Bolsa fecha em queda com Petrobras e alta de juros; dólar cai

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São Paulo – A Bolsa encerrou a sessão desta terça-feira em queda com Petrobras e bancos puxando o índice para baixo, em meio a debates políticos sobre a política de preços da companhia e investidores precificando a previsão de alta de juros após a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A ação da Vale, que tem forte peso no índice, mostrou volatilidade e fechou em alta perto do fechamento, somando pontos ao índice, que se manteve abaixo dos 100 mil pontos.

O principal índice da B3 fechou em queda de 0,16%, aos 99.684,50 pontos. O Ibovespa Futuro com vencimento em agosto recuou 0,32%, aos 101.365 pontos. O volume financeiro foi de 18,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

A ata da reunião do Copom/BC, divulgada na manhã de hoje, apontou que o ciclo de aperto monetário corrente foi bastante intenso e tempestivo e, devido às defasagens de política monetária, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado bem como seu impacto sobre a inflação corrente.

A tarde foi marcada pela discussão sobre a Petrobras no campo político, que incluiu desde falas do ex-presidente e candidato à presidência da República Luís Inácio Lula da Silva de que Bolsonaro poderia resolver o problema do preço dos combustíveis com uma “canetada”, à mensagem enviada pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros, postada em rede social, convocando o apoio de parlamentares à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras.

O líder do Senado Rodrigo Pacheco criticou a instalação de uma CPI contra a empresa e defendeu a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei (PL) 1.472/2021, que cria um fundo para a estabilização dos preços, aprovado em março pelos senadores. Pacheco ressaltou que o excedente dos dividendos pagos pela Petrobras à União, que é a controladora e principal acionista da empresa, poderiam ser usados para um fundo com objetivo de estabilizar o preço dos combustíveis.

Ontem, a estatal anunciou o pagamento de dividendos no valor total de R$ 24,2 bilhões, referentes a primeira parcela de remuneração aos acionistas aprovada pelo conselho de administração em reunião realizada em maio. A segunda parcela está prevista para 20 de julho. Deste total, a União recebeu mais uma parcela, de R$ 8,8 bilhões. Essa cifra faz parte de um total de R$ 32 bilhões apenas em dividendos que serão pagos até julho ao governo. Desde o início da gestão Bolsonaro, em 2019, o governo já recebeu R$ 447 bilhões da estatal, entre impostos, royalties e dividendos.

A declaração de Pacheco veio após o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, declarar, durante audiência pública na Comissão de Minas e Energia na Câmara dos Deputados, que não é possível interferir na política de preços da Petrobras, mesmo após a renúncia do presidente da empresa, José Mauro Coelho, na véspera, após ataques do presidente Jair Bolsonaro e do líder da Câmara, Arthur Lira, à política de preços da companhia.

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4), que somam 13% do Ibovespa, fecharam em queda de 1,05% e 1,99%, enquanto as da Vale, que representam 16% do índice, subiram 0,66%, em dia de nova queda do minério do ferro. Os papéis doo Bradesco, Itaú e Banco do Brasil recuaram.

A B3 também caiu 0,51%, em meio a divulgação de que, na última sexta-feira, os investidores estrangeiros retiraram R$ 885 milhões da B3, mas o saldo acumulado é de R$ 2,13 bilhões em junho e R$ 53,61 bilhões no ano.

As maiores quedas foram de Cogna, Banco do Brasil, CPFL,Yduqs e Lojas Renner (mais de 3%), enquanto na ponta positiva ficaram Qualicorp (+7%), Weg, IRB Brasil, Natura e Totvs (+3%).

Sidney Lima, analista da Top Gain, comenta que o mercado começou animado, ainda marcado por incertezas sobre o cenário inflacionário internacional e alta de juros, com o exterior num tom mais otimista, petróleo forte e commodities em alta. “A ata do Copom trouxe uma continuidade de um posicionamento mais firme do controle da inflação, com elevação dos juros. Então, o cenário ficou com marcado por externo positivo, bancos (que têm 20% do índice) puxando para baixo, e as incertezas relacionadas à Petrobras, que também tem forte peso no índice, o que leva a Bolsa para o negativo”, explica.

De acordo com o analista, a baixa dos bancos está relacionada ao contexto inflacionário e ao nível de endividamento que tende a crescer, o que pode reduzir as receitas das companhias do setor. “Já a Petrobras, está virando palanque de política, com centro e direita concordando em relação à interferência na companhia. A CPI vai resolver tudo, menos o preço dos combustíveis, com todos os lados se acusando e a companhia no meio disso. A CPI causa incertezas e pode afastar o investidor”, avalia Lima.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o movimento de hoje foi de alívio no exterior e a Bolsa local impactada pelos ruídos na Petrobras, com possibilidade de aumento de imposto e mais interferências na companhia, conflitando com a Lei das Estatais, o que é negativo para o papel. “Dependendo do andamento desses projetos em discussão, especialmente a mudança da lei das estatais, mais do que a CPI, pode bater na Petrobras e reduzir a rentabilidade da companhia e da Bolsa”, avalia.

O dólar comercial fechou em queda de 0,67%, cotado a R$ 5,1530. Na falta de um driver, o real demonstrou movimento de correção, embalado pelo bom humor externo.

Segundo o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “a alta dos últimos dias ocorreu devido aos riscos fiscais e políticos. Hoje ocorre uma correção, já que o real caiu muito desde o começo de junho”.

Weigt acredita que R$ 5,20 é uma barreira a ser quebrada, já que o real “ainda é uma moeda boa para ficar”.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o principal fator de hoje é o bom humor externo, com os dados americanos acima do esperado. Também existe um movimento de correção”. O número de casas usadas vendidas nos Estados Unidos (-3,4% em maio ante abril, ou +5,41 milhões ante expectativa de +5,39 milhões)

Rostagno entende que o dólar não deve ficar abaixo dos R$ 5,00 antes das eleições domésticas, atingindo um patamar entre R$ 5,00 e R$ 5,40 no segundo semestre, além do aumento dos juros nos Estados Unidos seguir como um fator que pode desvalorizar o real.

De acordo com o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, “o potencial (do dólar) de hoje é baixista. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) foi interpretada como hawkish (dura, propensa ao aumento dos juros) e abriu espaço para mais uma elevação de 0,5%”.

“Você adiciona uma recuperação que os agentes não esperavam. Pode ser que a Selic (taxa básica de juros) chegue em 13,75% e não pare. O principal risco abordado na ata foi o fiscal, que pode influenciar negativamente a inflação nos próximos anos”, analisa Sanchez.

Em sessão volátil, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam de lado, acompanhando bom humor externo, embalado especialmente pelo número de casas usadas vendidas nos Estados Unidos ter caído 3,4% em maio ante
abril, atingindo 5,41 milhões — a expectativa era de 5,39 milhões , e ata considerada dura pelo Copom.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,565% de 13,580% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,190%, de 13,195%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,465%, de 12,465% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,395% de 12,380%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,1520 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com os investidores precificando o aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e se recuperaram das perdas da última semana quando os índices tiveram o pior desempenho em dois anos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: +2,15%, 30.530,25 pontos
Nasdaq Composto: +2,51%, 11.069,3 pontos
S&P 500: +2,44%, 3.764,79 pontos

Com Paulo Holland / Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.