São Paulo – O Ibovespa encerrou em forte alta, em movimento de recuperação após cinco meses de perdas consecutivas, trazendo expectativa de recuperação na reta final de 2021. A aprovação do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, em dois turnos, no plenário do Senado injetou ânimo nos investidores em relação à uma definição do cenário macro econômico, ainda que ruim.
O plenário do Senado Federal concluiu a votação da PEC que limita o pagamento de precatórios da União e altera o cálculo do teto de gastos públicos (PEC-23/2021), abrindo espaço para a implantação do Auxílio Brasil. O presidente Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que a Câmara dos Deputados deverá fazer um esforço concentrado nas próximas duas semanas para encerrar os trabalhos até o dia 17 de dezembro e incluir o projeto da lei orçamentária de 2022.
Os investidores também digeriram os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que indicou recessão técnica, levemente abaixo do consenso do mercado. Segundo analistas, mesmo negativos, os dados também ajudam na previsibilidade em relação a preço de ativos e juros. O PIB brasileiro caiu 0,1% na comparação com o segundo trimestre, e foi a segunda queda trimestral consecutiva. Na comparação com terceiro trimestre de 2020, o PIB avançou 4%.
O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou com ganho de 3,66%, aos 104.466,24 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 27,815 bilhões. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro teve alta de 3,92%, aos 104.750 pontos. O volume financeiro foi de R$ 27,0 bilhões. Em Nova Iorque, os índices fecharam em alta.
O analista Pedro Galdi, da Mirae Asset, avalia que hoje foi um dia de recuperação, após cinco meses de queda. “Acho que as coisas se encaminham para um mês de recuperação, com a aprovação da PEC e com esclarecimento sobre a letalidade da doença (Covid, com as novas cepas), acho que as coisas se encaminham para um mês de recuperação do Ibovespa. Mas com a definição da PEC e redução do vírus, a expectativa é de recuperação”, comentou.
Na visão do analista, a preocupação com a variante Ômicron amansou. “É a briga das cepas, uma substitui a outra, há um jogo de interesses entre os fabricantes de vacinas. Entendo que cada vez mais as cepas vão enfraquecendo e onde não tem vacinação, o vírus se torna problemático”, opina.
Galdi também acredita que a pressão vendedora recente, pode estar mudando, perdendo força e o fluxo para a Bolsa pode ficar positivo. “As gestoras têm que fazer caixa e, esporadicamente, têm setores, como frigoríficos, por exemplo, no mês passado estava em realização, depois de acumular gordura desde o ano passado, então o gestor tem que vender para fazer caixa. Esse é um movimento que a renda fixa volta a ser atraente, e quem migrou da renda fixa para renda variável, nos fundos, começa a ver a bolsa caindo, acaba migrando. Então, pode ser que a gente consiga diminuir a queda de 13% no ano agora em dezembro, que costuma ser um mês mais favorável para a Bolsa.”
“E lá fora, não deve ter muito mais novidade para interferir. O FED já definiu a política monetária e aqui, passando a PEC não tem mais nada, esse ano acabou”, finaliza.
A aprovação da PEC dos precatórios nessa reta final é importante por conta do risco fiscal que o país apresentava, se ela não acontecesse, ela estouraria o teto de gastos e colocaria em cheque a saúde fiscal do Brasil. Então, ela abre um espaço para reimplantar o Auxílio Brasil e outros gastos do governo, com a abertura de R$ 106 bilhões e isso traz mais confiança para o investidor estrangeiro entrar com recursos no Brasil”, comentou Leonardo Aparecido, especialista da Valor Investimento.
Mas cedo, o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, comentou que “a definição dos Precatórios é importante para dar maior previsibilidade para 2022 e uma definição tira um pouco da pressão do quadro fiscal”, destaca.
“O PIB do terceiro trimestre não gerou surpresa no mercado, com destaque para baixa no agronegócio e que acreditamos seja um problema pontual, mercado de juros mostra queda hoje com investidores fechando apostas para a manutenção do ritmo de alta da Selic em 1,5pp no próximo Copom (07 e 08 dezembro)”, acrescentou.
Para Bruno Komura, da equipe de estratégia da Ouro Preto Investimentos, a definição em relação à PEC resolve as incertezas do mercado com o cenário fiscal e o orçamento, após tantas discussões, que geraram volatilidade. “Não que a PEC seja boa, mas tira a incerteza, que o mercado vai digerir e precificar e passar para outros temas, como a covid. Se não fosse a PEC havia o temor de gerar calamidade e dar um aval para aprovação de gastos extraordinários e o pagamento de outros auxílios, de cunho populista, pensando nas eleições do ano que vem. Inclusive a gente vê curva de juros fechando, apesar das perspectivas altistas em relação à taxa Selic e do câmbio também. Não ajuda muito, mas traz uma leve correção”, explica.
O dólar comercial fechou em R$ 5,6590, com queda de 0,21%. A moeda norte-americana refletiu o otimismo do mercado com o avanço da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, desanuviando, mesmo que momentaneamente, o quadro fiscal doméstico.
Segundo o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, “por mais que a PEC ainda traga alguns pontos não tão bons como a definição do valor mínimo para o Auxílio Brasil, agora conseguimos fazer conta. Melhor ter uma perspectiva do que não ter nada”.
Jaconeli ainda acredita que agora o investidor terá alguma previsibilidade, o que diminui o risco do país e fortalece o real, mas alerta: “É possível que a turbulência fiscal volte assim que o orçamento de 2022 começar a ser discutido”, projeta.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “existe grande expectativa com a votação dos precatórios, neste momento o mercado está precificando que podemos terminar este assunto e ir para o orçamento de 2022”.
Abdelmalack acredita que o movimento do câmbio de hoje é impactado apenas por fatores domésticos: “O dólar está tão precificado que estranhamos quando ele cai assim”, observa.
Para o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, “hoje deve ter certa volatilidade, com o mercado esperando pela votação dos precatórios”. A votação, que era para ter ocorrido ontem, corre o risco de ser adiada novamente: “Caso o governo achar que não tem apoio, isso pode ocorrer”, analisa o economista.
Queiroz acredita que o cenário internacional é positivo: “O ambiente externo favorece as moedas de risco, como o real. Também ocorre um movimento de ajuste”, opina. O economista crê que o mercado aguarda novas informações sobre a variante Ômicron, mas com menos tensão que em dias anteriores.
As taxas longas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após aprovação da PEC dos Precatórios. O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,854% de 8,802% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,580%, de 11,820%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,260%, de 11,490% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,270% de 11,420%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,68 para venda.
Os principais índices do mercados de ações norte-americano fecharam o pregão em alta, com a Dow Jones subindo 1,82%, em ritmo de recuperação após as perdas de ontem, quando houve a notificação do primeiro caso da variante Ômicron do coronavírus nos Estados Unidos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: 1,82%, 34.639,79 pontos
Nasdaq Composto: 0,83%, 15.381,3 pontos
S&P 500: 1,41%, 4.577,10 pontos