Programa social de gás é resposta política da Petrobras após pressões e traz ruídos

Estatal anunciou que destinará R$ 300 mi para subsidiar gás de cozinha a famílias de baixa renda após escalada de preços, o que voltou a trazer incertezas sobre eventual interferência do governo

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São Paulo – O programa social anunciado ontem (29) pela Petrobras para subsidiar gás de cozinha para famílias de baixa renda – que receberá recursos de R$ 300 milhões por 15 meses – é uma resposta política para tentar reduzir as pressões que a estatal vem sofrendo pelos preços elevados do gás e de combustíveis e traz desconfiança entre investidores. Porém, pelo menos por enquanto, não está sendo visto pelo mercado como um sinal de nova interferência direta do governo na companhia ou de mudança da atual política de preços de combustíveis, avaliam analistas.
De acordo com especialistas ouvidos pela Agência CMA, o valor do programa não é significativo para a estatal, mas também não é a melhor alternativa, sendo que a disparada de preços de combustíveis deve continuar no foco e sendo discutida pelo Congresso.
“Financeiramente, R$ 300 milhões parece um valor baixo para o tamanho da Petrobras, mas há um sinal ruim porque parece que a empresa cedeu à pressão do governo e existe uma sinalização para novas políticas sociais. O mercado hoje está tentando entender o quanto isso representa para futuros programas e para o governo. Espero que não tomem esse caminho”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.
Para Chinchila, o governo precisa pensar a longo prazo sobre a questão dos preços de combustíveis e em possíveis mudanças estruturais, mas ainda há incertezas sobre as decisões que podem ser tomadas.
O analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, também aponta o cunho político do programa social anunciado, que acredita que é uma forma de amenizar a pressão que a empresa está sofrendo pela cúpula do Congresso por causa da escalada de preços. Porém, não vê como ingerência do governo.
“O presidente da Petrobras segue defendendo a manutenção da paridade internacional de preços e espera que uma solução seja encontrada por parte da ala do governo, seja na redução de impostos ou na utilização de recursos de fundos setoriais que já existem no setor energético”, disse.
Na última segunda-feira (27), o presidente da petrolífera, Joaquim Silva e Luna, reiterou, em coletiva de imprensa convocada de última hora, que não há ou haverá alterações na formação do preço pela Petrobras, que seguirá levando em conta a paridade com preços internacionais do petróleo. Esta semana, a estatal também anunciou um novo aumento do preço do diesel nas refinarias, que subiu 8,90%, para R$ 3,06 o litro, a partir de ontem.
Em meio ao novo aumento, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, voltou a criticar a subida dos preços altos e propôs um maior debate sobre a questão.
Ontem, disse que é preciso “discutir sem prejuízo para os estados e rever como e onde a Petrobras está acertando ou errando”. Segundo Lira, além da mudança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), fixando um valor único sobre o preço, também é estudada a possibilidade de criação de um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis, mas sem mexer na política de preços da Petrobras.
EFICÁCIA E DEMANDA ESG
A equipe da Ativa Investimentos, por sua vez, além de afirmar que o programa social traz à tona novamente possíveis riscos de interferência na estatal, critica a sua possível efetividade e levanta outro ponto que considera importante, que é a necessidade de a Petrobras se adequar a critérios ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa, em português).
“A medida não resolve a acessibilidade dos mais frágeis ao produto, muito menos endereça a pegada ESG que a companhia precisa reforçar para estar aderente às novas demandas de sua indústria. Em suma, acreditamos que o endereçamento da questão subsídios ao gás poderia ser atendido indiretamente pela companhia via distribuição de proventos ao seu controlador, que teria a missão de executar tal política”, disseram, em relatório. Por isso, os analistas mantém a recomendação neutro para o papel da Petrobras.
Já o analista da Guide Investimentos, Luis Sales, avalia que “é necessário ter detalhes do plano para se mensurar mais precisamente os possíveis impactos para a companhia”.
No comunicado divulgado ontem, a Petrobras disse que o modelo do programa está em fase final de estudos, incluindo a definição do critério de escolha das famílias que serão escolhidas, além de afirmar que busca parceiros para ampliar o valor a ser investido, com a possibilidade de criação de um fundo que permita que outras empresas venham aderir ao projeto.