Bolsa fecha em queda por preocupação com economia global

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São Paulo – A Bolsa operou todo o pregão no negativo e fechou em baixa de 0,96%, aos 115.062,54 pontos, destoando do bom humor das bolsas norte-americanas em um dia de vencimento de opções sobre o índice e com os investidores repercutindo falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, preocupados com o cenário o fiscal no País e receosos com o impacto que a China pode causar nas economias globais, após os dados fracos das vendas no varejo e produção industrial.
Nem mesmo o resultado melhor que o esperado do índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) — subiu 0,60% em julho na comparação com junho — impulsionou o Ibovespa.
Em um evento mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que pedia auxílio do Legislativo e do Judiciário para resolver a questão do orçamento de 2022 adiando o pagamento dos precatórios. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, disse que poderá analisar o caso. Os investidores também observam a fala de Guedes da véspera sobre a possibilidade de um novo auxílio emergencial, caso não seja aprovado o Imposto de Renda (IR).
Rodrigo Santin, CIO da Legend, comentou que os dados mais fracos da China “estão pesando hoje na Bolsa” e o mercado está praticamente “ignorando o IBC-Br que veio melhor que o esperado”.
Santin acrescentou que esses indicadores chineses acabaram refletindo no minério e, consequentemente, nas ações da Vale (VALE3), que caíram 2,49%. A queda da Vale (VALE3) também contribui com o movimento negativo da Bolsa, já que os papéis representam 14,47% da carteira teórica. Em contrapartida, os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) tiveram um dia de recuperação e fecharam em alta de 1,08% e 1,73%, respectivamente.
Santin também comentou que as revisões para baixo do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022 feitas na véspera e hoje por algumas casas de análise “têm contribuído para a performance ruim no pregão de hoje”. Na véspera, o Itaú reduziu a estimativa do Produto Interno Produto (PIB) para 2022, de 1,5% para 0,50% e para este ano a projeção de crescimento passou de 5,7% para 5,3%.
Para Leonardo de Santana, analista da Top Gain, os indicadores ruins da China “reforçam a preocupação dos investidores com a economia global e o mercado local é impactado negativamente”, enfatizou.
O analista da Top Gain também salientou que, apesar do aceno positivo do presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, “os riscos fiscais e institucionais ainda estão no radar do nosso mercado”.
O Itaú BBA revisou sua projeção para o Ibovespa no final deste ano, de 152 mil pontos para 120 mil pontos, devido à piora do cenário macroeconômico no Brasil e as previsões para a taxa de juros básica (Selic) e Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Para Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, a China mostrou mais uma rodada de indicadores ruins, como vendas no varejo-importante para o crescimento da economia o país. “Se esses dados continuarem saindo fracos e sem uma sinalização de ajuda do governo chinês, esse movimento pode contaminar outros mercados”.
Na China, as vendas no varejo subiram 2,5% em agosto e mercado previa alta de 6,3% e a produção industrial cresceu 5,3% em agosto, ante estimativa de alta de 5,8%.
O dólar comercial fechou em R$ 5,2360, caindo 0,41%. Em uma sessão marcada por leves alternâncias, o câmbio foi impactado pelas incertezas do cenário fiscal doméstico. Já no âmbito global, os números decepcionantes do varejo chinês e índices tímidos nos Estados Unidos, enfraqueceram a moeda norte-americana.
Para a equipe de análise da Ouro Preto Investimentos, “a incerteza fiscal continua alta, principalmente com os precatórios e o bolsa família. É difícil acreditar que a responsabilidade fiscal é a prioridade, mas sim as eleições de 2022”. A empresa acredita que o mercado teme medidas populistas rompam o teto fiscal.
No cenário global, os olhos continuam voltados para Estados Unidos e China: “Os dados americanos mostram que a inflação continua, além do último payroll (principal indicador do nível de empregos nos EUA) ter sido muito decepcionante. É muito difícil que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) injete liquidez por muito mais tempo”, pontua a Ouro Preto.
Para a instituição, porém, até o início do tapering (remoção de estímulos) – que deve acontecer até o final deste ano – os índices estadunidenses devem melhorar.
Já na China, os dados sobre o desempenho do varejo chinês em agosto (+2,5%), na comparação com mesmo período do ano passado, decepcionaram o mercado, que esperava um aumento de 6,3%: “É um sinal de alerta, pois a China é o principal parceiro comercial do Brasil”, pontua a Ouro Preto.
De acordo com o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, “o lado político não tem dado um alívio para reaquecer a economia”.
Por outro lado, Galhardo vê condições favoráveis para o reaquecimento econômico: “Os dados da economia têm sido bons, como no caso do varejo. Existe a possibilidade de entrar no trilho mais rápido do que imaginamos”, analisa o gerente.
Segundo boletim da Ajax Capital, “o ambiente externo pode pressionar a performance dos ativos locais”. Já no âmbito doméstico, as atenções se voltam para as pautas políticas e a divulgação do Indice de Atividade Econômica (IBC-Br), que foi positiva.
As declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, feitas ontem, ainda repercutem no mercado, que esperava um aumento entre 125 e 150 pontos na taxa básica de juros (Selic), o que foi praticamente descartado pelo executivo, indicando uma elevação de 100 pontos.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) aceleraram o movimento de alta na tarde de hoje. Maios parte dessa alta é justificada preocupação com a economia global, depois que a China apresentou dados de desaceleração econômica e com Estados Unidos e Brasil apresentando dados mistos.
Segundo analistas de mercados, além da preocupação com a economia global, está sendo precificada a indicação clara de que a Selic (taxa básica de juros) subirá 1 ponto percentual (pp) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), feita ontem pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tranquilizou os investidores.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,025%, de 7,01% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,94%, de 8,86%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,13%, de 10,04% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,55%, de 10,46%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo com o otimismo renovado dos investidores após dados industriais melhores do que o esperado.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,68%, 34.814,39 pontos
Nasdaq Composto: +0,82%, 15.161,5 pontos
S&P 500: +0,84%, 4.480,70 pontos