Polarização Lula X Bolsonaro se consolida pela desarticulação da terceira via

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São Paulo, 2 de maio de 2022 – A cinco meses das eleições presidenciais, onze nomes figuram nas listas de candidatos a ocupar o Palácio do Planalto pelos próximos quatro anos. Mas, segundo as pesquisas de intenção de voto, o eleitorado brasileiro está dividido entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar das negociações políticas para construção de uma terceira via, com perfil ideológico de centro, capaz de romper o cenário de polarização entre esquerda e direita.

 

Analistas políticos e de mercado não veem, neste momento, perspectivas de quebrar a polarização entre Bolsonaro e Lula. “Possível é, mas não estou vendo claramente (um nome da terceira via). Neste momento, a tela está bastante embaçada”, afirmou o cientista político, David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).

 

Segundo Antonio Marcos Samad Júnior, CEO da Axia Investing, o mercado acredita “cada vez menos” na possibilidade de uma candidatura da terceira via. “A terceira via infelizmente me parece um sonho cada vez mais distante”, disse.

 

Para Fleischer, as articulações políticas evidenciam que, neste momento, a construção da terceira via está “um pouco difícil”, porque os nomes que se apresentaram não conseguiram se viabilizar, especialmente o ex-governador João Dória, que deixou o governo de São Paulo para concorrer ao Planalto pelo PSDB, e o ex-juiz Sergio Moro, que se filiou ao Podemos e depois ao União Brasil, mas não decolou nas pesquisas de intenção de voto.

 

“Somente se acontecer um episódio inesperado”, afirmou Fleischer, sobre a possibilidade de uma candidatura de centro. Para o cientista político, o “episódio inesperado” seria, por exemplo, a desistência de Bolsonaro ou de Lula.

Fleischer: “Construção da terceira via está um pouco difícil”

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

 

PRIMEIRO TURNO

 

Além de Lula, Bolsonaro e Dória, foram anunciadas as pré-candidaturas de André Janones (Avante), Ciro Gomes (PDT), Felipe D’Ávila (Novo), José Maria Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP), Luciano Bivar (União), Simone Tebet (MDB) e Vera Lúcia (PSTU). Ficaram pelo caminho: Moro, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) e o ex-governador Eduardo Leite (PSDB-RS).

 

Conforme o cientista político Magno Karl, diretor-executivo do Livres, a construção da terceira via é possível, mas difícil. “É difícil fazer com que essa polarização se enfraqueça”, afirmou. Não vejo nada posto, neste momento, capaz de ameaçar a predominância desses dois candidatos. Pode acontecer, mas teria que ser algo extraordinário”, completou Karl.

 

Para o cientista político, os nomes que se apresentam como terceira via não conseguiram apresentar uma agenda alternativa a Lula e Bolsonaro, nem admitem abrir mão da chamada cabeça de chapa. Falta ainda, segundo Karl, uma liderança natural entre os nomes fora do bolsonarismo e do lulismo. “Eu vejo muita gente fora dos campos dominantes achando que é possível romper a dualidade, mas que só é possível na sua pessoa”, disse. “A terceira via não consegue expressar o que é”, completou.

 

Apesar da polarização, é pouco provável que o futuro presidente do Brasil seja eleito no primeiro turno. Para Karl, é um chute afirmar, no atual cenário, que Lula vai vencer no primeiro turno, ainda mais que seu adversário tem a seu favor a máquina do governo federal.

 

“Bolsonaro construiu, ao se associar ao Centrão e ao se filiar ao PL, uma força política considerável, que lhe dará um pouco mais de capilaridade do que ele tinha em 2018. A tendência é que ele não fique muito abaixo do percentual atual [das pesquisas de intenção de voto]”, afirmou. Confira a entrevista completa em vídeo com Magno Karl aqui.

 

Já Lula, pela análise do cientista político, não deve se manter no patamar mostrado pelas pesquisas, assim que comece a campanha oficial. “Os problemas do governo Bolsonaro estão mais nítidos na memória da população do que os do governo Lula”, argumentou.

 

CENÁRIO ECONÔMICO

 

Com ou sem candidatura de terceira via, o processo eleitoral deve impactar no cenário econômico nacional, especialmente no segundo semestre deste ano, quando já estarão definidos todos os candidatos e começará a propaganda. Os temas que impactam na vida da população, como os rumos da economia, o controle da inflação e a geração de empregos, devem passar ao largo da campanha eleitoral.

 

O diretor-executivo do Livres prevê uma propaganda marcada por promessas vazias e ataques e pouco conteúdo de interesse da população. “Acho que a gente terá mais instabilidade, mais conflitos e mais incertezas, porque a mala do populismo estará aberta e a gente verá dois candidatos fazendo sinalizações para seu público mais fiel e ignorando sua responsabilidade como futuro presidente do país”, afirmou Karl.

 

Nesse cenário, devem ganhar espaço os articuladores econômicos das duas campanhas, de forma a evitar maiores prejuízos para a economia brasileira. Segundo os analistas econômicos, o mercado vem se preparando para a instabilidade provocada pela campanha eleitoral.

 

“As eleições provocam volatilidade no mercado, pois o mercado gosta de previsibilidade. No cenário de eleições, não temos a certeza que tal candidato com tal proposta econômica vai entrar no poder. Sendo assim, ocorre essa volatilidade esperada para o segundo semestre”, afirmou Fabrício Gonçalvez, sócio-fundador da Box Asset Management.

 

Para Gonçalvez, o mercado ainda não precificou a eleição presidencial de outubro. “O mercado deve sofrer volatilidade durante as pesquisas mais próximas às eleições. Neste momento, as pesquisas não têm feito preço nos mercados”, afirmou. “O que poderia surpreender o mercado seria a não disputa entre Lula e Bolsonaro, pois o mercado já espera um segundo turno entre os dois presidenciáveis”, completou.

 

“Ainda existe muita coisa para rolar. Há pouco tempo começamos as pesquisas eleitorais e o mercado ainda tenta digerir. Alguns pontos são observados, como a diminuição da margem de intenção de votos entre Bolsonaro e Lula, bem como a proximidade de alguns nomes de destaque no mercado financeiro à ala mais esquerdista”, disse Sidney Lima, analista da Top Gain.

 

Pesquisas

 

As mais recentes pesquisas eleitorais mostram um quadro parecido. Lula se mantém na casa entre 40% e 45%. Bolsonaro marca entre 30% e 35%. Após a desistência de Sergio Moro, o atual presidente diminuiu a diferença para o candidato petista. Mas Lula não perdeu votos, o que confirma o cenário polarizado que, neste momento, está cada vez mais claro.

O pedetista Ciro Gomes se consolida na terceira posição, mas a campanha, por ora, não ganha força e o percentual fica abaixo de 10%. O tucano João Doria tem resultados ainda piores, não alcançando nem 5 pontos percentuais.

Todas as pesquisas indicam que Lula venceria o segundo turno contra qualquer candidato. Neste momento, mesmo crescendo, Jair Bolsonaro tem um grande desafio à frente: tirar votos de Lula. As pesquisas indicam que boa parte do crescimento recente de Bolsonaro é por ter herdado votos de Moro.

 

 

Luiza Damé e Pedro de Carvalho / Agência CMA

 

Edição: Dylan Della Pasqua