Brasília – O presidente Jair Bolsonaro criticou, nesta quinta-feira, decisões do Poder Judiciário, em discurso na solenidade do Dia Internacional Contra a Corrupção. Para Bolsonaro, está havendo no Brasil atos arbitrários e antidemocráticos que podem afetar os demais países da América do Sul.
“Nós somos uma das maiores democracias do mundo. Se o Brasil cair, cai a América do Sul toda. Não sobra nada para ninguém e tem gente que flerta com esse outro lado. Não sei se a pessoa é doente ou é masoquista, porque, para voltar ao que era antes, às vezes leva décadas”, afirmou Bolsonaro, que falava sobre a situação da Venezuela. “Ou todos nós impomos limites para nós mesmos ou pode ter crise no Brasil”, completou.
O presidente disse que vem atuando “dentro das quatro linhas da Constituição”, mas reclamou da abertura do inquérito, no Supremo Tribunal Federal (STF), devido à live em que associou a vacina contra Covid-19 ao risco de desenvolver Aids.
“Será que vão querer bloquear as minhas mídias sociais? As mídias sociais que mais interagem no mundo? Vão querer quebrar uma perna minha. Isso é democracia? Não é. Isso é jogar fora das quatro linhas. Ninguém quer jogar fora das quatro linhas. Queremos o respeito, mais do que queremos, exigimos. Por favor, não extrapolem. Eu jurei dar a minha vida pela pátria e dou pela liberdade também”, afirmou.
Para Bolsonaro, apesar de acusações da mídia, as agressões não partem dele: “Me deram 50 tiros de 762 e dou um de 22, mas sou eu que estou provocando”.
Sem citar o ministro Alexandre de Moraes (STF), o presidente criticou o pedido de extradição do blogueiro Allan dos Santos, vinculado à família Bolsonaro. Também voltou a criticar a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e a cassação do mandato do deputado estadual Fernando Francischini, do Paraná.
Silveira foi preso em flagrante devido à publicação de vídeo atacando os ministros do Supremo e defendendo o Ato Institucional n 5 (que fechou o Congresso Nacional). Já Fracischini teve o mandato cassado, por seis votos a um, em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por divulgação de notícias falsas contra o sistema eletrônico de votação em 2018, tornando-o inelegível.
“Isso não pode acontecer. Estamos assistindo atos arbitrários no Brasil com constância. Isso não é uma crítica ou uma ofensa a um poder. Isso é uma constatação, uma realidade”, disse.
PASSAPORTE VACINAL
O presidente voltou a condenar a cobrança de comprovante de vacinação contra a Covid-19 no país. “Queriam que a gente impusesse aqui a obrigação do cartão vacinal. Como eu posso aceitar o cartão vacinal se eu não tomei vacina? É um direito meu de não tomar. Como é um direito de qualquer um”, argumentou.
Bolsonaro reiterou críticas às medidas de isolamento social adotadas para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, dizendo que os governadores foram irresponsáveis ao determinar que as pessoas ficassem em casa, fechando os serviços não essenciais.
“Um soldado dentro da trincheira não vai ganhar a guerra, vai morrer feito um rato. O vírus mata? Mata. Duvido quem não tenha parente ou amigo que morreu por causa do vírus, mas tem que lutar”, afirmou.
No discurso, o presidente voltou a defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, alegando que a receita faz parte da autonomia médica. Bolsonaro inclusive perguntou aos presentes na solenidade, no Palácio do Planalto, quem tinha tomado esses medicamentos.