São Paulo – A Bolsa rompe a sequência de quedas e fecha no positivo em um dia de bastante volatilidade em que os investidores ficaram mais animados com a possibilidade de uma PEC mais alternativa com a proposta de R$ 70 bilhões fora do teto de gastos e não mais os quase R$ 200 bilhões sugeridos pelo governo eleito.
Somado a isso, as ações das empresas ligadas à economia doméstica, como varejistas, construção, de tecnologia, se recuperaram e tiveram destaque de alta acompanhando a queda na curva de juros futuros. Magazine Luiza (MGLU3) subiu 7,30%.
Os papéis da Copel (CPLE6) dispararam na Bolsa devido à notícia de que o governo do Paraná pode deixar o controle da empresa e contagiou a Sanepar (SAPR11) e Cemig (CMIG4). As ações da Copel (CPLE6) fecharam em alta de 22,06%.; Sanepar (SAPR11) avançou 14,90% e Cemig (CMIG4) aumentou 7,54%.
Em contrapartida, as empresas de mineração e siderurgia caíram refletindo as imposições de novas medidas de restrições para enfrentar a covid-19. A Vale (VALE3) chegou a cair mais de 2% e fechou em queda de 1,12%.
Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) fecharam mistos em meio, chegaram a subir na abertura dos negócios, depois caiu com a notícia de que a Arábia Saudita teria a intenção de aumentar a produção de barris de petróleo. Analistas disseram que autoridades do país desmentiram a informação. O petróleo chegou a cair forte, mas se recuperou.
O principal índice da B3 subiu 0,80%, aos 109.748,18 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro aumentou 0,96%, aos 110.640 pontos. A mínima do interdiário foi de 107.957,01 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, disse que a alta do Ibovespa vem depois de uma semana de forte queda “com a nova proposta da PEC alternativa ajudando a retomar a confiança do investidor, que enxerga que o furto do teto pode ser menor que o esperado”.
Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse a alta de algumas estatais, principalmente de energia elétrica, por conta do efeito Copel devido à possível privatização “ajuda a puxar o índice na sessão de hoje”. Outras ações que puxam o índice, segundo Lage, são os papéis do setor varejista “com a recuperação em relação à caixa e aumento de vendas no período de datas festivas como Copa do Mundo e Natal”.
Mais cedo, um analista que não quis se identificar disse que a Bolsa passou a devolver os ganhos “refletindo a virada dos papéis da Petrobras com a Arábia Saudita dizendo que pretende aumentar a produção do petróleo”.
Mais cedo, Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos, comentou que as commodities estão pesando aqui na Bolsa. “A Petrobras passou a se desvalorizar com a notícia da Arábia Saudita em aumentar o preço e a Vale já vinha caindo com a China apertando as medidas restrições. Os dois fatores ajudam na diminuição de projeção de aumento de consumo”.
O operador de renda variável da SVN Investimentos disse que os fatores externos também ajudam no ambiente mais desfavorável para a Bolsa. “Os dados nos EUA abaixo do esperado mostrando que a economia por lá está desacelerando, Europa não tem sinais de recuperação e China que tinha chance de voltar e animar mercado de commodities volta com as restrições e piora tudo”.
Em relação ao novo governo eleito, Souza afirmou que a partir de amanhã, o Lula deve participar com mais intensidade no time de transição e, “a hora que essa PEC começar a ser desidratada, o mercado pode reagir de forma positiva.
Mais cedo, Ubirajara Silva, Gestor da Galapagos Capital, disse que começaram as negociações em torno da PEC da Transição e “no fim de semana as notícias foram relativamente positivas; o Congresso veio com uma contraproposta com um gasto bem menor que o novo governo propôs e impacta na abertura apesar do aumento dos casos de covid na China e o reflexo nas ações da Vale”.
Outra notícia que pode ser favorável é que o Lula “deve anunciar alguns ministérios e fica a expectativa de quem vai tocar a economia a partir do ano que vem”.
O dólar comercial fechou em queda de 1,22%, cotado a R$ 5,3120. O mercado entende que o governo do presidente eleito, Lula (PT), caminha para uma política fiscal mais equilibrada, o que favorece a moeda brasileira.
Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “mais importante que o teto, é quem será o ministro da Economia. Se for alguém mais técnico, mesmo que o teto for rompido, o dólar pode chegar em R$ 5,00 no próximo trimestre. O mercado tolera alguma quebra de teto, mas tem um limite para isso”. Santana usa como exemplo o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que, apesar de ser um nome tido como técnico, também quebrou o teto de gastos.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “vamos precisar monitorar se o texto do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, vai obter as assinaturas suficientes para ser aprovado. O mercado está encarando isso de modo positivo, já que o furo diminui para R$ 70 bilhões”. O texto também exige uma âncora fiscal até o dia 17 de julho de 2023, data limite para a aprovação das leis de diretrizes orçamentárias de 2024 – base para o Projeto de Lei Orçamentária Anual.
Komura acredita que o dólar ainda tem espaço para cair, já que fatores domésticos prejudicaram a moeda brasileira nas últimas semanas, podendo chegar na casa dos R$ 5,10.
De acordo com o boletim da Ajax Asset, “as bolsas chinesas voltaram a recuar com impactos negativos nos ativos de risco. Investidores temem que a política dura contra a Covid-19 possa a ser aplicada por mais tempo”.
Já no cenário doméstico, a preocupação segue sendo o fiscal: “Negociações em torno da PEC da Transição continuarão a dar o tom para os mercados domésticos. Lula moderou discurso em Lisboa ao defender a estabilidade fiscal”, analisa a Ajax.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda com expectativa de que o Congresso limite o escopo e a duração da PEC da Transição. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,692% de
13,700% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,260%, de 14,335%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,545%, de 13,715% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,250% de 13,400%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,3090 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, após um pregão de alta instabilidade, com Wall Street atenta ao aumento de casos por covid-19 na China e um baixo número de negociações devido ao feriado de Ação de Graças nesta semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,13%, 33.700,28 pontos
Nasdaq 100: -1,09%, 11.025,0 pontos
S&P 500: -0,38%, 3.949,94 pontos
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.
