São Paulo – A Bolsa segue em terreno negativo expressivo em dia de aversão ao risco aqui e no exterior com os investidores temerosos em relação à crise política e institucional no País após os discursos antidemocráticos do presidente Jair Bolsonaro nas manifestações da véspera em Brasília e São Paulo, desafiando o Supremo Tribunal Federal (STF) e atacando o ministro da Corte, Alexandre de Moraes.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em queda de 2,62%, aos 114.773,23 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 16,5 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2021 apresentava recuo de 2,58%, aos 115.305 pontos.
O mercado aguarda o pronunciamento do presidente do STF, Luiz Fux, na tarde de hoje, sobre os comentários de Bolsonaro e declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Lá fora, a propagação da variante Delta segue no radar dos investidores.
Thiago Loiola, sócio-diretor do Prosperidade Investimentos, comentou que os conflitos internos e a queda dos mercados internacionais favorecem o mau humor na B3. “Hoje é um dia de risk off onde todas as bolsas do mundo estão realizando e no Brasil não seria diferente com esse cenário desafiador “.
Loiola não acredita que houve mudanças na postura do presidente Jair Bolsonaro em relação aos últimos dias sobre as críticas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes. “A preocupação seria se os comentários fossem mais conflituosos e hostis. Para o mercado financeiro a novidade seria se ele fosse mais direto em suas ações”.
O sócio-diretor do Prosperidade Investimentos disse que as reformas seguem no radar do mercado. “O que faz preço é a votação dos próximos dias no Congresso”. Mas ressaltou que o investidor mantém cautela. “O investidor estrangeiro está perdendo confiança em tudo que temos de fazer aqui no Brasil para colocar a economia nos trilhos e começa a vender pesado suas posições”.
O presidente do STF fará um “discurso mais brando” na sessão de hoje na Corte e Loiola não enxerga uma possibilidade de impeachment para o presidente Jair Bolsonaro.
Para Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, as manifestações de ontem não devem ser desprezadas devido à magnitude e proporção, mostrando força do presidente Jair Bolsonaro. “O presidente tem apoio popular, ao contrário do que mostram as pesquisas, e revela que as eleições do ano que vem devem continuar bastante acirradas, polarizadas e o clima em Brasília deve permanecer com a temperatura mais alta. Se o mercado acredita na possibilidade de interferência no andamento da agenda de reformas, seria uma interpretação negativa. Se o mercado tem receio do retorno da oposição, isso pode ter diminuído um pouco”.
Villegas observou que o clima ruim entre os três poderes deve ser mantido. “A expectativa para o mercado não é de dias melhores e deve continuar a pressão para os ativos de risco com a crise institucional e pauta trancada no Senado”.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos, comentou que as manifestações de ontem não foram vistas de forma positiva para o mercado financeiro, apesar de não ter tido violência e sem muita adesão da política militar. “Após os atos, a sensação de que não vai haver golpe, mas o mercado não vê as manifestações como positivas com a elevação do tom nos discursos do Bolsonaro, com ataques ao SFT, eleições”.
O gestor da Galapagos não acredita em um impeachment, apesar de os partidos se manifestarem a favor. “Todas as ilações de impeachment acabam travando as pautas no Congresso e isso é negativo porque as reformas não serão aprovadas e tudo fica parado até as eleições”.
O economista Álvaro Bandeira comentou em suas redes sociais sobre os atos de ontem que continuam refletindo no mercado e espera-se a avaliação do STF, do Legislativo e sociedade. “E agora José, a festa acabou e a noite esfriou (fazendo referência ao poema de Carlos Drummond de Andrade). Passamos o 7 de Setembro e os problemas seguem avolumando e sem solução, e tudo bem mais difícil no ambiente institucional e nos mercados”.
Com reflexo das falas do presidente Jair Bolsonaro nas manifestações do Dia da Independência, o dólar opera em forte alta. Por mais que não as manifestações tenham sido pacíficas, o teor do discurso do chefe do executivo reativou a tensão entre os poderes.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 1,87%, sendo negociado a R$ 5,2730 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2021 apresentava avanço de 1,97%, cotado a R$ 5,289.
Segundo o head de análise macroeconômica da Green Bay Investimentos, Flávio Serrano, “a dinâmica do mercado reflete a situação de ontem, e isso deve reforçar a a tensão política nos próximos meses”.
Serrano vê um cenário interno desfavorável: “A bolsa está sofrendo mais e o dólar segue subindo forte. Os ruídos político e fiscal refletem diretamente na moeda. O câmbio poderia estar abaixo dos R$ 5,00”, pontua.
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, “é difícil separar o que é crise aqui e o que são questões externas. Provavelmente o real vai perder”. Perfeito também ressalta que o dólar deve se valorizar ante à maioria das moedas emergentes.
Bolsonaro criticou novamente, nesta terça-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, alegando que não cumprirá “qualquer decisão” proferida pelo ministro, aumentando a tensão política doméstica.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) ainda operam em forte alta por pressão do avanço do dólar comercial diante das declarações do presidente Jair Bolsonaro nas manifestações de ontem. A cautela segue e os investidores aguardam as falar do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e de Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda não se sabe se Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, irá se pronunciar.
Por volta das 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 6,925%, de 6,875% no ajuste de segunda-feira; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,725%, de 8,635%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,940%, de 9,80% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,41%, de 10,27%, na mesma comparação.