Ações da Americanas despencam e voltam a leilões após acusação de fraude pelo BTG; veja análises

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São Paulo – As ações da Americanas (AMER3) voltaram à queda livre após a companhia obter liminar que suspendeu o bloqueio de bens da companhia e e adiou pagamento de dívidas estimadas em R$ 40 bilhões, obtido junto à 4a. Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), na última sexta-feira (13/01). Logo abertura, o papel caiu 23,81%, aos R$ 2,40, e entrou rapidamente em vários leilões. Por volta das 13h45 caía 41,58%, a R$ 1,85, antes de entrar em leilão novamente devido a oscilacao em relacao ao preco referencial 1.91 superior a oscilacao maxima permitida 1.50%.

Durante o fim de semana, o BTG tentou, sem sucesso, derrubar na Justiça o bloqueio de execuções obtido pela varejista.

No agravo de instrumento apresentado ao TJRJ contra a decisão do juiz Paulo Assed Estefan, que aceitou pedido da Americanas para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência, o BTG acusa a Americanas de fraude.

“Demonstramos que não há direito subjetivo à recuperação judicial futura, que mereça proteção cautelar, pois a crise econômico-financeira da Companhia foi causada por uma fraude confessada pelo antigo CEO da Companhia e atual assessor dos acionistas de referência.” Isso por que, ao mesmo tempo em que anunciou a sua saída do comando da companhia, o ex-banqueiro se apresentou como assessor dos “acionistas de referência” da Americanas -leia-se os fundadores do 3G Capital, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, segundo informações do jornal “O Globo”.

Os credores da Americanas, entre os quais o BTG Pactual, “reclamam tutela de urgência, com vistas a resguardar o resultado útil de futuro processo Recuperacional, pretendendo conferir tratamento jurídico à crise experimentada pelas sociedades e evitar iminente dano irreparável”, diz o agravo.

As “inconsistências” de R$ 20 bilhões, na avaliação das Requerentes, “exigirão reajustes nos lançamentos da Companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa e/ou volume de capital de giro, implicando, por via reflexa, no descumprimento de covenants financeiros previstos em contratos, inclusive estrangeiros, acarretando o vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões.”

“As Requerentes noticiam que praticamente todos os contratos financeiros firmados pelo Grupo Empresarial possuem cláusulas de vencimento antecipado, o que justifica o risco de insolvência das sociedades, na medida em que, segundo afirmam, as instituições financeiras podem se apropriar de valores existentes em contas correntes e de investimentos, de forma administrativa, em razão das cláusulas contratuais, para compensação dos seus créditos, inviabilizando o exercício da atividade empresarial.”

ANÁLISES

De acordo com um gestor de recursos que tinha alocação em fundos com aporte na Americanas até outubro do ano passado, “ninguém está entendendo o que está acontecendo com a companhia, então agora fica difícil se posicionar”, comentou.

A Levante lembra que, entre os principais credores da companhia, estão os bancos Bradesco, Santander, Itaú, Safra e BTG e que eles pediam que seus acionistas de referência, o trio de bilionários Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann, injetem inicialmente ao menos R$ 10 bilhões na Americanas, como parte do plano para resgatá-la. Entretanto, o pedido de Tutela Cautelar da organização pegou os credores de surpresa, elevando o clima de tensão e desconfiança entre ela e os bancos, visto que a empresa omitiu durante as reuniões da sexta-feira que já havia protocolado o pedido na Justiça, tendo a maioria dos credores recebido a informação através da imprensa.

“Em nossa visão, a Americanas deverá agora negociar um aumento de capital junto aos bancos, enquanto organiza os documentos necessários para solicitar uma Recuperação Judicial (RJ), que, considerando o tamanho da dívida e a quantidade de credores envolvidos, deve ser a alternativa mais provável”, escreve o time de analistas da Levante.

A Genial Investimentos recomenda vender as ações AMER3 após a obtenção da medida de tutela de urgência cautelar pela varejista, citando que essa decisão é uma forma de proteção de liquidez para a companhia, uma vez que suspende toda e qualquer possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora de bens, mas que a decisão ainda não significa uma Recuperação Judicial.

A corretora explica que a companhia tem um prazo de 30 dias para avaliar e pedir uma RJ, se assim achar necessária.

“Na nossa visão, todos os pontos de valor da Americanas estão indo ralo abaixo: piora na alavancagem financeira, encarecimento do custo de capital, compressão de margens e crescimento de top line em cheque. Essa será mais uma semana turbulenta para os acionistas de AMER3 e reiteramos nossa recomendação de não pegar a faca caindo. Para ganhar liquidez, além de uma capitalização de acionistas de referência, a varejista poderá botar a venda dois de seus ativos valiosos para a tese: sua parceria com a Vibra, Vem Conveniência, e o Hortifruti Natural da Terra. A ver”, comentou a Genial, que recomenda venda com preço-alvo em revisão.

Os analistas da Genial também esperam um impacto negativo nos resultados das instituições financeiras que possuem títulos de dívida com a Americanas devido a marcação a mercado de debêntures e aumento de provisões em 30% do montante de empréstimos sem garantia após a Americanas entrar em recuperação judicial.

A XP manteve a recomendação sob revisão. “Acreditamos que a companhia trabalhará em dois caminhos: negociação de uma injeção de capital com os bancos, que estimamos entre R$10-20 bilhões (vs. atual valor de mercado de AMER3 de R$2,8 bilhões); e organização dos documentos necessários para solicitação de uma Recuperação Judicial, o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos”, comentou.

A Mirae Asset avalia que esse é o grande assunto local desta segunda-feira. “Com agenda esvaziada, com todas as atenções voltadas para o escândalo da Americanas. O BTG, um dos credores (R$ 1,9 bilhões a receber), já se posicionou contra o recurso de sexta-feira, redigindo uma carta pesada contra os acionistas. Uma batalha de titãs entre BTG e a tríade do 3G deve se desenrolar”, escreveu o economista-chefe da Mirae, em relatório matinal.

Justiça do Rio suspende bloqueio de bens do Grupo Americanas

A Justiça do Rio concedeu na última sexta-feira (13) tutela cautelar antecedente pedida pelo Grupo Americanas. A decisão suspende toda e qualquer possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação da companhia de pagar suas dívidas até que um provável pedido de recuperação judicial seja feito à Justiça.

Em seu pedido de tutela, a Americanas afirmou que a descoberta do rombo contábil de R$ 20 bilhões, referente a exercícios anteriores – incluindo o ano de 2022 -, anunciado na quarta-feira (11), pode acarretar “no vencimento imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”.

A empresa disse que praticamente todos os contratos financeiros possuem cláusulas de vencimento antecipado, o que justifica o risco de insolvência. Segundo afirma, as instituições financeiras podem se apropriar de valores existentes em contas correntes e de investimentos, de forma administrativa, em razão das cláusulas contratuais, para compensação dos seus créditos, inviabilizando o exercício da atividade empresarial.

Alguns credores já estariam promovendo notificação da companhia, para declarar o vencimento antecipado das obrigações, com constrição de recursos em montante superior a R$ 1,2 bilhão, como foi feito pelo Banco BTG Pactual.

“Ante a instantaneidade dos efeitos deletérios desta situação fática, na medida em que o fato relevante foi apresentado ao mercado em 11.01.2023 e as constrições já estão sendo efetivadas na data de hoje, 13.01.2023, é plenamente justificável o deferimento da medida, com vistas a evitar o exaurimento de todos os ativos da Companhia, por credores altamente qualificados, em detrimento dos demais credores, e, principalmente, da própria manutenção da atividade econômica”, escreveu o juiz Paulo Assed Estefan na decisão.

O magistrado nomeou como administradores judiciais, para funcionar já durante o período da cautelar, a empresa Preserva-Ação, na pessoa de seu sócio administrador Bruno Rezende, e o Escritório de Advocacia Zveiter.

A Administração Judicial deverá apresentar, no prazo de 30 dias corridos, relatório circunstanciado e pormenorizado das atividades do grupo, as providências que estão sendo implementadas pelo “comitê independente do Grupo Americanas”; mas não se limitando a estas, a fim de franquear aos credores e demais interessados, o acesso às informações.

O juiz fixou prazo improrrogável de 30 dias corridos, para que a empresa apresente o pedido de recuperação judicial, sob pena de perda imediata da eficácia da medida cautelar deferida.

BTG PACTUAL

A justiça negou o pedido do BTG Pactual contra a suspensão de pagamento de dívidas da Americanas. Bradesco e BTG são os maiores bancos credores da companhia, possuindo cada um cerca de R$ 4 bilhões, entre empréstimos e debêntures encarteiradas com a varejista, segundo o site Broadcast.

Segundo o jornal Valor, estima-se que o BTG possui R $1,9 bilhão e o Santander seria o segundo maior credor, com R$ 3,7 bilhões, seguido pelo Bradesco, com R$ 4,8 bilhões.

Com Emerson Lopes / Agência CMA.