São Paulo – A Bolsa opera em queda e, no pior momento chegou a cair mais de 2%, em um dia de pessimismo aqui e no exterior com os investidores preocupados com a escalada de inflação mundial, crise energética com os altos preços de energia, e a proximidade de redução dos estímulos na economia de vários países pelos bancos centrais, principalmente dos Estados Unidos e aumento de juros antes do esperado na maior economia do mundo.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 1,62%, aos 108.658,00 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 17,4 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2021 apresentava recuo de 1,45%, aos 108.680 pontos.
Somado a isso, por aqui os dados econômicos saindo piores que a estimativa do mercado e as preocupações em torno do risco fiscal deixam os investidores receosos. O mercado acompanha a discussão entre Congresso e governo sobre um auxílio temporário emergencial para garantir o “vale gás”.
Para Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, a Bolsa tem mais um dia negativo acompanhando o mau humor no exterior com o receio da pressão inflacionária, crise energética e a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos norteando o mercado. “O mercado tenta identificar qual será o timing para a elevação dos juros norte-americanos e para isso é muito importante acompanhar os dados econômicos”.
Na sexta-feira sai o relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) e hoje foi divulgada uma prévia do payroll com o bom resultado da ADP. “É curioso que o dado é mais positivo, mas para o mercado pode ser negativo, no curto prazo, porque aponta que a atividade econômica vindo mais forte existe a antecipação de tapering [retirada dos estímulos]”.
O sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos disse que em relação ao cenário local, o mercado está sempre preocupado “com o estouro do teto de gastos por aqui e isso depende muito da nossa política”. Mas salientou que existe essa atenção com o teto da dívida nos Estados Unidos também. ” Hoje o presidente Joe Biden deve convocar líderes dos principais bancos para poder discutir o teto da dívida norte-americana”.
Em relação às ações negociadas na Bolsa, a grande maioria está em queda, mas Hashimoto chamou a atenção para alguns papéis de exportadoras que sobem. “As ações com impacto de receita dolarizada acabam sofrendo efeito reverso com a queda da Bolsa e se beneficiam com o dólar alto”, afirmou Hashimoto. Já os papéis do varejo e do mundo digital sofrem com “a expectativa de aumento de juro, encarece o custo do dinheiro e essas empresas são dependentes do capital direto”.
Além do cenário político, o econômico também deixa os investidores preocupados. Mais cedo foram divulgadas as vendas no varejo, que excluem veículos e material de construção, e decepcionaram os investidores. As vendas do comércio varejista baixaram 3,1% em agosto na comparação com julho, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado contrariou a previsão de alta de 0,5%, conforme a mediana calculada pelo Termômetro CMA. Na véspera a produção industrial já tinha apresentado piora.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, afirmou que a sessão de hoje deve ser negativa com pressão inflacionária assustando os investidores, fazendo com os juros dos títulos da dívida do Tesouro norte-americano subam e levando à realização das bolsas mundiais. “O mercado mostra preocupação com inflação, o preço do barril de petróleo subindo bastante e o preço gás natural não para de aumentar, gerando uma pressão inflacionária e um temor global com crise de energia no Brasil, na China e em outras partes do mundo.
O gestor Galapagos Capital destacou o desempenho das ações do setor financeiro. “No começo do ano os bancos digitais performaram bem e os tradicionais sofreram, mas agora a preocupação com crescimento e a inflação está fazendo com que esse fluxo reverta”. Silva também ressaltou os papéis da Petrobras que estão com bom desempenho nos últimos dias “com a não interferência do governo no preço dos combustíveis, mas existe um problema que deve durar por muito tempo- o preço do barril de petróleo está muito alto, o dólar não para de subir e a defasagem da gasolina está alta comparando com o exterior-. Tem de acompanhar o movimento e ver se a empresa vai reajustar o preço dos combustíveis.”
Para os analistas da Sul América Investimentos, o Ibovespa deve abrir em queda acompanhando os futuros norte-americanos em meio” às dificuldades de buscar reação”.
Os Estados Unidos abriram 568 mil vagas de empregos no setor privado em setembro, de acordo com o relatório da Automatic Data Processing (ADP). O resultado ficou melhor que o esperado pelo mercado.
Em um cenário global de aversão ao risco, o dólar segue em alta. O risco de uma disparada da inflação em diversos países, além da China, que dá demonstrações de uma economia claudicante, fortalecem a moeda norte-americana.
Por volta das 13h30, o dólar comercial subia 0,89%, cotado a R$ 5,5340 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em novembro de 2021 avançava 0,94%, cotado a R$ 5.553,00.
Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “existe um movimento global de fortalecimento do dólar. Nossa parcela de culpa, neste momento, é pequena”. O economista explica que o cenário mudou nos últimos 45 dias, e mesmo se a parte fiscal for resolvida o dólar não ficaria abaixo dos R$ 5,00, mas alerta: “Ainda tem espaço para piorar, caso não seja feito o dever de casa”.
Leal vê com preocupação o crescimento internacional da inflação, classificando-a como maior do que o esperado. Quanto à China, ele é enfático: “São várias questões levantadas, principalmente na construção civil. Isso afeta muito os emergentes e as perspectivas de fortalecimento do real”, projeta o economista.
De acordo com o head de renda variável da Valor Investimentos, Pedro Lang, “as vendas no varejo, muito abaixo do esperado, demonstram a fragilidade da nossa economia”. “Voltamos a falar de estagflação”, alerta. As vendas do varejo em agosto caíram 3,1% ante previsão de +0,5%.
Lang também destacou o avanço da inflação no velho continente: “A questão do gás na Europa reacende o medo da inflação. Isso pode não ser transitório, como achávamos”, pontua. Ele pontua que o estoque de gás no continente é o menor em muitos anos.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) seguem em queda, após o IGP-DI (Indice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), calculado pela FGV, recuar 0,55% em setembro, após -0,14% no mês anterior.
Por volta das 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,228%, de 7,244% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,120%, de 9,250%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,170%, de 10,270% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,600%, de 10,650%, na mesma comparação.