Bolsa sobe com emprego nos EUA e inflação no Brasil

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta de 2,03%, aos 112.833,20 pontos, descolada dos índices em Nova York em um dia de apetite ao risco com os investidores mais animados em relação aos dados de inflação de setembro por aqui -abaixo das estimativas do mercado- e a probabilidade de uma pressão menor sobre a taxa de juros básica do país (Selic). Apesar de melhor, a inflação ainda é alta. Muitos analistas acreditam que ela possa ter atingido seu pico.
Somado a isso, o relatório de empregos nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês)- considerado um dos dados mais importantes para entender a economia norte-americana- mais fraco contribuiu para que os alguns analistas enxergassem a possibilidade do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) decidir sobre a retirada de estímulos em novembro.
Segundo Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, o Ibovespa negocia em forte alta e se descola do exterior puxado pelo IPCA mais favorável e payroll mais fraco. “Por um lado, o resultado do payroll é ruim com menos criação de empregos, mas por outro diminui a expectativa de inflação mais alta lá fora e consequentemente uma alta de juros antes do esperado”.
Outro ponto de atenção no mercado, de acordo com Oliveira, é o reajuste no preço da gasolina e gás de cozinha pela Petrobras, a partir de amanhã (9).
“As ações da estatal contribuem para a alta do índice e o setor de mineração também está forte hoje ajudando na performance do Ibovespa”. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 2,02% e 1,81%.
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o motivo do humor imperar na Bolsa deve-se ao payroll e o IPCA saírem abaixo das expectativas dos analistas e os resultados acabaram animando o mercado. “O payroll pode sinalizar uma fraqueza da economia e confirma a expectativa do mercado de que o Fed [Federal Reserve, banco central norte-americano] tem informações suficientes para iniciar o tapering [retirada de estímulos] em novembro como já era esperado”.
Mas Komura ressaltou que é necessário cautela porque a economia nos Estados Unidos não está em recuperação firme. “Isso pode calibrar qual vai ser o ritmo na redução da compra de ativos. Se o Fed fizer com moderação e com bastante parcimônia, o impacto no mercado pode ser reduzido e uma expectativa ancorada”.
Em relação ao cenário local, o analista da Ouro Preto Investimentos comentou que existe uma pressão inflacionária, mas o resultado do IPCA foi uma surpresa positiva para o mercado “já que a inflação está começando a desacelerar e a pressão pela elevação da Selic [taxa de juros básica do País] seja um pouco menor”, destacou. Muitos analistas estão revisando a Selic para acima de 9% ao ano (aa).
Com uma inflação mais controlada para 2022 e 2023, “pode reduzir a expectativa da Selic terminal, uma vez que se sabe que o ritmo da elevação da taxa de juros é de 1 ponto porcentual (pp) por reunião [do Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC)].  A inflação desacelerando um pouco beneficia as empresas do varejo- que registram alta expressiva na sessão de hoje-que são bastante sensíveis à inflação e taxa de juros. Entre as ações mais altas do Ibovespa, Cielo (CIEL3) subiram 14,28% e Magazine Luiza (MGLU3) aumentaram 6,69%.
No pregão de hoje, o mercado está deixando de lado todas as incertezas em relação ao fiscal, “que continuam latentes”, afirmou
Por aqui, o Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,16% em setembro em comparação com agosto e o mercado previa alta de 1,25%.  “O resultado surpreendeu o mercado para baixo, o que em inflação é positivo.
Ainda é muito cedo para ser taxativo em uma melhora da dinâmica inflacionária”, disse Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos. E nos Estados Unidos, o payroll apontou a criação de 194 mil empregos em setembro.
O mercado esperava abertura de 500 mil de vagas e a taxa de desemprego baixou para 4,8%, de 5,2% em agosto.” Esse dado mostra que o Fed pode adiar a redução dos estímulos”, disse uma fonte que não quis se identificar.
O dólar comercial fechou em R$ 5,5160, com alta de 0,01%. A moeda norte-americana foi fortemente pressionada pelos resultados ruins do payroll, um dos principais índices que medem o emprego nos Estados Unidos. Embora pouco provável, isso abre espaço para a especulação de adiamento do tapering (remoção de estímulos), previsto para ser anunciado em novembro.
Para o CEO da Top Gain, Alison Correia, “o payroll foi ruim, mas nossos mercados reagiram bem. Pode ser que o tapering não comece agora, e que a economia americana esteja menos aquecida do que imaginávamos”.
O executivo avalia, porém, que o câmbio está descolado da bolsa: “O dólar tem uma dificuldade enorme em se corrigir, mesmo com o swap cambial, feito pelo Banco Central, está muito difícil”, avalia Correia.
Embora o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro tenha sido o pior para este mês desde 1994 (+1,16), a alta ficou abaixo dos 1,25% projetados pelo mercado: “Internamente a situação continua igual, mas o IPCA veio abaixo do esperado, e isso é mais um motivo para animar o mercado”, dia Correia animado.
De acordo com o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “o payroll abaixo do esperado enfraquece o dólar”. O resultado, na visão do economista, em nada altera o anúncio da retirada dos estímulos, que deve ocorrer na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em novembro.
Rosa acredita que o cenário doméstico está menos ruidoso nos últimos dias: “O ambiente político está mais tranquilo, sem nada que preocupasse os investidores. Estão tentando resolver e votar a questão dos precatórios”, pontua.
Segundo o boletim matinal da Correparti, “os mercados acionários ao redor do globo exibem um viés levemente negativo, com investidores entrando no modo cautela, no aguardo da publicação do relatório de empregos dos Estados Unidos, o payroll”.
Esta expectativa também é refletida no mercado doméstico: “o dólar comercial deve abrir de estável para leve viés de queda, mas o payroll é que deve definir a tendência da moeda americana para o restante da sessão, e caso o indicador venha forte, pode confirmar o início da retirada dos estímulos americanos já em novembro”, projeta a Correparti.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam a sessão em queda acentuada, após IPCA avançar 1,16% em setembro, maior resultado para o mês desde 1994 (+1,53%), mas ainda abaixo da expectativa do mercado (+1,25%). Além disso, o payroll norte-americano, bastante abaixo do previsto, também impacta a nossa curva de juros nesta sexta-feira (8)
Às 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 7,234%, de 7,256% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetou taxa de 9,010%, de 9,190%; o DI para janeiro de 2025 foi a 9,990%, de 10,200% antes e o DI para janeiro de 2027 fechou a sessão com taxa de 10,430%, de 10,620%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em baixa, depois dos dados mais fracos do que o esperado de emprego em setembro nos Estados Unidos. No entanto, as bolsas conseguiram encerrar com ganhos uma semana marcada pela volatilidade.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,03%, 34.746,25 pontos
Nasdaq Composto: -0,51%, 14.579,50 pontos
S&P 500: -0,19%, 4.391,34 pontos