Bolsa fecha em alta sustentada pelas ações da economia interna e à espera do Copom; dólar encerra a R$ 5,27

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta mais moderada que Wall Street, em um dia de bastante volatilidade, em que as ações da economia doméstica sustentaram o índice com a expectativa de um fim do ciclo do aperto monetário e com as empresas de mineração e siderurgia em queda refletindo a queda das commodities no mercado internacional. É um processo de rotação de carteiras.

Os investidores aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), após o encerramento dos negócios, em que deve elevar os juros em 0,50 ponto porcentual (pp), consenso do mercado, a uma taxa de 13,75% ao ano (aa).

A atenção no evento de hoje é para as sinalizações para os próximos encontros.

A Via (VIIA3) liderou a alta do Ibovespa com a elevação de 11,48% e a Metalúrgica Gerdau S.A (GOAU4) foi destaque de queda em 4,32%. A Vale (VALE3) caiu 3,88%.

O principal índice da B3 avançou 0,39%, aos 103.774,68 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto subiu 0,13%, aos 104.380 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,1bilhões. Em Nova York, os índices encerraram em alta expressiva.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse que o mercado está focado na decisão do Copom, que será depois do fechamento, e em relação às ações está tendo rotação grande carteiras com setor de siderurgia e mineração caindo bastante e as empresas ligadas ao mercado interno, que sofreram muito recentemente, estão performando bem.

“A saída de commodities para mercado interno é bem visível quando a gente olha o Ibovespa-sobe levemente- e compara com o índice de Small Caps -sobe mais de 2%-e isso se deve com o mercado esperando o fim do ciclo da alta de juros. A pressão da elevação de juros vai diminuir e vai fazer com que os setores do mercado interno performa bem nos próximos em dias, semanas e meses”

O gestor da Galapagos Capital ressaltou que “vai ser interessante acompanhar o comunicado que o Banco Central (BC) vai soltar e quais serão os próximos passos”.

João Gabriel Abdouni, analista da Inversa, disse que a queda na expectativa dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs)-de curto e longo prazos recuam- por conta da desaceleração da inflação e acaba impactando positivamente “as ações de crescimento com múltiplos mais elevados estão em detrimento das empresas com custos mais baixos como Vale, Ambev e Gerdau [com desvalorização expressiva].

Nem mesmo o resultado robusto da Gerdau (GGBR4) -registrou lucro ajustado de R$ 4,29 bilhões no 2T22, alta de 27,6% ante o mesmo período de 2021 e anunciou pagamento de dividendos aos acionistas- ajudou as ações subirem.

Abdouni disse que a liquidez na Bolsa tem sido baixa com o saque de grandes fundos de ações, principalmente de investidor doméstico migrando de renda variável para renda fixa com a Selic alta.

Mais cedo, Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, tenta entender o movimento de hoje na Bolsa e acredita que pode ser “algum fluxo grande de desmonte de posição”.

Um outro analista que não quis se identificar afirmou que a “Vale está pesando no índice”.

O dólar comercial fechou em baixa de 0,01%, cotado a R$ 5,2760 na venda. O dia foi de muita volatilidade na performance da moeda americana. O mercado aguarda a decisão de logo mais do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Durante o dia, houve momentos de ganhos no dólar, garantidos pelas preocupações geopolíticas entre China e Estados Unidos e pelas incertezas em torno da política monetária norte-americana.

Em contrapartida, movimentos de correções e ajustes frente ao esperado aumento da Selic e o ingresso de recursos externos no país limitaram a valorização e até mantiveram o real firme. No balanço do dia, o dólar fechou praticamente inalterado.

A visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan ainda gerou ruídos, porém com a impressão de o pior já ter passado. O mercado ainda buscou pistas em falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), e um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) na reunião de setembro ganha força. Aqui, é quase consensual que a Selic irá subir 0,5 pp.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o dólar deve seguir em queda, e o novo aumento dos juros fortalece o real, já que contribui com o aumento do fluxo estrangeiro”.

Nagem, contudo, entende que o temor de medidas mais severas entre China e Estados Unidos continua, e o que o Brasil seria muito afetado, já que é parceiro comercial de ambos.

O presidente do Fed de St Louis, James Bullard, declarou, nesta manhã, que os juros podem chegar a 4% até o final do ano, mostrando uma postura hawkish (dura, propensa ao aumento dos juros).

Para o sócio da Ethimos Investimentos, Lucas Brigato, “o aumento de 0,5 ponto percentual (pp) na Selic já está, de certa forma, certo, e uma nova alta deve ser deixada em aberto”.

De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o desfecho menos dramático, até o momento, das tensões em Taiwan e o PMI chinês acima do esperado ofereceram espaço para uma recuperação das bolsas, após duas sessões negativas. Para ele, o dólar corrigiu, após forte alta de ontem. O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços chinês, que foi de 55,5 pontos em julho.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda com mercado aguardando comunicado do Copom. o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,790% de 13,785% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,275%, de 13,310%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,510%, de 12,675% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,480% de 12,635%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, revertendo parte das perdas da semana, à medida que os investidores se apoiaram em dados econômicos melhores do que o esperado que reduzem a ideia de que uma recessão é inevitável. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,29%, 32.812,50 pontos
Nasdaq Composto: +2,59%, 12.668,2 pontos
S&P 500: +1,56%, 4.155,17 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA