São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF), via Advocacia Geral da União (AGU), que aceita depor pessoalmente a respeito das acusações de que teria tentado interferir na Polícia Federal. Até então, o presidente vinha brigando na justiça para fazer o depoimento por escrito. O assunto se arrastava há mais de um ano.
O pedido de Bolsonaro para fazer o depoimento por escrito seria julgado hoje pelo STF, mas no início da sessão o ministro Alexandre de Melo disse ter recebido da AGU uma petição indicando que o presidente prestaria depoimento pessoalmente.
Segundo ele, a petição do advogado-geral da União, Bruno Bianco, “manifesta perante a Suprema Corte interesse em prestar depoimento em relação aos fatos mediante comparecimento pessoal” e “solicita somente que comparecimento, em virtude da agenda presidencial, possa ser anteriormente facultado que marque local, dia e horário”. Com isso, o STF adiou o julgamento a respeito do pedido de depoimento por escrito feito pelo presidente.
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse no ano passado, pouco antes de deixar o cargo, que que Bolsonaro teria feito pressão para fazer interferências políticas na Polícia Federal em benefício de sua família. Ele citou como evidência o vídeo de uma reunião de Bolsonaro com ministros em que o presidente teria feito menção a esta tentativa de interferência.
No vídeo, que foi tornado público em maio do ano passado, o presidente começa falando a respeito de como obtém informações importantes para o governo, e cita que o seu sistema particular de coleta de informações é mais eficaz que o oficial.
“O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinforma. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho. Então, pessoal, muitos vão poder sair do Brasil, mas não quero sair e ver a minha a irmã de Eldorado, outra de Cajati, o coitado do meu irmão capitão do Exército lá de Miracatu se foder, porra! Como é perseguido o tempo todo”, disse ele no vídeo.
“Aí a bosta da Folha de São Paulo diz que meu irmão foi expulso dum açougue em Registro, que tava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, tava em São Paulo esse dia. O dono do açougue falou que ele não tava lá. E fica por isso mesmo. Eu sei que é problema dele, né? Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família”, acrescentou.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, afirmou o presidente.
A segurança do presidente é feita por pessoas das Forças Armadas e de órgãos de segurança pública, como a Polícia Federal, as polícias militares e civil. O comentário de Bolsonaro, portanto, poderia ser dirigido tanto a Augusto Heleno, ministro-chefe do gabinete de Segurança Institucional, quanto a Moro, que era ministro da Justiça à época e portanto tinha a Polícia Federal sob sua responsabilidade.