PIB da China menor e temor ao fiscal levam à queda da Bolsa e alta do dólar

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda em um dia em que os investidores repercutiram o Produto Interno Bruto (PIB) da China pior que o esperado pelos analistas, temor à inflação no Brasil e global e as preocupações internas com a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial, reajuste do novo Bolsa Família pela inflação e a votação da prevista para amanhã da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios.
O principal índice da B3 caiu 0,19%, aos 114.428,18 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro baixou 0,18%, aos 115.335 pontos. O giro financeiro foi de R$ 29,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em sentido misto.
A economia chinesa cresceu 4,9% no terceiro trimestre, abaixo das expectativas dos analistas que previam uma alta 5,1%. Com esses dados, a Bolsa chegou a cair mais de 1,4% na primeira metade do pregão, depois passou a operar com volatilidade e perto do fechamento registrou queda.
As ações de destaque na Bolsa foram das Lojas Americanas (LAME3 e LAME4)-subiram 27,22% e 20,71% devido ao anúncio de reestruturação societária com as Americanas S.A. (AMER3) avançaram 4,32%. Com essa nova estruturação, vão ficar só as ações ordinárias para o novo mercado. Segundo o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, entre as ações ordinárias e preferenciais, existem 50 milhões de papéis alugados. “Parte dessa alta, provavelmente, pode estar relacionada com o fechamento de posições alugadas”.
Após a alta de mais de 12% nas ações do Pão de Açúcar (PCAR3) no pregão de sexta-feira (15) com o acordo com o Assaí no valor de R$ 5,2 bilhões para a transformação das lojas do Extra Hiper, hoje os papéis caíram mais de 6% porque os analistas esmiuçaram a operação do último pregão. “Muitos investidores observaram os prós e contras do acordo e devolveram parte dos ganhos”, afirmou o analista da Codepe Corretora..
Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos, a melhora do mercado norte-americano influencia a Bolsa na segunda metade do pregão “A expectativa de balanços positivos nos Estados Unidos ajudou o mercado lá fora e acabou refletindo por aqui”. Oliveira também comentou que “entraremos em uma temporada de resultados corporativos e a previsão é de que os números surpreendam para cima”.
O head de renda variável da Zahl Investimentos afirmou que o novo Bolsa Família é motivo de preocupação por parte dos investidores. “O programa social tem maior abrangência e será mais caro, o que desperta um pouco de temor do risco fiscal no Brasil”. Ele também comentou que o relatório Focus trouxe revisão para cima da inflação no Brasil- de 8,59% para 8,69%, medida pelo Indice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021; e a estimativa do PIB foi reduzida de 5,04% para 5,01% neste ano. Esses dados preocupam, ademais da inflação global, disse.
Para Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, os dados do PIB da China e da produção industrial nos Estados Unidos impactaram fortemente a nossa Bolsa. “O PIB da China é um número muito bom para muitas economias ao redor do mundo- US$ 14,7 trilhões em 2021 contra os US$ 20 trilhões dos EUA no mesmo ano, mas para a segunda maior economia global não é tão favorável”.
O head de renda variável da Diagrama Investimentos destacou a perda das ações da Vale e Petrobras. Os papéis da Vale (VALE3) caíram 0,94% e da Petrobras (PETR3 e PETR4) chegaram a cair e fecharam de forma mista, ambas têm forte peso no índice. “A queda da Vale é atribuída a baixa do minério de ferro-quase 3%- e à ordem judicial para a suspensão da mina Onça Puma, no Pará, o que pode ter deixado os investidores mais cautelosos”.
A Vale informou que esta ação da Justiça é improcedente e fará uma reversão. Mais cedo, os papéis da Petrobras caíram por conta da sinalização de uma greve dos caminhoneiros. “Eles devem pressionar para o controle nos preços dos combustíveis, mas não deve acontecer, no enquanto os investidores mantêm cautela.”
Leite também ressaltou que os investidores ficam preocupados com a possível saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, rumores que circularam no fim de semana. “Uma ala do governo tenta derrubar o ministro, e dependendo das próximas votações pode ter uma substituição na pasta, apesar de não ter alguém à altura de Guedes que deixa o mercado mais confortável”. O ministro já afirmou que não pede demissão.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, a Bolsa continua de forma errática- dia em que cai e outro que sobe- em pregões com boa performance do setor interno e outros do externo. “O investidor está bem indeciso e não sabe muito o que fazer com Brasil”.
Silva destacou que o mercado deve acompanhar o fiscal, principal fator para a melhora do Brasil. “Devemos observar se será votada a PEC dos precatórios esta semana e se será bom para o país”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,5200, com alta de 1,21%. A moeda sofreu foi fortemente pressionada pela desaceleração da economia chinesa e, em segundo plano, pelas incertezas fiscais domésticas.
Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “a China praticamente confirmou a perda de fôlego, com resultados abaixo do esperado. Isso nos impacta já que a China é a grande sustentadora das commodities”. O economista destacou que economias desenvolvidas começam a dar sinais de estagflação.
Rosa pontuou que por mais que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios deva ser aprovada amanhã na Câmara dos Deputados, “existe um quadro muito grande de desconfiança com o Auxílio Brasil, mesmo sabendo que dificilmente ele irá furar o teto fiscal”.
Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “existe uma preocupação mundial com a inflação, levando a um comportamento mais defensivo”. “Há um movimento de dólar forte no mundo todo”, pontua Serrano.
Por outro lado, as incertezas fiscais internas jogam contra a moeda brasileira: “O Banco Central (BC) tem atuado forte, agora é saber se ele irá continuar. O fiscal atrapalha demais o real”, analisa Serrano, que também cita a forte desvalorização dos pares do real.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta após o resultado inesperado do PIB da China, que veio abaixo do esperado, e incertezas quanto a permanência do ministro da Economia Paulo Guedes no Governo, reforma do IR e novo Bolsa Família.
Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,386%, de 7,348% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,365%, de 9,280%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,290%, de 10,200% antes e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,660%, de 10,580%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial com vencimento para novembro operava em alta, cotado a R$ 5,53 para venda.
No mercado de ações norte-americano, o S&P 500 e o Nasdaq fecharam a quarta sessão seguida em alta em meio a expectativa de fortes resultados trimestrais das empresas a serem divulgados nesta semana, enquanto o Dow Jones terminou o dia em baixa, sentindo a pressão das preocupações com a inflação, questões da cadeia de abastecimento e fornecimento de energia.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,10%, 35.258,61 pontos
Nasdaq Composto: +0,84%, 15.021,80 pontos
S&P 500: +0,33%, 4.486,46 pontos