Bolsa fecha em forte queda e atinge a marca de 108 mil pontos; dólar sobe

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São Paulo – O Ibovespa acentou as perdas durante a tarde desta quarta-feira e fechou em queda de 1,54%, atingindo a marca de 108 mil pontos, registrado pela última vez no fechamento do dia 20 de maio. O movimento acompanhou a queda dos mercados no exterior, em crescente tendência de aversão a risco, após a divulgação de projeções de crescimento mundial mais modestas. O mercado também segue de olho no risco fiscal do Brasil.

Com isso, o Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em queda de 1,54%, aos 108.367,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho caiu 1,42%, aos 108.740 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 17,3 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no vermelho.

Para Ricardo Leite, estrategista-chefe da Diagrama Investimentos, a revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento menor do que o esperado anteriormente foi a gota d’água para as ações ao redor do mundo caírem e o apetite a risco diminuir, com os investidores preferindo cautela nas escolhas.”No exterior, os rendimentos dos títulos da divida americana com vencimento em dez anos sobem para 3,2%, o petróleo puxa alta de 2,8%, o segundo maior fechamento do ano, e a Casa Branca divulgou que espera que os próximos números de inflação ainda venham elevados”, disse.

Leite acrescenta que os juros futuros brasileiro de curto prazo fecharam perto da estabilidade, ponderando os riscos fiscais envolvidos no pacote da PLP-18.”O investidor segue acompanhado os esforços do governo para reduzir o preço dos combustíveis e energia, porém, seguem receosos como vai ficar essa conta e quem vai pagar no final. Pois as consequenciais fiscais dessa medida devem gerar fortes impactos nos cofres e contas publicas. Porém, se aprovado o projeto pode ter um impacto imediato de até 1,8% na inflação ainda em 2022″, pondera.

“As ações de indústria, mineração e construção civil foram as que mais sofreram hoje, após a revisão de crescimento global, com o mercado entendendo uma menor demanda no setor”, avalia.

O mercado brasileiro hoje acompanhou também o encerramento dareserva para o uso do FGTS para compra de ações da Eletrobras, que movimentou pelo menos R$7,5 bilhões nessa oferta, que impulsionou os papéis ELET3 e ELET6, que encerraram em alta de 1,57% e 0,84% na contramão do índice.

Para Vicente Matheus Zuffo, da Chess Capital, o Brasil fechou um pouco pior que o resto do mundo, o que já vem acontecendo há alguns dias, o que ele atribui, provavelmente, à oferta da capitalização da Eletrobras. “Fundos de índices, de alocação passiva, ou até de alocação ativa, que devem entrar na oferta e diminuindo a alocação. Não acho que teve nenhum evento para a queda, que foi generalizada”, avalia.

Os setores de mineração e siderurgia, que vinham em alta nos últimos dias, foram mais penalizados, indicando um movimento de realização impulsionado pela aversão ao risco no exterior. “É normal ter correção em dias de maior aversão ao risco, o que ocorreu com mineração, siderurgia e celulose. Petróleo até que foi bem”, comentou Zuffo.

Para o diretor e sócio da Quantzed, Leandro Petrokas, o Ibovespa seguiu o mau humor externo, em que Europa fechou em queda e os índices norte-americanos também caíram com aversão ao risco, somado às instabilidades externas geradas pelas opções propostas pelo governo para compensar o ICMS dos combustíveis e falas do presidente Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas.

“Do cenário local, temos alguns aspectos importantes como questões relacionadas ao descontrole fiscal, como redução do ICMS dos estados com a União repassando recursos para os estados para compensar essa redução e isso não soou bem para o mercado e também as falas do presidente atacando o Supremo Tribunal Federal (STF) em rede pública defendendo a tese de que as urnas não são confiáveis. Isso gera uma instabilidade no cenário local junto com o cenário internacional com a alta do petróleo e risco de inflação. Temos, então, cenário macro complicado e o cenário local comincertezas fiscais e falas do presidente ameaçando as instituições. Tudo isso faz que a nossa bolsa caia hoje”, disse.

Petrokas cita, entre os destaques locais, os ganhos de mais de 3% de Qualicorp e Hapvida, que caíram 51% e 35% recentemente e hoje tiveram um respiro de correção, em dia em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julga para restringir cobertura dos planos de saúde. “Isso tende a fazer preço também nos dois ativos, além da correção que já acontece hoje”, comenta.

O destaque negativo fica para a a Weg, a maior queda do dia (-5,58%), e também está em tendência de baixa no gráfico diário, mas negocia a múltiplos muito altos (relação preço/lucro de 28 vezes se comparar com ano passado de 2021), o que vem sendo penalizado pelo mercado, segundo o analista da Quantzed.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, lembra que amanhã na Europa o mercado acompanha a reunião do Banco Central em que há expectativa de retirada de estímulos e talvez alguma indicação de quando a região irá elevar os juros, seguindo o movimento nos Estados Unidos. “A nossa Bolsa também segue esse movimento de realização, com as commodities no carro-chefe, e os ruídos do possível custo-fiscal de zerar os impostos pelo governo federal”, ressalta.

O dólar comercial fechou em alta de 0,30%, cotado a R$ 4,8890. O movimento refletiu as incertezas fiscais internas, apesar do cenário externo continuar favorável ao real, com a reabertura chinesa e alta das commodities.

Segundo o head de câmbio e sócio da Ethimos Investimentos, Lucas Brigato, o cenário continua indefinido, mas o viés ainda é de baixa do dólar. A barreira atual é de R$ 4,91, e o suporte de R$ 4,70.

Brigato vê o fiscal como afetado, além do forte tempero eleitoral neste movimento, que vai cobrir o pé e descobrir a cabeça.

Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, o movimento hoje é de correção, já que os fundamentos técnicos seguem positivos, ainda mais com a perspectiva de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não tão agressivo nas duas próximas reuniões, além dos juros praticados aqui que continuam muito altos.

Serrano acredita que o dólar cotado entre R$ 4,70 e R$ 4,80 ainda é um patamar bem aceitável, apesar da piora na percepção fiscal.

De acordo com o boletim da Ajax Capital, as incertezas fiscais decorrentes das tentativas do Governo de conter a alta dos preços dos combustíveis e alta dos juros no exterior devem manter em baixa os ativos domésticos, além de pressionar para cima as taxas de juros, com prazos mais longos.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta quarta-feira (8), ainda refletindo as incertezas em torno da proposta do Governo em zerar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre diesel, gasolina etanol e gás de cozinha.

Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,490% de 13,470% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,220%, de 13,190%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,685%, de 12,650% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,585% de 12,580%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,8800 para venda.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com o S&P caindo 1,08%, à medida que os investidores ficaram atentos ao mercado de títulos e ficaram mais receosos após novos sinais de desaceleração econômica no país.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -0,81%, 32.910,90 pontos
Nasdaq 100: -0,73%, 12.086,3 pontos
S&P 500: -1,07%, 4.115,77 pontos