São Paulo – A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divulgou hoje os resultados do mercado de capitais até o terceiro trimestre de 2022. O valor total de janeiro a setembro ficou em R$ 402 bilhões, o que representa um recuo de 5,5% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Deste valor, R$ 331 bilhões foram investidos em renda fixa, R$ 52 bilhões em renda variável e R$ 18 bilhões em híbridos. A renda fixa teve uma alta expressivo de 25,6%, enquanto a variável recuou 57,8%, reflexo da alta dos juros e da volatilidade da bolsa diante de um quadro de recessão nas principais economias do globo.
O relatório mostrou ainda a forte ascensão dos CRA (Certificado de Recebimento do Agronegócio), com alta de 112,6%, e dos CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), com crescimento de 50,1%. Destaque também para o crescimento das debêntures, que avançou 26,5% em comparação ao mesmo período de 2021, alcançando o valor de R$ 205 bilhões em 351 emissões, com forte crescimento no setor de energia elétrica, que chegou a R$ 39 bilhões em emissões. Destaque para o desenvolvimento de parques eólicos e solares. Entre as emissões, 75 ultrapassaram a barreira de R$ 1 bilhão.
Outro dado divulgado foi que a maior parte das emissões em 2022 foi primária, representando 67,3% do total contra 32,7% da distribuição secundária. As emissões primárias totalizaram R$ 51,3 bilhões em 16 operações, com 60% em redução de passivos, 17,3% em aquisição de participação acionária e 15,9% em aquisição de ativos e ou atividades operacionais.
Para a Flávia Palácios, coordenadora da Comissão de Securitização da Associação, o guia de padronização dos documentos dos títulos de renda fixa tem crescido ao longo do mês, e tem aproximado o investidor aos produtos oferecidos.
“Isso facilita o trabalho e a compreensão do investidor, alavancando o mercado de capitais e trazendo este universo mais próximo do mercado secundário”, destacou Flávia, que enfatizou ainda o crescimento de 10,5% na securitização, sendo 56,3% das emissões de CRA indexadas ao IPCA.
Criado a partir de uma demanda das instituições, o documento tem como objetivo estabelecer um padrão de atuação entre os agentes de mercado, de modo a ampliar a eficiência e a transparência das informações previstas na emissão de títulos de renda fixa no Brasil.
Flávia afirmou que as empresas estão usando as alternativas de securitização para acessar o mercado de capitais. É uma forma indireta de entrar neste mercado, democratizando ainda mais o mercado de capitais, concluiu.
O vice-presidente da Anbima, José Eduardo Laloni, lembrou que a taxa de juros mais alta é um inibidor de investimento, mas a forte demanda em alguns setores tem mostrado que os juros altos não travam projetos de infraestruturas fundamentais para o crescimento do país, entre eles, ampliação de portos, aeroportos, estradas, saneamento e energia.
Laloni destacou também que a retomada gradual do IPO tem a ver com o nível da bolsa e o cenário externo mais propício para emissão de renda variável, e que em 2023 ainda será difícil para o mercado de capitais.
“O Brasil está preparado para passar por momentos assim. Temos produtos de renda fixa que absorvem os investimentos, em momento de alta de juros, mas teremos uma melhora na renda variável dependendo da evolução da economia do país”, ponderou o vice-presidente da Anbima.
A coordenadora da Comissão de Securitização da Associação comentou o aumento importante do Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), um tipo de fundo que investe nas cadeias produtivas da agroindústria, seja em imóveis ligados ao setor ou na própria atividade.
Dos R$ 6,1 bilhões acumulados entre agosto de 2021 a setembro de 2022, mais de 80% das emissões foram adquiridas por pessoas físicas, e 78,8% foram investidos em Títulos de Valores Imobiliários. Ao todo, foram oferecidos 29 fundos no mercado de capitais.
Sobre o mercado de capitais externo, as emissões somam US$ 5 bilhões, com US$ 3,9 bilhões captados por empresas, e US$ 1 bilhão captado por instituições financeiras. Cerca de 40% das emissões têm prazos de 6 a 10 anos, e a taxa média de remuneração foi de 5,6%. Ao todo foram feitas 10 emissões.