Bolsa fecha em alta com fala de ministro descartando interferência no BC; Dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta e o alívio veio com a fala do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que descartou qualquer interferência por parte do governo no Banco Central (BC), que hoje funciona de forma autônoma.

A declaração do ministro foi dada após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer na véspera, que “é uma bobagem” acreditar que um Banco Central independente faça mais que um indicado pelo presidente da República. A fala de Lula repercutiu mal no mercado. A Bolsa passou boa parte do pregão no negativo digerindo declarações do presidente.

Outro fator que ajudou a impulsionar o índice foi a valorização das empresas ligadas às commodities. Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3), ações que representam mais de 25%, subiram respectivamente 3,39% e 3,03% e 0,42%.

No front corporativo, a notícia esperada pelo mercado foi o pedido de recuperação judicial da Americanas e que levou a empresa a sair dos índices da Bolsa brasileira. “A saída da Americanas do mercado é positivo para outras varejistas como Magazine Luiza (MGLU3) e Mercado Livre (MELI34), talvez Via (VIIA3) não suba tanto porque não tem fôlego como as anteriores e também o mercado não acredita que possa levar essa fatia”, segundo Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos.

O principal índice da B3 subiu 0,61%, aos 112.921,88 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,65%, aos 113.705 pontos. O giro financeiro era de R$ 24,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa passou a firmar alta com “a rejeição do ministro Padilha [Relações Institucionais] das falas do presidente Lula sobre a independência do BC”.

Lage disse que com a recuperação judicial da Americanas, “as ações saem do Ibovespa, mas isso não muda para o investidor de longo prazo, tendo em vista que a ação já caiu bastante, mas causa uma pressão vendedora porque alguns fundos só podem estar posicionados em Americanas se estiverem no índice Bovespa”.

Um outro analista do mercado financeiro disse que falas da ministra do Planejamento, Simone Tebet, também ajudaram o bom humor da Bolsa. “Ela disse que promete ser a voz moderada na equipe econômica e que vai defender que o governo faça a lição de casa para permitir que o BC abaixe os juros”.

Mais cedo, Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse a Bolsa tem leve queda em um dia volátil com o mercado tentando digerindo as falas da véspera de Lula.

“O presidente comentou sobre independência do Banco Central, possibilidade de subir a faixa de isenção do IR, todos os aspectos que trazem preocupação para o mercado; não tem grande novidade, mas são declarações que vão ao desencontro com o time de Economia, que o próprio Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] vem sinalizando para o mercado com atenção ao fiscal e o Lula indo contra esse ponto”.

Em contrapartida, as commodities seguem em alta com a reabertura na China, segundo Hashimoto, e isso favorece empresas do Ibovespa.

O sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos disse que o mercado deve ficar atento às falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, agora à tarde. “Ele deve rebater o que sinalizou Lula”.

Ainda aqui, o mercado fica atento à Americanas. “Segue em embate grande e hoje pode sair a recuperação judicial e lá fora o mercado está mais de olho nas falas de dirigentes do Fed, que seguem na toada de aperto monetário”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,15%, cotado a R$ 5,1690. O mercado, no início da sessão, reagiu mal às falas de Lula, ontem na Globo News, quando o presidente questionou a autonomia do Banco Central (BC) e as metas de inflação. Ao longo do dia, contudo, a moeda brasileira reagiu e fechou próxima à estabilidade.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “apesar das falas do Lula, eu acho que o que está mais pegando são os juros. O real opera em linha com seus pares, por enquanto ainda é muita especulação”.

Weigt classifica o mercado como “bipolar”: “O movimento nos Estados Unidos é positivo para a gente, especialmente a taxa longa”, pontua.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) desaceleraram, mas fecharam em alta após fala do presidente Lula, nesta quarta-feira (18), sobre o Banco Central.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,480% de 13,465% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,585%, de 12,545%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,485%, de 12,430%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,500% de 12,440% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1690 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, à medida que os investidores ficaram cada vez mais preocupados se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) continuará elevando as taxas de juros, apesar dos sinais de desaceleração da inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos
após o fechamento:

Dow Jones: -0,76%, 33.044,56 pontos
Nasdaq 100: -0,96%, 10.852 pontos
S&P 500: -0,76%, 3.898,85 pontos

Pedro do Val de Carvalho Gil / Paulo Holland / Darlan Azevedo