Bolsa cai com temor de recessão global, vencimento de opções e Petrobras; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, renovando as mínimas para o patamar de 93 mil pontos, com os investidores ajustando posições diante de uma possível recessão global. A sessão desta sexta-feira também foi marcada pela volta do feriado de Corpus Christi nesta quinta-feira, que foi marcada por baixas das bolsas no exterior, e pelo vencimento de opções sobre ações do Ibovespa.

O principal índice da B3 caiu2,90%, aos 99.824,94 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 3,29%, aos 101.695 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 34,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa caiu 5,36%. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

No fechamento, os papéis com maiores perdas foram de 3R Petroleum (-9,0%), Petro Rio (-8,78%), Gerdau Metalúrgica (-8,51%), Gerdau (-7,88%) e Braskem (-7,63%).

Entre as ações com maior peso no índice, as maiores quedas foram de Petrobras (PETR3; PETR4, -7,25%e -6,08%), Vale, CSN e Usiminas (-6%), enquanto os papéis dos grandes bancos Bradesco, Itaú e Santander perderam mais de 1%. O Banco do Brasil, por sua vez, fechou com ganho de 0,23%.

Na ponta positiva, com 21 ações em alta, os destaques positivos foram CVC (+11,18%), Qualicorp (+4,55%), Alpargatas (+4,09%), Energisa (+3,24%) e Hapvida (+3,18%).

Na primeira sessão após o feriado de Corpus Christi e reuniões dos bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil que definiram a política monetária dos dois países nos próximos meses, a Bolsa operou boa parte do dia em forte queda, derrubada pelas commodities, em reflexo da forte aversão a ativos de risco já sinalizada anteriormente, agora com um cenário de uma possível recessão mais definido diante dos anúncios de aperto fiscal.

Por aqui, o mercado também reagiu negativamente aos novos sinais de aumento da inflação, com o anúncio de aumento de preços dos combustíveis pela Petrobras, e de possível risco fiscal com a perda de arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Depois de abrir em queda de mais de 2%, a bolsa passou a cair ainda mais após o anúncio de aumento de preço dos combustíveis pela estatal. A ação tem forte peso no índice e o combustível elevou a projeção de aumento da inflação.

Para Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, a perda do Ibovespa é de 100 mil pontos, o que é bastante relevante, com a cotação na mínima do ano. “Graficamente falando, o suporte mais relevante é somente na faixa de 93 mil pontos, o que é um ponto de destaque, com o índice renovando a mínima do ano”, comentou.

Entre as quedas, o analista destaca os setores de petróleo, mineração e siderurgia, com bancos caindo menos. “A queda dos papéis de petróleo acompanha as quedas nos índice e reflete o medo de recessão mundial após a alta de juros do Fed, indicando um temor de queda no consumo.O mercado vende aquilo que traria o crescimento de atividade econômica”, explica.

Os aumentos anunciados pela Petrobras no preço dos combustíveis hoje também provocou reação da classe política e até reação do Supremo Tribunal Federal, o que também aumentou a aversão ao papel.

Entre os destaques de alta, o analista comenta que a CVC mostra recuperação após um forte movimento de baixa, enquanto Hapvida vem em tendência de alta após notícias positivas para o setor de saúde, como a autorização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para novos reajustes de preços de planos de saúde. “Apesar da forte queda do índice, as ações dos grandes bancos caem bem menos do que o índice, com a pressão vendedora em petróleo, mineração e siderurgia. Hoje também é vencimento de opções sobre ações, o que leva a um movimento abrupto no preço de um ativo, pelo fato de ser vencimento de opções sobre ações que, somado ao movimento global negativo de ontem, pode desencadear ajuste de posições.”

O dólar comercial fechou a R$ 5,146 para venda, com valorização de 2,32%. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 3,15%. Após o feriado de ontem no Brasil, o mercado absorveu todo o impacto do clima de maior aversão ao risco no exterior, que elevou o dólar frente a outras moedas. Para completar o quadro negativo, o embate entre governo e Petrobras em torno da política de preços para os combustíveis trouxe de volta as preocupações sobre o risco fiscal.

Após o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, adotar uma política monetária de maior aperto e absorvendo o tom duro do discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, o mercado internacional assumiu uma postura mais cautelosa. Hoje, por exemplo, o dollar index teve alta de 1%, indo a 104,67 pontos.

O mercado iniciou a sexta apreensivo com a decisão da Petrobras em elevar os preços da gasolina e do diesel. O aumento foi definido ontem em reunião do Conselho de Administração da estatal e entra em vigor amanhã. A elevação já era esperada e gerou um desconforte no governo. O presidente Jair Bolsonaro não poupou adjetivos e críticas. O presidente da Câmara, Arthur Lira, foi no mesmo tom e disse que a casa vai avaliar a política de preços para os combustíveis na semana que vem.

A situação sugere uma possível crise de credibilidade e pode indicar uma fuga de recursos do mercado brasileiro. O Ibovespa despencou e foi abaixo dos 100 mil pontos. Com o possível encurtamento da oferta da moeda americana, o dólar se valorizou.

Para Jefferson Luiz Rugik, diretor superintendente de câmbio da Correparti, o movimento foi espelhando a aversão ao risco da última quinta-feira (16) nos mercados emergentes. “É um pouco exagerado, deve ter um ajuste, mas há no mercado um receio de que a inflação no mundo possa causar aumento mais forte de juros, o que pode levar a uma recessão global”, disse.

Segundo a Mirae Asset, em relatório, o mercado doméstico foi estressado nesta sexta-feira, depois das ADRs (American depositary receipts), recibos de ações de empresas brasileiras negociados nas bolsas dos Estados Unidos, terem despencado no dia anterior, de feriado.

“Tudo porque o Fed resolveu agir mais hawkish, elevando o juro básico em 0,75 pp., a 1,75%”, disse.

Para o banco Ourinvest, entretanto, o mercado já vinha incorporando essa expectativa nos preços dos ativos, principalmente no câmbio, de forma que o ajuste nos próximos dias deve ser menor, mas sustentado nesse patamar acima de R$ 5.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, após uma sessão predominantemente mista nesta sexta-feira (17), com o mercado ainda repercutindo as decisões do FED (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e
Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) nesta semana.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,550% de 13,600% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,220%, de 13,435%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,520%, de 12,750% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,450%
de 12,670%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1420 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com a Nasdaq subindo 1,43%, à medida que os investidores tentaram se recuperar das perdas recentes, mas os temores persistentes de recessão fizeram com que
os índices encerrassem a semana com quedas superiores a 4%.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -0,13%, 29.888,78 pontos
Nasdaq 100: +1,43%, 10.798,4 pontos
S&P 500: +0,22%, 3.682,22 pontos

Veja o acumulado dos índices na semana:

Dow Jones: -4,80%
Nasdaq 100: -4,78%
S&P 500: -5,80%

Com Dylan Della Pasqua, Pedro de Carvalho e Darlan de Azevedo / Agência CMA.