Bolsa fecha em alta, mas encerra semana em leve queda, após ruídos do novo governo

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta pelo terceiro dia seguido impulsionada pelo payroll misto que pode sinalizar um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) menos agressivo e, no ambiente interno, alguns analistas apostam em um alívio momentâneo em relação ao novo governo, mas as opiniões divergem. A primeira semana do ano encerrou em queda de 0,70% marcada por vários ruídos e na reunião ministerial de hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a importância de seus ministros terem uma boa relação com o Congresso, dando a entender que o governo buscará o consenso entre todos os poderes.

Mais cedo foi divulgado o relatório de emprego nos Estados Unidos. O país criou 223 mil vagas em dezembro e o mercado previa a abertura de 180 mil. Já os salários cresceram menos que o esperado pelos analistas, aumentaram 0,3% e os analistas esperavam alta de 0,4%.

As commodities metálicas fecharam em alta. Vale (VALE3) encerrou em alta de 1,58%. Em contrapartida a Petrobras (PETR3 e PETr4) caiu 0,62% e 0,58%.

O principal índice da B3 subiu 1,22%, aos 108.963,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 1,20%, aos 110.520 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas operavam em alta.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS, disse o payroll puxou a Bolsa e ajudou o índice a atingir o patamar dos 109 mil pontos, mas “a falta de notícias internas contribuiu para a desaceleração do Ibovespa ao longo da sessão, especialmente após a divulgação da primeira fase da reunião ministerial do novo governo, que não trouxe fatores motivadores; o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mencionou qualquer plano ou projeto específico para a economia”.

Leonardo de Santana, analista da Top Gain, disse que a Bolsa “tem um alívio momentâneo, mas a cautela ainda se mantém em relação ao novo governo; payroll veio levemente pior que o esperado, mas melhor que o anterior, teve uma redução do ganho médio por hora trabalhada, ou seja, mais pessoas estão trabalhando, porém, ganhando menos e animou o mercado”.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que a reunião ministerial e o payroll ajudaram a impulsionar a Bolsa.

“O mercado entendeu que a função dos ministros é manter um bom relacionamento com o Congresso e deixar para quem entende opinar o que tem de ser feito; o payroll misto [criação de vagas acima das expectativas e salários abaixo das projeções] gera um sentimento de que a criação de vagas com salários menores não teria impacto tão forte na expansão da base monetária, que é o principal nível de desequilíbrio atual para a inflação”.

Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, disse que a reunião ministerial foi importante para dar uma direção à equipe do novo governo. “O Lula tem de trazer um pouco mais de alinhamento, precisa saber qual é esse alinhamento, qual é a linha mestra, se fecha a conta em termos de dívida pública ou se vai levar a dívida pública para patamares altos”.

Levy afirmou que os dados do payroll confirmam que o “Fed ainda não podem afrouxar juros”.

O dólar fechou em queda de 2,13%, cotado a R$ 5,2370. Os drivers do dia foram o payroll (folha de pagamento) nos Estados Unidos e a sinalização de maior equilíbrio fiscal no Governo recém-empossado. Na semana, o dólar caiu 0,80%.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o que ficou claro é que as primeiras sinalizações dos ministros não agradaram o mercado. A reunião ministerial foi muito importante para demonstrar a tentativa de alinhamento. Ficou claro que eles vão tentar minimizar os ruídos, o que melhora a percepção fiscal”.

Foram criados nos Estados Unidos, em dezembro, 223 mil postos de trabalho ante projeções de 180 mil. A taxa de desemprego foi a 3,5%, abaixo da previsão (3,7%). Já o salário médio por hora, no setor privado, foi de US$ 32.82, um aumento de 0,3% – as previsões do mercado eram um aumento de 0,4% nos salários.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o payroll gerou alívio nos investidores, especialmente nos salários que começaram a arrefecer. Se continuar este movimento, é um indício que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) talvez seja próximo do final do ciclo de aperto monetário”.

Borsoi entende que o cenário positivo para o real também é potencializado pela melhora no ambiente fiscal e político doméstico.

De acordo com o relatório da Guide Investimentos, “o mercado conseguiu recuperar parte das perdas do começo da semana após Rui Costa afirmar que não tem discussões sobre uma alteração na reforma da previdência e depois do discurso de Simone Tebet ontem reafirmar sua visão mais liberal, fazendo contraponto aos seus pares da gestão econômica. Entretanto, para hoje, o mercado norte-americano deve ser mais definitivo para definir o desempenho local”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda, com esforços de aparar arestas na primeira semana de novo governo. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,620% de 13,695% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,900%, de 13,105%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,810%, de 13,025%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,820% de 13,040% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,2410 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos devem fechar em campo positivo, depois que o relatório de empregos de dezembro e uma pesquisa de atividade econômica mostraram sinais de que a inflação pode estar esfriando à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobe as taxas de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +2,13%, 33.630,61 pontos
Nasdaq 100: +2,56%, 10.569,3 pontos
S&P 500: +2,28%, 3.895,08 pontos

Confira a variação dos índices na semana:

Dow Jones: +1,46%
Nasdaq 100: +0,95%
S&P 500: +1,44%

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.