Fala de Guedes dá um alívio, mas Bolsa fecha em queda; dólar se recupera e cai

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda de 1,33% e na semana caiu 7,28%. O Ibovespa chegou a perder mais de 4% na primeira metade do pregão e bater a mínima no interdiário de 102.853,96 pontos, nível próximo a meados de novembro do ano passado-102.500 mil pontos com as incertezas fiscais e o receio da saída do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Hoje circularam rumores no mercado que o chefe da pasta deixaria o governo, após a debandada de sua equipe na véspera, o que levou o presidente Jair Bolsonaro ir ao Ministério para um encontro com Guedes.
A queda na Bolsa foi arrefecida com entrevista coletiva à imprensa do presidente da República e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro reiterou os R$ 400 de benefício e disse não haverá “nenhuma aventura na economia e tem plena confiança em Guedes”. E o ministro afirmou que “em nenhum momento pediu demissão”.
Guedes disse que estava trabalhando para deixar o novo Bolsa Família dentro do teto de gastos, e utilizar o Imposto de Renda como ponte. “Quanto mais perto da eleição, mais querem romper o teto e estamos de olho nesses limites, não é falta de compromisso”.
O principal índice da B3 caiu 1,33%, aos 106.296,18 pontos. A máxima no interdiário foi de 107.714,68 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,24%, aos 107.300 pontos. O giro financeiro foi de R$ 57,7 bilhões. Nos Estados Unidos, as bolsas fecharam mistas.
As empresas atreladas ao dólar foram beneficiadas, na sessão de hoje, como Suzano (SUZB3) subiu mais de 7%, Klabin (KLBN11) avançou mais de 7% e Vale (VALE3) aumentou 1,22%. As ações da Vale melhoraram a performance repercutindo as boas notícias da China com o pagamento de juros pela Evergrande. As ações das siderúrgicas também tiveram alta e em contrapartida, os papéis das empresas de varejo foram prejudicados.
Danielo Batara, sócio-fundador e head de mesa de operações da Delta Flow disse que o mercado estava perdido com todas essas incertezas, mas reforçou que “o que pesa para nós é comunicação do governo com o mercado e Guedes confirmou isso.
Batara comentou que Guedes está “colocando na conta as aprovações das reformas, mas não disse ainda de onde sairá o dinheiro para pagar o benefício. O ministro afirmou que se houver estouro no orçamento em R$ 30 bilhões não vai ser prejudicial, porque espera que as receitas sejam maiores.
O sócio-fundador e head de mesa de operações da Delta Flow disse que à principio deu um alívio no mercado, mas “os investidores ficarão atentos aos próximos passos.
Fernando Martin, especialista em ações da Levante Ideias Investimentos, afirmou que a Bolsa está acompanhando o movimento da véspera em um dia de forte aversão ao risco com as incertezas fiscais, os rumos da possível saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas principalmente sobre quem assumiria o cargo. “Quem com uma vertente liberal estaria disposto a pegar essa bomba. O mercado segue em compasso de espera com os desdobramentos desse cenário”.
Martin comentou que ele e o analista político da Levante ideias Investimentos, Felipe Berenguer, não acreditam na saída de Guedes e, se “o ministro tivesse deixado o cargo há uns meses atrás a queda na Bolsa seria muito significativa, acima dos 5%, mas agora a saída “teria um efeito marginal negativo, no entanto muita coisa parece estar precificada.”
Outro ponto de preocupação, segundo Martin, é que hoje é sexta-feira e ninguém quer ficar posicionado uma vez que em dois dias muitas notícias podem ser divulgadas.
Em relação ao teto de gastos, o especialista em ações da Levante Ideias Investimentos, disse que “o grande ponto do teto de gastos é que tem um peso emblemático do ponto de vista segurança institucional”. O especialista da Levante afirmou que para comportar o Auxílio Brasil não tinha como não romper o teto. “O valor de R$ 300 daria na ficar dentro do teto, mas R$ 400 é impossível”. O relator da Medida Provisória (MP) que cria o Auxílio Brasil, Marcelo Aro (PP-MG), disse que o valor deve ser revisto e o mercado teme por a pauta ser do Congresso.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em R$ 5,6250, com queda de 0,74%. Embora a sessão tenha sido marcada pelas diversas incertezas fiscais e políticas – como os rumores de demissão do ministro da Economia, Paulo Guedes -, a fala do presidente do Jair Bolsonaro que garantiu a permanência de Guedes, fez com que a moeda norte-americana perdesse força.
De acordo com o economista da Nova Futura, Nicolas Borsoi, “não é possível ter uma visibilidade do cenário neste momento. Todo mundo sabe que o governo rompeu o teto, por mais que exista um discurso político para amenizar a situação”. Borsoi ainda sublinha o caráter populista dos auxílios anunciados pelo governo.
Por mais que o presidente tenha garantido a permanência do ministro da economia, Borsoi é direto: “A visão do Paulo Guedes como fiador da economia ficou um pouco para trás, vide a dificuldade que ele enfrenta para encontrar um secretário do Tesouro, que é um cargo desejado por inúmeros economistas”, pontua. E economista também acredita que Guedes tem bastante “congruência ideológica” com Bolsonaro, deixando de lado a questão técnica, e que o ministro é demitido “cai a cada 15 minutos”, o que reflete sua fragilidade atual.
Borsoi, contudo, acredita que, dado o cenário, o real poderia ter sido ainda prejudicado: “A nossa moeda sofreu muito devido aos fatores domésticos, mas poderia ter sido ainda pior. Mesmo sem a intervenção, que não faz leilões extraordinários desde quarta-feira”, pondera.
Para o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, “a tensão irá continuar nos próximos dias, talvez com alguma acomodação. Com a piora da questão fiscal, os investidores estrangeiros se preocupam ainda mais, aportando menos dólares no Brasil”. O economista também acredita que o Banco Central (BC) irá aumentar a Selic (taxa básica de juros) em 1,25 ponto percentual, porém não descarta que o reajuste seja de 1,50.
Queiroz, porém, descarta a saída de Paulo Guedes: “O Guedes deve continuar, já que ele autorizou os gastos em linha com o presidente (Jair Bolsonaro). Acho muito difícil ele sair do governo, já que isso era um sonho dele. Ele joga o jogo”, define o economista.
De acordo com o analista da Top Gain, Leonardo Santana, “não fosse a saída do (secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno) Funchal e do (secretário do Tesouro Nacional, Jeferson) Bittencourt, existiria um espaço para a correção do dólar. O mercado ainda deve estressar pela manhã, mas acho que não durante o dia todo”. O analista acredita que o Banco Central vai agir, fazendo novos leilões de swap, quando o dólar atingir R$ 5,80.
Santana é enfático em relação ao furo do teto: “Não tem como ser visto de maneira positiva. O que adianta ter um teto de gastos se ele não é cumprido? Isso é populismo, não tem como ficar otimista. Estamos afundando”, sentencia.
Além disso, a preocupação com o próximo ano só aumenta: “Como vamos chegar em 2022? Vamos gerar empregos suficientes para segurar a inflação?”, questiona Santana.
Em movimento contrário ao dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta, apesar da desaceleração, após entrevista coletiva do ministro Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro.
O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,148% de 7,886% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 10,850%, de 10,480%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,500%, de 11,490% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,810% de 11,800%, na mesma comparação.
No mercado acionário dos Estados Unidos, o Dow Jones registrou seu primeiro fechamento em recorde de alta em mais de dois meses, mas não foi acompanhado pelo Nasdaq e pelo S&P 500: ambos terminaram em queda, enfrentando ventos contrários das vendas de papéis de tecnologia. Na semana, no entanto, os três principais índices do mercado de ações norte-americano consolidaram ganhos.
A pressão no setor de tecnologia veio da Intel, que previu na noite passada margens de lucro menores nos próximos anos, enquanto tenta recuperar a liderança na fabricação de chips e inaugurar novas fábricas, fazendo com que seus papéis recuassem 11,68%.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,21%, 35.677,02 pontos
Nasdaq Composto: -0,82%, 15.090,20 pontos
S&P 500: -0,10%, 4.544,90 pontos