Mercado começa a precificar resultado das eleições e aposta em varejo, construção e educação

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São Paulo – O mercado financeiro começa a precificar resultado das eleições, com corretoras apostando na baixa das estatais federais e na alta de ações ligadas à construção e educação após a vitória do candidato Lula, do Partido dos Trabalhadores, na noite de ontem (30/10).

Segundo a XP, o tom do mercado nos próximos dias devem ser parecidos com o da véspera da eleição, com as ações das estatais ainda voláteis, dada a persistente incerteza em relação às suas políticas futuras. “No caso do Banco do Brasil (BBAS3), essas questões giram em torno das linhas de concessão de crédito subsidiadas. Para a Petrobras (PETR4), as principais questões são em relação à futura política de precificação de combustíveis, bem como seus programas de investimentos futuros”, opina a XP.

“Também vale atenção à volatilidade do Real em relação ao Dólar nas próximas semanas, além da curva de juros futura, que precifica a trajetória da política monetária brasileira adiante”, acrescenta.

A XP lembra que, na semana passada, os ativos brasileiros tiveram desempenho fraco e inferior ao dos mercados globais. O Ibovespa caiu 4,5% e o real desvalorizou 2,5%, com o mercado precificando menores chances de reeleição do presidente Bolsonaro. As ações das empresas estatais estiveram entre as maiores quedas, já que tanto a Petrobras (PETR4) quanto o Banco do Brasil (BBAS3) caíram mais de 13% durante a semana.

Por outro lado, as ações do setor de educação tiveram um forte desempenho, com Yduqs (YDUQ3) subindo 22% e Cogna (COGN3) 9%. Algumas ações do varejo e construtoras de baixa renda também tiveram bom desempenho, com a Magalu (MGLU3) com uma alta de 5,5% e MRV (MRVE3) com alta de 5,2%. Esses são os setores que tendem a ser favorecidos na presidência de um governo do presidente Lula: varejo, construtoras de baixa renda e educação.

“Acreditamos que a volatilidade pode seguir alta e talvez aumentar nas próximas semanas, dada a incerteza quanto à política fiscal do novo governo, bem como quais serão os nomes da nova equipe econômica de Lula”, opina a XP.

Re-balanceamento de posições

Em seu boletim matinal, a Genial disse que após a vitória do candidato Lula ontem, espera que o mercado faça um re-balanceamento de posições e que as estatais federais sofressem hoje, citando queda de 10% da ADR da Petrobras no mercado americano. “Por outro lado, empresas relacionadas a alguns programas de desenvolvimento como Minha Casa Minha Vida e educacional devam performar melhor. Empresas estatais estaduais também devem refletir o resultado das escolhas de governador, como a Sabesp”, comentaram os analistas.

“Cesta Bolsonaro vs. Cesta Lula”

A Guide esperava uma reação negativa do Ibovespa, com o grosso desta performance recaindo sobre as estatais, Petrobras e Banco do Brasil. Do lado positivo, empresas mais associadas aos planos de governo de Lula, como empresas produtoras de alimentos (ou varejistas), construtoras focadas em baixa renda e empresas de educação devem ter desempenho positivo.

Segundo a análise comparativa entre os desempenhos dos dois grupos de ações, que a Guide chama de “Cesta Bolsonaro” (Petrobras, BB e Sabesp) e “Cesta Lula” (Ambev, Assaí, Direcional, MRV, Yduqs, Ser, Randon e Marcopolo), não houve muita diferença desde setembro, refletindo a falta de convicção dos investidores em qual candidato seria vitorioso nas eleições, na visão da Guide.

“A consequência natural disto é que o ajuste será feito no pregão desta segunda-feira. Esperamos alta da cesta Lula, particularmente nomes como Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3) no setor de varejo e nomes como Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) na parte de educação, além de Direcional (DIRR3) entre as construtoras focadas em baixa renda”, comenta a Guide.

O plano de governo de Lula ainda fala da volta do BNDES e investimentos em bens de capital. “Acreditamos que esta parte do programa será a de mais difícil implementação dado que gerou maiores problemas no passado e pelo pouco tempo para se implementar tantas medidas. O plano de governo de Lula fala abertamente da retomada de programas de governos anteriores do PT. Mas estes programas foram implementados ao longo de 12 anos, não 4. E o congresso parece menos amigável neste momento que em qualquer outro governo do PT”, finaliza a Guide.

Cenários

Em uma análise ampla, a Ativa Investimentos analisa os impactos do resultado eleitoral para as ações em diversos cenários:

– Empresas que devem se beneficiar da queda dos juros e de uma gradual recuperação econômica: o setor de varejo (Assaí, ASAI3; Lojas Rener, LREN3; Grupo Soma, SOMA3; Arezzo, ARZZ3; Magazine Luiza, MGLU3) está bem posicionado para capturar o contexto redução dos juros e melhora gradual Localiza (RENT3) e Multiplan (MULT3), também possuem características de se beneficiar da redução dos juros.

– Empresas que podem gerar valor e que possuem uma trajetória mais independente: Eletrobras (ELET3, ELET6) e Sabesp (SBSP3). A Ativa acredita que a o novo governo não voltará atrás na privatização da elétrica e que a empresa deve melhorar ainda mais sua gestão, alocação de capital e aumentar o pagamento de dividendos. Na Sabesp, após a vitória do candidato Tarcísio para o governo do estado de São Paulo, acredita que a empresa possa evoluir através de ações de melhoria gerencial, avanços regulatórios e financeiros e que o valor atual do papel ainda não contempla os eventuais benefícios, além de uma possível privatização como opcionalidade.

– Commodities: Minerva (BEEF3), pois possui negócios na América do Sul e se beneficiará do ciclo do boi mais favorável e das exportações. Em petróleo, por ver muita assimetria e um alto risco da commodity atingir novas altas, prefere PetroRio (PRIO3) por ser privada e poder capturar esse movimento de forma integral, sem ruídos políticos. “Petrobras (PETR3, PETR4), ainda gostamos mas estamos atento aos nomes que devem surgir para comandar a estatal e ditar os novos rumos”, diz a Ativa.

– Efeito Lula: um possível incentivo maior nas políticas sociais, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida (MCMV) e FIES, construtoras de baixa renda (MRV MRVE3, Direcional DIRR3, Tenda TEND3) e o setor de educação (Yduqs YDUQS3, Cogna COGN3, Anima ANIM3, Ser SEER3) podem se beneficiar e aproveitar o momento.

– Caso haja maior risco para a inflação, juros e câmbio, a Ativa vê benefício para empresas exportadoras (Suzano SUZB3, SLC Agrícola SLCE3) e/ou empresas que possuem proteção natural contra a inflação, como transmissoras de energia (Isa Cteep TRPL4, Taesa TAEES11).