São Paulo- Após o alívio da véspera, hoje o pregão foi de falta de apetite por ativos de risco. A Bolsa fechou em queda de 2,80% refletindo o mau humor externo com os investidores mostrando um desconforto com o aperto monetário nos Estados Unidos em meio a uma inflação persistente. O Ibovespa chegou a atingir a mínima no interdiário de 103.923,27 pontos.
Somado a isso, aqui também o mercado ficou receoso à possibilidade de um aumento na taxa de juros básica (Selic) em junho, sinalizada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), contrariando a fala anterior da autoridade de que o ciclo de alta terminaria agora.
O principal índice da B3 caiu 2,80%, aos 105.304,19 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 3,02%, aos 106.590 pontos. O giro financeiro foi de R$ 31 bilhões. Em Nova York, as bolsas registraram forte queda.
Roberto Coutinho, gestor de fundos e fundador da Escola da Fortuna, disse que a tensão no Ibovespa e no exterior é atribuída “à preocupação sobre qual a velocidade que o país norte-americano vai colocar no aperto monetário. O Fed disse que vai reduzir o balanço de ativos e, o interessante, seria uma venda gradual desses ativos e não acelerada devido aos preços baixos em que se encontram”.
Coutinho também comentou que os juros de vencimentos de longos nos Estados Unidos, como os títulos do Tesouro de 10 anos “subiam 3,051% e ajudaram a pressionar o mercado”.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto investidores disse que os investidores refletem a sinalização do Copom em deixar aberto mais uma alta na taxa básica de juros (Selic), embora em menor magnitude. “O mercado está ancorado bem nessa projeção de [Selic] em 13,25, mas por mais que seja esperado existe um efeito de reprecificação, hawkish”. O aumento de juros afeta as ações de crescimento, construção civil e empresas com grande nível de endividamento.
Outro fator que impacta na sessão de hoje é o mau humor lá fora, que segundo Komura, o mercado está cético com o aumento de 0,50 pp nos juros norte-americanos. “Com uma economia bastante aquecida, é difícil imaginar que a elevação de 0,50 pp seja suficiente, o que acaba tirando a atratividade das ações e aumenta a busca por renda fixa e ademais disso os ativos alocados em emergentes vão para a economia norte-americana”. O mercado vai seguir monitorando o payroll amanhã (6) e a evolução da inflação nos próximos meses, diz.
Um analista de uma grande gestora de investimentos que não quis se identificar comentou que após a “emoção positiva da notícia da véspera com a fala do Powell, veio a ressaca e uma pressão vendedora com os investidores analisando com mais detalhes as decisões Fed e o Copom”.
A fonte ainda afirmou que devido à alta de juros aqui, os bancos varejistas como Banco Pan (BPAN4) e Banco Inter (BIDI11)- perdiam respectivamente 7,20% e 9,16%- e o setor de varejo registravam forte queda “com o temor da inadimplência e em relação às varejistas o encarecimento das prestações”. As ações de Magazine Luiza (MGLU3) perderam 10,70%, uma das mais baixas do índice.
O dólar comercial fechou em R$ 5,0150, com alta de 2,28%. A moeda, que chegou a passar dos 3%, refletiu o ambiente global de forte aversão ao risco de recessão, com China e Estados Unidos como protagonistas deste cenário.
Segundo o sócio da Top Gain, Leonardo Santana, “a recessão está cada vez mais próxima dos Estados Unidos, que tem mostrado números ruins. O payroll (folha de pagamento), que será divulgado amanhã, será muito importante”.
Santana também mostra preocupação com outro gigante: “A China não consegue deslanchar, assim como a Europa. Isso reflete no mundo todo”, avalia.
De acordo com fonte ouvida pela CMA, “o Banco Central (BC) veio hawkish (duro), falando em mais um aumento na reunião de junho. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) descartou aumentos posteriores de 0,75% e o mercado não esperava isso”.
“A inflação continua muito forte, com piora constante no Focus e parte fiscal também é ruim. As eleições também devem ser muito duras. Caímos na realidade”, sentencia a fonte, que ainda ressalta que o aumento das taxas de juros nas economias desenvolvidas já começou a afetar o real.
De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “os ativos americanos corrigem os excessos de ontem, com futuros de bolsa em queda, juros e dólar em alta. O dia deve ser de alta do câmbio, em meio a ganhos globais da moeda americana”.
Borsoi entende que o Comitê de Política Monetária (Copom) veio em linha com as projeções do mercado, e que a sessão deve ser marcada pela alta das commodities, “mas ajustes em Nova York e cautela com os balanços de hoje podem levar à uma sessão negativa”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta quinta-feira (5) refletindo decisão do Copom, que elevou a taxa Selic para 12,75% ao ano.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,235% de 13,040% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,885%, de 12,585%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,325%, de 12,050% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,190% de 11,905%, na mesma comparação.
Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam em queda robusta, com o Nasdaq caindo 4,99%, para registrarem a pior sessão do ano. Os índices despencaram após os investidores digerirem a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (pp), o que fez os treasuries dispararem.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -3,12%, 32.997,97 pontos
Nasdaq 100: -4,99%, 12.317,7 pontos
S&P 500: -3,56%, 4.146,87 pontos