Auxílio fora do teto de gastos faz Ibovespa cair 2,6% no início da tarde

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São Paulo – A confirmação do ministro da Economia de que o governo federal pretende introduzir um programa social que pagaria R$ 400 mensais aos beneficiários, mas que deve exigir até R$ 30 bilhões em despesas que ficariam fora do limite previsto no teto de gastos, mantém os investidores apreensivos com a trajetória da dívida pública e pesa sobre o Ibovespa, mas impulsiona dólar e taxas de juros.
“Temos que renovar o programa e não temos a fonte, então temos que criar um programa transitório. Em vez de programa permanente de R$ 300, acabamos fazendo um programa transitório de R$ 400”, disse Guedes ontem durante um evento. “Sendo transitório, dispensando esta fonte, podemos contar com próprio aumento de arrecadação” para financiar o benefício, disse Guedes.
“Agora tem problema de como viabiliza isso dentro do arcabouço fiscal. Ou se troca a periodicidade para sincronizar reajustes de salários de um lado com indexadores de teto de outro lado, ou outra possibilidade seria pedir crédito extraordinário de até R$ 30 bilhões. Isso é uma coisa que está a cargo da política”, acrescentou. A leitura do mercado é de que esta despesa deve aumentar quando o assunto chegar ao Congresso.
Rodrigo Marcatti, especialista e CEO da Veedha Investimentos, afirmou que “a perda do alicerce fiscal pode gerar mais gasto público, mais inflação levando a juros mais altos. Entramos em um ciclo já conhecido anteriormente”.
Marcatti comentou que o mercado apostava na equipe econômica e no ministro para segurar o ímpeto do governo e, “ontem, foi uma jogada de toalha, jogou o assunto para a política, tirou o time de campo como responsabilidade de conter esse aumento de furar o teto”.
Segundo ele, Guedes vem mudando o discurso em relação à ajuda à população mais vulnerável. “Não era comum ouvir essa retórica mostrando que está alinhado com o presidente, se vai furar o teto ou não é uma consequência do arranjo que vão tentar construir por meio dos precatórios”.
Hoje cedo, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que o novo auxílio será introduzido “com responsabilidade” e que “ninguém está furando o teto, não”, mas a declaração dele fez pouco para acalmar os mercados, que só ficaram mais avesso ao risco desde então.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, alerta para o que chama de ‘balão de ensaio’ – ou seja, uma informação propositadamente vazada a fim de verificar de antemão possíveis efeitos da medida. “Mesmo que autoridades venham falar a favor do teto de gastos, temos muitas incertezas. Infelizmente, muitas coisas aparecem como balão de ensaio”, diz. “A gente não pode se guiar apenas pela fala do Bolsonaro”, explica.
Veja como estava o mercado por volta das 13h30 (de Brasília):
IBOVESPA: 107.888 pontos (-2,61%)
DÓLAR À VISTA: R$ 5,6510 (+1,60%)
DÓLAR FUTURO (NOV): R$ 5.660,00 (+0,93%)
DI JAN 2022: 7,922% (+0,29 pp)
DI JAN 2023: 10,515% (+0,615 pp)
DI JAN 2025: 11,400% (+0,50 pp)