Mercados fecham estáveis com preocupação por inflação global

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São Paulo – O Ibovespa fechou em leve alta de 0,09%, aos 110.559,57 pontos, seguindo o exterior, após passar toda sessão no negativo chegando a cair mais de 2% na primeira metade do pregão em um dia de forte aversão ao risco global com os investidores temerosos à pressão inflacionária, crise energética e a iminência de redução dos estímulos pelos bancos centrais, principalmente os Estados Unidos.
A melhora nos negócios da B3 deveu-se à recuperação em Nova York após o presidente Joe Biden se reunir com líderes de bancos dos Estados Unidos para discutir sobre o pacote trilionário de infraestrutura e o teto da dívida do país.
O analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, afirmou que essa tentativa de recuperação da Bolsa é atribuída ao acordo entre Biden e líderes de bancos para encontrar uma solução para o teto de gastos da dívida do país, para isso “Biden está propenso a aceitar a redução do pacote de infraestrutura de US$ 3,5 trilhões, que ficaria entre US$ 1,800 trilhão a US$ 2,300 trilhões e o mercado se tranquiliza”.
O analista da Codepe comentou que “muitos investidores estão procurando por pechinchas, como Lojas Americanas (LAME4) e Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3)”. Todas as ações subiram no pregão de hoje.
Para Lucas Cintra, especialista e sócio da Valor Investimentos, “alguns ruídos por aqui ainda influenciam o mercado, principalmente as discussões em torno da offshore envolvendo o ministro Paulo Guedes”. Próximo ao fechamento, a Câmara aprovou a convocação do ministro da Economia para explicar sobre as empresas que têm em seu nome no exterior.
Mais cedo, os dados de indicadores econômicos piores -vendas no varejo-recuaram 3,1% em agosto ante julho e a estimativa era de alta de 0,5%- e produção industrial divulgada ontem-caiu 0,7% em agosto- ficaram no radar dos agentes financeiros.
Para Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, a Bolsa tem mais um dia negativo acompanhando o mau humor no exterior com o receio da pressão inflacionária, crise energética e a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos norteando o mercado. “O mercado tenta identificar qual será o timing para a elevação dos juros norte-americanos e para isso é muito importante acompanhar os dados econômicos”.
Noss Estados Unidos, o relatório da Automatic Data Processing (ADP)- prévia do payroll-, mostrou a abertura de 568 mil vagas de empregos no setor privado em setembro, resultado ficou melhor que o esperado pelo mercado. “É curioso que o dado é mais positivo, mas para o mercado pode ser negativo, no curto prazo, porque aponta que a atividade econômica vindo mais forte existe a antecipação de tapering [retirada dos estímulos]”, apontou Hashimoto.
O sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos disse que em relação ao cenário local, o mercado está sempre preocupado “com o estouro do teto de gastos por aqui e isso depende muito da nossa política”. Mas salientou que existe essa atenção com o teto da dívida nos Estados Unidos também. ” Hoje o presidente Joe Biden deve convocar líderes dos principais bancos para poder discutir o teto da dívida norte-americana”.
Em relação às ações negociadas na Bolsa, a grande maioria está em queda, mas Hashimoto chamou a atenção para alguns papéis de exportadoras que sobem. “As ações com impacto de receita dolarizada acabam sofrendo efeito reverso com a queda da Bolsa e se beneficiam com o dólar alto”, afirmou Hashimoto. Já os papéis do varejo e do mundo digital sofrem com “a
expectativa de aumento de juro, encarece o custo do dinheiro e essas empresas são dependentes do capital direto”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,4860, com alta de 0,01%. Em um cenário global de aversão ao risco, a moeda norte-americana chegou a operar em R$ 5,5380. As preocupações com China e Estados Unidos, além de uma escalada mundial da inflação, continuam no radar.
Segundo a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “existe uma expectativa de retirada de estímulos da economia, nos Estados Unidos, e o receio que eles antecipem o aumento dos juros, o que afeta diretamente as moedas emergentes”. A economista também menciona preocupação com a revisão para baixo dos crescimentos de China e Estados Unidos.
No cenário doméstico, Quartaroli vê diversos entraves: “A inflação ainda não acabou, com os aumentos constantes devido à crise hídrica e alta do dólar. Os resultados também não ajudam, mesmo sendo de ‘retrovisor’, pois isso reforça a revisão para baixo do PIB”, referindo-se às vendas do varejo que caíram em agosto.
Quanto às reformas estruturais, Quartaroli vê como algo cada vez mais difícil de ser aprovado: “Falta coordenação política no congresso”. Ela também teme medidas populistas do governo, como a ampliação de programas sociais, que tornem a situação fiscal ainda mais frágil.
Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “existe um movimento global de fortalecimento do dólar. Nossa parcela de culpa, neste momento, é pequena”. O economista explica que o cenário mudou nos últimos 45 dias, e mesmo se a parte fiscal for resolvida o dólar não ficaria abaixo dos R$ 5,00, mas alerta: “Ainda tem espaço para piorar, caso não seja feito o dever de casa”.
Leal vê com preocupação o crescimento internacional da inflação, classificando-a como maior do que o esperado. Quanto à China, ele é enfático: “São várias questões levantadas, principalmente na construção civil. Isso afeta muito os emergentes e as perspectivas de fortalecimento do real”, projeta o economista.
De acordo com o head de renda variável da Valor Investimentos, Pedro Lang, “as vendas no varejo, muito abaixo do esperado, demonstram a fragilidade da nossa economia”. “Voltamos a falar de estagflação”, alerta. As vendas do varejo em agosto caíram 3,1% ante previsão de +0,5%.
Lang também destacou o avanço da inflação no velho continente: “A questão do gás na Europa reacende o medo da inflação. Isso pode não ser transitório, como achávamos”, pontua. Ele pontua que o estoque de gás no continente é o menor em muitos anos.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em queda, após o IGP-DI (Indice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), calculado pela FGV, recuar 0,55% em setembro, após -0,14% no mês anterior.
Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,226%, de 7,244% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,065%, de 9,250%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,100%, de 10,270% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,500%, de 10,650%, na mesma comparação.
Após as perdas do início do dia, os principais índices do mercado de ações norte-americano se recuperaram e fecharam o dia em alta em meio aos sinais de um acordo sobre o aumento ou suspensão do teto da dívida dos Estados Unidos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,30%, 34.416,99 pontos
Nasdaq Composto: +0,47%, 14.501,90 pontos
S&P 500: +0,41%, 4.363,55 pontos