São Paulo – A alta do petróleo no mercado internacional e uma possível valorização do dólar sobre o real com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia somadas à ausência de reajustes nos preços dos combustíveis pela Petrobras em suas refinarias desde 12 de janeiro aumenta as apostas do mercado por um anúncio de um novo aumento pela estatal. Procurada pela Agência CMA para comentar essa possibilidade, a Petrobras disse que não comenta ou antecipa futuros reajustes.
O preço do petróleo, usado como matéria-prima para produzir gasolina e diesel, já passa dos US$ 110 o barril, em decorrência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Há especialistas que estimam que o recorde de US$ 147,50 por barril, de 2008, um pouco antes da falência do banco Lehman Brothers, será ultrapassada.
Ao apresentar seus resultados do quarto trimestre, em 24 de fevereiro, a diretoria da empresa já dizia estar analisando o tema. “Há um forte impacto nos preços, o mercado todo está de olho e vamos seguir monitorando para ver qual será o ponto de equilíbrio nas cotações do petróleo”, disse Claudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística, em entrevista a jornalistas.
O Diretor de Refino e Gás Natural, Rodrigo Costa Lima e Silva, também disse que a empresa acompanha o impacto da crise na Ucrânia para os mercados asiáticos e ao custo de regaseificação, mas que não esperava falta do produto.
Segundo a empresa, a valorização do real frente ao dólar contrabalançava a alta do barril e ajudava a segurar os preços dos combustíveis. Esse fator também permitia ganhar tempo para avaliar se as mudanças trazidas pela guerra seriam estruturais e permaneceriam por um longo prazo, o que justificaria novos aumentos, ou se eram eventos pontuais. Analistas apontam que a tendência de aversão global ao risco gerada por conflito europeu pode fortalecer dólar.
A queda dos estoques dos combustíveis nas refinarias é um ponto de preocupação, pois, além de risco de desabastecimento do mercado, a produção local tem sido usada como estratégia da estatal para evitar custos com importação. Além disso, a companhia também perdeu a contribuição dos demais importadores para atender o mercado interno, que apresenta demanda crescente desde 2020.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem entre a Petrobras e as principais bolsas de negociação já chega a 11%, no caso da gasolina, e a 12%, no diesel.
Os preços dos contratos futuros de petróleo fecharam em altas de quase 10%, com o WTI chegando a seu preço mais alto em mais de uma década nas negociações, com o Brent chegando a US$ 113 por barril depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados produtores de petróleo, que inclui a Rússia, decidiram manter a produção estável.
O mercado de petróleo já estava apertado antes da invasão da Ucrânia pela Rússia e, com os países agora evitando o combustível russo, os traders estão preocupados com os déficits de oferta.
Nesta quarta-feira (2/3), os futuros do petróleo WTI chegaram a US$ 112,51 por barril, o nível mais alto desde maio de 2011. O petróleo Brent subiu chegou a US$ 113,58 por barril, o nível mais alto desde junho de 2014.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados liderados pela Rússia, conhecidos como Opep+, concordaram em manter seu aumento gradual de 400 mil barris por dia (bpd) em abril, mesmo com os atuais preços elevados da commodity.
No entanto, a companhia sofre pressão para não reajustar a gasolina e o diesel, por conta do forte impacto na inflação, no orçamento das famílias e, consequentemente, nos planos de reeleição do presidente da República, Jair Bolsonaro.
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou nesta quarta-feira que os projetos para conter os preços dos combustíveis serão colocados para votação no plenário na próxima semana. “Mais do que nunca, diante do aumento do valor do barril de petróleo, precisamos tomar medidas que impeçam a elevação do preço dos combustíveis”, disse, em sua conta no Twitter.
São dois projetos em tramitação no Senado: o que trata das regras do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado pelos estados e pelo Distrito Federal sobre os combustíveis (PL 1.472/2021) e o que define diretrizes de um programa de estabilização dos preços dos combustíveis (PL 1.472/2021).