No painel “Panorama global mundial: é o fim de uma era?”, que aconteceu hoje no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, a presidente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que a perspectiva da economia mundial melhorou para este ano, mas ainda não é a ideal. “É menos pior do que prevíamos no ano passado, mas isso não quer dizer que está bom”. “Nós reduzimos três vezes a previsão de crescimento no ano passado, mas não reduzimos mais neste ano, e isso já é bom”.
A inflação vem caindo aos poucos, e a China está reabrindo depois da pandemia, mas ainda sim devemos ter cuidado. “É o terceiro ano de crescimento baixo; não sabemos como a inflação vai baixar; a notícia da China crescendo mais e o aumento no consumo de petróleo, o que aumenta a inflação; e a guerra horrível na Ucrânia, com o risco para a população e para a confiança especialmente na Europa”.
Ela acredita que as taxas de juros devem crescer mais, especialmente com o mercado de trabalho aquecido. “Mas poderemos ver o desemprego aumentando, e menos espaço para políticas fiscais por parte dos governos ajudar os mais vulneráveis, e eles estarão pressionados para isso”.
Ela citou a guerra na Ucrânia, e os riscos que ela implica para o mundo. “Os gastos que estamos tendo com a guerra, nós poderíamos ter para o desenvolvimento dos países. O resultado são mais pessoas pobres e com fome. Esta guerra é contra a prosperidade do mundo”.
O professor da Harvard Kennedy School of Government, Larry Summers, participou do debate, falando que a inflação está caindo, mas ainda não é hora de relaxar as políticas monetárias. “A maior tragédia seria se os bancos saíssem dessa trajetória mais cedo e tivermos que enfrentar esta batalha novamente”.
O Inflation Reduction Act (IRA), o mecanismo do governo norte-americano para investir na transição energética, foi debatido no painel. “É uma medida histórica. Se todos nós competirmos sobre tecnologia verde, é uma competição saudável”.
Ele também falou dos riscos de uma volta da Covid. Eu observaria que as chances, na minha opinião, são melhores do que 50-50 de que haverá um problema em escala de Covid nos próximos 15 anos e que o mundo está totalmente despreparado para essa eventualidade, disse ele.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, concorda com Georgieva sobre as perspectivas econômicas para 2023, que não são tão sombrias quanto as previsões diziam. Mas não acredita que o mundo, e a Europa, terá a mesma resiliência de 2022. “As políticas fiscais devem ser feitas de forma mais sutil. O suporte fiscal deve ser mais bem direcionado, com alvo definido, para evitar que as políticas monetárias sejam mais restritivas”.
Sobre a reabertura da China, ela disse que é bom de um lado, por conta do crescimento, mas o risco de inflação existe. “A reabertura da China será positiva para o país e para o mundo, mas vai trazer pressões inflacionárias, com o aumento no consumo de energia, e não temos folga de capacidade para suprir o aumento da demanda”.
O governador do Banco do Japão (BoJ), Haruhiko Kuroda, falou da realidade do Japão, de uma política fiscal bastante relaxada. A economia japonesa está se recuperando da pandemia. Tivemos crescimento de 2% em 2022, o mercado de trabalho está ficando apertado e os salários devem subir mais rápido”.
Sobre a inflação japonesa, que atingiu 4% em dezembro, ele disse acreditar que “deve reduzir para a meta de 2% durante o ano. O crescimento é temporário por conta do aumento dos preços da energia, mas não devem se manter. Vamos manter a política acomodatícia”.
O ministro das Finanças e Economia da França, Bruno La Maire, falou da unidade da Europa nos últimos anos, e que está mais unida ainda com a guerra na Ucrânia. “Precisamos terminar com a guerra, que pode se alongar mais. Não é um conflito regional, é um conflito global, tem um impacto direto no nível dos preços, nossos valores principais estão em risco. O princípio da soberania nunca deve ser enfraquecido”.
Sobre o IRA, La Maire disse que a competição é boa, e que deve incluir a China. “O IRA foi algo bom que o governo fez nos Estados Unidos. A Europa deve fazer o mesmo”. Ele falou sobre os riscos de protecionismo no desenvolvimento de tecnologias verdes. “Não é uma questão de ‘os Estados Unidos primeiro’ ou ‘a Europa primeiro’, e sim o clima primeiro. Tem espaço para todo mundo”.