Bolsa cai com cautela por risco de maior austeridade global; dólar tem leve alta

1904

São Paulo – A Bolsa encerrou a sexta-feira e a semana em queda, mostrando a cautela dos investidores com o clima de austeridade mundial, após a divulgação de dados econômicos nos Estados Unidos e na zona do euro aumentarem as apostas de ações mais duras por parte do Federal Reserve (FEd, o banco central norte-americano) e do Banco Central Europeu (BCE).

Os dados do relatório de emprego divulgados hoje nos Estados Unidos, o payroll, mostraram que a criação de 390 mil postos de trabalho em maio e a taxa de desemprego ficou em 3,6%, mesmo valor registrado em abril. O número de vagas criadas ficou acima da projeção dos analistas, que esperavam abertura de 339 mil vagas. A taxa de desemprego veio acima da previsão, de 3,5%. Com isso, os índices futuros de Nova York caem, com a visão de que os dados desta semana devem levar o Fed a continuar a aumentar as taxas de juros.

Na Europa, dados econômicos fracos fizeram as bolsas fecharem em queda. O mercado também apresenta liquidez reduzida por conta do feriado no Reino Unido.

No Brasil, os investidores ainda acompanham os desdobramentos das iniciativas do governo federal para reduzir o impacto dos preços de combustíveis, iniciativas que podem ampliar os gastos e aumentar a pressão fiscal e a divulgação dos dados do ndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na próxima quinta-feira (9/6).

O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em queda de 1,14%, aos 111.102,32 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 15,2 bilhões. Na semana, o índice caiu 0,75%.

Os ativos mostraram queda generalizada entre diversos setores, com apenas 14 ações em leve alta, incluindo Petrobras, com a ordinária PETR3 com ganho de 2,55%, encerrando o pregão como a segunda maior alta do índice, logo após a Natura, que recuperou perdas e avançou 2,74%%. A preferencial PETR4 também fechou em alta de 1,74%. A ponta positiva também teve Iguatemi, Qualicorp e Taesa, que subiram mais de 1%.

As ações da Vale, Usiminas, CSN Mineração, CSN e Gerdau mostraram realização após fortes ganhos no pregão anterior. As maiores quedas do índice foram observadas entre Méliuz, Americanas, Yduqs, Magazine Luiza e Hapvida, que recuaram entre 5% e 6%.

No Senado, o projeto que busca segurar o aumento dos preços dos combustíveis será votado na semana que vem. O PLP 18/2022 prevê um teto de 17% para o ICMS dos combustíveis e da energia elétrica, alíquota inferior à praticada atualmente por parte dos estados. Já aprovado pela Câmara dos Deputados, o projeto de lei complementar é criticado por governadores, que estimam perdas de arrecadação de até R$ 83 bilhões.

A decretação do estado de calamidade, que afetou negativamente o mercado de juros ontem, perdeu força e agora, notícias falam na busca de alternativas menos onerosas do ponto de vista fiscal por parte da equipe econômica para aliviar pressão no preço dos combustíveis, como por exemplo, uma PEC nos moldes da aprovada no início de 2021.

De acordo com Enrico Cozzolino, da Levante Ideias de Investimento, a semana foi marcada por cautela do investidor, à espera de dados macroeconômicos importantes. “Estamos saindo de 100 mil pontos e testando os 112 mil pontos, é um ponto de resistência. Foram três semanas de alta e essa semana de cautela, uma movimentação de preços que a gente esperava. A reabertura de China ajudou no viés, principalmente no minério de ferro, considerando que 15% do Ibovespa está em ações da Vale, então, se não fosse isso, certamente, a semana teria sido muito pior. O mesmo vale parapetróleo, que também ajudou a não ter uma queda tão significativa, apesar da volatilidade da Petrobras, que tem 11% do índice, tambémajudou a não ter um resultado pior.”

O analista considera que os dados de Livro Bege, payroll e do Banco Central Europeu não mostraram grandes novidades. “Era esperada uma redução do nível de desemprego nos Estados Unidos, que não aconteceu, apesar da criação de vagas. Os dados reforçaram a política monetária de subida de juros num mundo que tem inflação, então, aumentam as dúvidas se isso será suficiente para conter a inflação, mas os bancos centrais não têm outra alternativa. Os indicadores reforçaram o que já sabíamos, o que refletiu numa semana meio neutra, de cautela, com o Ibovespa em 112 mil pontos e ainda, com algum benefício das commodities”, avalia.

Para Leandro De Checchi, analista de investimentos da Clear, o Ibovespa operou em ritmo de realização nesta sexta-feira, acompanhando as demais bolsas mundiais. “As principais bluechips recuam e a Petrobras (PETR4) avança com a alta do petróleo. É a primeira semana de recuo do índice após três semanas consecutivas de valorização e o mercado parece aguardar mais dados de inflação com o IPCA na próxima semana”, comenta.

No contexto internacional, a analista explica que os dados econômicos fracos impactaram as bolsas europeias que realizaram após os PMIs virem abaixo do esperado, enquanto as bolsas americanas cederam na expectativa da divulgação do Payroll que demonstrou um mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos podendo gerar mais pressão inflacionária por lá. “Com isso, os juros futuros tiveram mais um dia de baixa volatilidade e leve recuo. O dólar volta a cair no dia hoje, mas fecha a semana em alta”, conclui.

O dólar comercial fechou em queda de 0,16%, cotado a R$ 4,7780. A moeda norte-americana oscilou durante toda a sessão, impactada por resultados que indicam cada vez mais o descontrole inflacionário e recessão nos Estados Unidos. O fluxo estrangeiro, contudo, prevaleceu e deu força ao real. Na semana, o dólar teve 0,82% de valorização.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o fluxo continua entrando, embora tenha diminuído. É isso que faz com o que o dólar não dispare”.

Nagem, contudo, entende que a situação no exterior é ruim, com o mercado considerando o aumento dos juros como nos Estados Unidos como insuficiente para segurara a disparada inflacionária.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o mercado está muito sensível. O payroll (folha de pagamento) veio mais forte e o ISM mais fraco, então eles se contrabalancearam”. O índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, em inglês) foi de 55,9 pontos em maio.

Leal destaca o ineditismo do contexto global. “Esta volatilidade reflete o momento pelo qual atravessamos, como a maior inflação nos Estados Unidos em 40 anos. O mercado está sem parâmetro, sem norte”, contextualiza.

De acordo com a estrategista de câmbio e economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “a expectativa de desaceleração da economia norte-americana sugere que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode ser menos agressivo no aumento dos juros, o que acaba sendo positivo para os emergentes”.

Quartaroli também entende que a China e a valorização das commodities continuam favorecendo as moedas emergentes, mas observa que o ambiente é volátil.

Em sessão volátil, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após payroll positivo nos EUA.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,425% de 13,435% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,025%, de 13,045%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,435%, de 12,455% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,310% de 12,355%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 4,7800 para venda.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, com os temores de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) acentue o aperto na política monetária deixando os traders receosos, após o relatório de empregos divulgado pelo Departamento do Trabalho vir acima das estimativas do mercado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações futuros dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,85%, 32.899,70 pontos

Nasdaq 100: -2,47%, 12.012,7 pontos

S&P 500: -1,63%, 4.108,54 pontos

Veja o acumulado dos índices na semana:

Dow Jones: -0,95%

Nasdaq 100: -0,98%

S&P 500: -1,20%