma expertise no segmento logístico, sendo essencial para o escoamento da commodity, e conta com um parceiro que já possui uma atuação consolidada no segmento de mineração”, comentou o analista Luis Sales, da Guide.

Em comentário preliminar, a Ativa Investimentos se mostrou reticente com a entrada da companhia em um setor emissor de carbono e de natureza extremamente cíclica, ainda que a iniciativa possa trazer sinergias interessantes à operação da companhia sobretudo por possivelmente envolver a compra de um terminal logístico e fornecer uma interação com a operação de Rumo. “Diante de mais informações, voltaremos a nos posicionar sobre o tema”, comentou, em nota.