Bolsa rompe sequência de 3 altas e fecha em queda por bancões e efeito Lula; Americanas diz “good bye” ; Dólar sobe

960

São Paulo – A Bolsa rompe a sequência de três altas e fecha em queda empurrada pelos grandes bancos e ainda refletiu as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a autonomia do Banco Central e a crítica em relação às atuais metas de inflação.

O caso da Americanas (AMER3) também ficou no radar do investidor. O Ibovespa fechou mais uma semana em alta de 1,01%.

A partir do fechamento de hoje, a Americanas (AMER3) será excluída de todos os índices da B3, inclusive do Ibovespa por conta do pedido de recuperação judicial. A queda da ação foi de 29%, cotada a R$ 0,71.

As ações do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) caíram 1,90% e 1,41%. Itaú (ITUB4) perdeu 1,76% e Santander (SANB11) cedeu 1,28%.

O principal índice da B3 caiu 0,78%, aos 112.040,64 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,60%, aos 112.840 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, disse que o dia o setor financeiro puxou o índice para baixo e “o mercado acabou formando preço negativo com as críticas do presidente Lula sobre autonomia do Banco Central e consequências sobre algumas devoluções de recursos da Americanas que foram bloqueados por alguns dos principais bancos”.

Arlindo Souza, analista de ações da casa de análises do TC, disse que a Bolsa recua puxada pelos grandes bancos. “A queda reflete temores do mercado em relação à exposição dos bancos com o caso da Americanas (AMER3), com possível default, e como isso impactaria em seus balanços”.

Bruna Sena, analista de investimentos da Nova Futura, disse que um conjunto de fatores do ambiente doméstico impacta na Bolsa. “O dia de vencimento de opções sobre ações traz volatilidade, a desconfiança do mercado às falas do Lula sendo que a chance de mexer na autonomia do Banco Central é remota, mas na política de metas ele tem mais poder e isso cria um certo desconforto ao mercado”.

A analista de investimentos da Nova Futura também disse que o mercado “aguarda a proposta de controle fiscal por parte da equipe econômica, os investidores também estão trocando posições e o Ibovespa está com dificuldade de romper o patamar entre 113 e 114 mil pontos”.

Bruna afirmou que o mercado fica atento à Americanas e espera “pela divulgação do plano de recuperação judicial em que a empresa tem o prazo de 60 dias para fazer isso”. Hoje, após o fechamento a Americanas não faz mais parte dos índices da Bolsa.

Com a situação da Americanas, o investidor busca outras ações do setor. “A preferência tem sido por Magazine Luiza, não há nada específico que explique isso”. As ações de Magazine Luiza (MGLU3) subiram 0,26% e Via (VIIA3) perdeu 2,15%.

O destaque ficou para as ações do Banco do Brasil (BBAS3) que subiram 2,45% e vão na contramão dos demais bancos. “BB tem um pouco menos de exposição em Americanas e o mercado gostou do anúncio de política de dividendos do ano e da nova gestão”.

Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, disse que o ambiente interno está contaminado o mercado esta manhã com o evento Americanas e declarações do Lula.

“O mercado está olhando quanto que o pedido de recuperação judicial da Americanas e o volume da dívida considerável, mais de R$ 40 bilhões podem repercutir para o ecossistema que está interligado na varejista-fundos de gestão que têm ou papéis da Americanas ou debêntures da companhia e fundos mobiliários que possuem Americanas como clientes e que não vão receber- isso pode contaminar o mercado como todo. O mercado vai averiguar quando sair a lista dos 16 mil credores, provavelmente na segunda-feira, para saber qual a posição de cada um e quais são os principais credores e isso pode contaminar bastante o mercado dependendo como for conduzido [o processo]; o segundo ponto é o questionamento do Lula em relação à independência do Banco Central. Esse assunto ainda não esfriou e o Campo Neto [Roberto Campo Neto, presidente do BC] não se manifestou de forma tão contundente. Ele não quis colocar gasolina na fogueira”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,207 para venda, com valorização de 0,73%. Às 17h05min, o dólar futuro para fevereiro tinha alta de 0,66% a R$ 5,214. Na semana, o dólar spot teve valorização de 1,96%. Dois foram os pontos que fortaleceram a moeda americana hoje: as preocupações com uma recessão mundial e os receios sobre o comprometimento fiscal do governo Lula.

Victor Benndorf, Sócio-analista da Benndorf Research, lamenta o vai e vem do mercado com declarações desencontradas da equipe econômica. “Não se fala as coisas que não vão ser feitas, porque o mercado fica nesse vai e vem. A fala sobre independência do BC gerou um certo estresse sobre câmbio e juros, mas foi sendo assimilado pelo próprio Governo, que tentou reorganizar”, disse.

O presidente Lula criticou durante a semana a independência do Banco Central. No Twitter, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a autonomia do Banco Central será preservada e que tanto a política monetária quanto a análise macroeconômica são de extrema importância para o país.

Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que a autonomia do Banco Central precisa ser respeitada e que não há crescimento duradouro do PIB com um déficit primário de 2%.

Para a Mirae Asset, em relatório, as intervenções dos ministros não foram suficientes para acalmar o mercado. “Lula, com a verve afiada, segue reclamando da meta de inflação. Muito provavelmente na próxima reunião do Conselho Monetário Internacional é possível que este tema venha à baila”, afirmou a casa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta acompanhando exterior negativo e incertezas fiscais internas.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,465% de 13,480% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,675%, de 12,585%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,645%, de 12,485%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,680% de 12,500% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,2080 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a semana em campo positivo, com o Nasdaq subindo mais de 2% impulsionado pelas big techs, que lideraram os ganhos à medida que avança a temporada de balanços do quarto trimestre do ano passado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,00%, 33.375,49 pontos
Nasdaq 100: +2,65%, 11.140,4 pontos
S&P 500: +1,89%, 3.972,61 pontos

Darlan Azevedo, Dylan Della Pasqua e Pedro de Carvalho