Ação do Pão de Açúcar dispara e do Assaí cai após acordo sobre hipermercados; veja os motivos

Para analistas, a operação foi mais vantajosa para o Pão de Açúcar, sendo que a transação não passou pelo crivo de acionistas minoritários das empresas

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São Paulo – As ações do Pão de Açúcar já abriram em forte alta após a empresa anunciar um acordo com o Assaí no valor de R$ 5,2 bilhões para a conversão de 71 lojas Extra Hiper. Analistas avaliaram que a operação é mais positiva para o Pão de Açúcar, que conseguiu um bom valor pelos hipermercados. Já para o Assaí, embora vejam benefícios para a sua expansão, veem o valor como menos vantajoso, além de ressaltarem que há um incômodo em função da operação ter sido considerada uma transação entre partes relacionadas, ou seja, não passou pela aprovação dos acionistas minoritários de ambas as empresas.
Às 12h26 (horário de Brasília), os papéis da rede de supermercados (PCAR3) tinham alta de 14,66%, a R$ 31,76, depois de chegarem a subir mais de 16% há pouco, na maior alta do Ibovespa. As ações do Assaí (ASAI3), por sua vez, reagem de maneira oposta e caem 5,26%, a R$ 16,92, na maior queda do Ibovespa.
O Pão de Açúcar afirmou que o acordo será uma oportunidade única para focar nas bandeiras mais promissoras e rentáveis no Brasil. Já o Assaí, disse que projeta chegar a 300 lojas em 2023 com a conversão e que o acordo pode gerar um potencial de R$ 25 bilhões de receita bruta das lojas convertidas na maturidade e até R$ 100 bilhões de receita bruta até 2024.
O presidente do Assaí, Belmiro Gomes, criticou a reação do mercado financeiro hoje. Na avaliação do executivo, o mercado “atira primeiro para entender depois”, mas vai entender que a operação é muito benéfica para a companhia e agrega valor.
Os analistas do Itaú BBA se mostraram “profundamente incomodados com o fato de que os acionistas minoritários não estão participando do fechamento desta transação”, e destacaram que o Assaí está pagando a maior valuation por loja (mais de R$ 100 milhões cada, após capex de transformação).
“Não vemos alternativa a não ser rebaixar as ações do ASAI3 para ‘market perform’ [equivalente a desempenho do mercado ou manutenção] até que o mercado digira a transação e fique mais confortável e as condições do negócio”, afirmaram em relatório divulgado nesta manhã.
Já para o Pão de Açúcar, avaliam que foi um bom negócio, já que está vendendo esses ativos por múltiplos muito mais altos do que seus níveis de negociação atuais e, portanto, “encontrou uma maneira financeiramente atraente de sair do negócio de hipermercados”.
O Goldman Sachs concorda que, para o Pão de Açúcar, foi uma boa maneira de monetizar ativos e racionalizar o portfólio, uma vez que descontinua sua bandeira de hipermercado de baixo desempenho. Para o Assaí, por sua vez, afirma que o acordo aceleraria o plano de expansão e daria à empresa acesso a localizações imobiliárias diferenciadas, embora o custo implícito por loja esteja acima da média histórica do plano de expansão orgânica do Assaí.
Na mesma linha, o Bradesco BBI, disse que à primeira vista, a ótica parece desafiadora para os acionistas minoritários do Assaí, pois se trata de uma grande transação que ajuda mais o acionista controlador (o Grupo Pão de Açúcar), que está resolvendo uma longa dor de cabeça em relação ao que fazer com os hipermercados.
Porém, alega que, “olhando mais de perto, é difícil questionar o raciocínio estratégico da aquisição ou o preço pago” e que há benefícios, embora infelizmente não haja assembleia de acionistas e o negócio tenha sido aprovado apenas por membros independentes do conselho.
Para os analistas do BBI, a aquisição dá ao Assaí acesso a 71 pontos de venda bem localizados, sendo 63 em capitais e o restante em grandes cidades, que não seriam fáceis de abrir em uma base greenfield. “O Assai vai converter as lojas do conceito de hipermercado para o conceito de atacarejo, com meta de quase triplicar as vendas (para R$ 25 bilhões) e atingir margens acima da média (comum em lojas de atacarejo com localização central)”, disseram, em relatório.
Os analistas também afirmam que a conversão de lojas e a obtenção de um aumento significativo nas vendas têm precedentes no Brasil – o Assai já tinha pouco mais de 30 lojas quando ainda fazia parte do GPA, o Grupo BIG converteu os hipermercados do Walmart para sua bandeira Maxxi e mais recentemente o Carrefour assumiu 30 Makro de baixo desempenho lojas.
“Cada um desses exemplos foi bem-sucedido, com aumentos significativos nas vendas e lucratividade. Por isso, dizemos que é difícil contestar o racional estratégico da aquisição, ainda que a escala do plano – 71 lojas em dois anos – seja inédita e traga riscos evidentes”, afirmaram, em relatório. Para eles, o valores pagos por loja podem parecer caros quando se compara ao que o Carrefour pagou por 30 lojas Makro, por exemplo, mas, é difícil julgar a qualidade dos locais para fazer uma comparação semelhante.
Já para o Pão de Açúcar, afirmam que foi “o negócio do século”, sendo uma excelente transação que resolve uma dor de cabeça de quase uma década em seu negócio de hipermercados. “Estimamos que o mercado estava atribuindo muito pouco – ou nenhum – valor ao negócio de hipermercados”, disseram.