Verde Asset rompe silêncio do mercado sobre rombo bilionário da Americanas e relata perda

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São Paulo -A gestora de recursos Verde Asset rompeu o silêncio do mercado e se pronunciou com indignação sobre o caso do rombo contábil bilionário da Americanas. Em sua carta do mês de janeiro, a gestora reportou prejuízo de -14bps do seu fundo Verde FIC FIM com a posição em debêntures de Lojas Americanas e disse ter sido vítima da empresa.

“Passados vinte dias, o que podemos dizer? Fomos vítimas de uma fraude. Há quanto tempo que esta fraude existe, quem foram os principais responsáveis e beneficiários, é assunto que será amplamente discutido e explorado no Judiciário.”

A Verde, em conjunto com outros debenturistas, vai exercer seu dever fiduciário de preservar o melhor interesse dos cotistas, diz a gestora. “Quem investe em crédito sabe que este tipo de risco existe. O processo de diligência bem-feito deveria mitigá-lo, mas nunca é possível escapar totalmente do risco da fraude.”

“Como gestores, nosso dever é buscar falhas em nosso processo de investimento e aprimorá-lo a partir dos aprendizados desse caso. Mas estávamos falando de uma companhia com longo histórico, controlado por três acionistas considerados (até então) os melhores gestores de negócios do país, e com balanços auditados por uma das principais empresas do setor.”

“Beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado.”

“Temos a maior fraude da histórica corporativa do Brasil, um buraco de mais de vinte bilhões de reais, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte.”

A Verde acredita a Recuperação Judicial da Americanas será “um processo longo, ruidoso ao fim do qual os únicos ganhadores serão os (inúmeros) advogados envolvidos. “Quanto mais tempo levar, menor a chance de alguma recuperação relevante para a companhia (e seus funcionários, fornecedores, credores e acionistas).”

“Os três controladores da companhia, diante da escolha entre aportes para reparar um pedaço substancial da fraude, ou preservar sua reputação / legado, tem ficado silentes, mas claramente escolheram a opção financeira. A resposta da Verde a esse evento será mais trabalho, mais pesquisa, disciplina e foco. Seguiremos investindo em crédito, com um portfólio bastante diversificado, apoiando boas companhias, em estruturas com boas garantias e retornos adequados.”

A gestora explica que o fundo Verde investe em crédito, tanto no mercado brasileiro quanto globalmente, há pelo menos quinze anos e que, no mercado local, construiu ao longo dos últimos sete anos uma estratégia focada em crédito high yield, que pelos bons resultados e diversificação de risco, ganhou relevância e capital dentro do portfólio.

“Dentro desta estratégia, ocasionalmente fazemos posições em papéis de companhias de perfil high grade, por vermos algum prêmio em relação aos pares, ou algum evento específico que buscamos explorar”, diz a carta da gestora.

Feito este preâmbulo, a Verde detalha o histórico da posição do fundo em debêntures das Lojas Americanas.

“O primeiro investimento do fundo em papéis da LASA ocorreu em maio de 2020, no auge da volatilidade dos spreads de crédito por conta da chegada da pandemia. Adquirimos debêntures numa emissão primária a CDI+3.00%, com vencimento em três anos. Cinco meses depois, com a redução da volatilidade do mercado de crédito, vendemos esses papéis por uma taxa de CDI+1.50%, um spread alinhado com o histórico de captação da companhia antes da Covid. Ato contínuo, em outubro de 2020, fizemos um pequeno investimento em outra debênture da companhia, desta vez uma emissão de dez anos em IPCA usada para internalizar recursos de uma captação externa. Compramos tais debêntures a IPCA+7.40%, e Janeiro de 2023 e apenas três meses depois, vendemos no mercado secundário esses mesmos papéis por uma taxa de IPCA+5.51%, gerando um retorno bastante interessante para o fundo.

O terceiro (e fatídico) investimento do fundo em debêntures da LASA veio em junho de 2022. A companhia fez uma emissão de dois bilhões de reais a CDI+2.75% com vencimento em onze anos, e decidimos investir por considerar que havia um excesso de spread em relação a empresas comparáveis e ao próprio histórico da companhia. Como em todo investimento de crédito do fundo, analisamos o balanço da companhia (que mostrava um endividamento líquido de menos de três vezes o EBITDA), o histórico da companhia, seus acionistas controladores, time de gestão e as perspectivas do negócio.

Com isso, alocamos em torno de 15bps do capital do fundo nestas debêntures (a exposição total de crédito representa por volta de 10% do fundo hoje).

E, infelizmente, como todo o mercado brasileiro, fomos surpreendidos pela notícia divulgada pelo recém-empossado CEO da companhia, Sérgio Rial, no dia 11 de janeiro, que causou um colapso no preço das ações, bonds e debêntures da companhia, e levou poucos dias depois, ao pedido de Recuperação Judicial. Ao fim do mês, a posição do fundo estava marcada em torno de 13% do valor de face e trouxe uma perda de aproximadamente -14bps na cota.”

Por fim, a gestora finaliza citando a frase de Warren Buffett: “Leva vinte anos para se construir uma reputação e cinco minutos para arruiná-la. Se você pensar nisso, fará as coisas de maneira diferente.”

ESTRATÉGIA

Em janeiro, o fundo Verde teve ganhos nas posições de commodities, especialmente ouro, na posição comprada em Real, nas posições de juros globais e em inflação implícita no Brasil. As perdas vieram da posição de bolsa no Brasil e do livro de crédito local, este devido ao caso Americanas, conforme apontado no início do texto.

A gestora destaca que o mês de janeiro trouxe uma mudança de tom importante no cenário global. “O consenso dos mercados esperava uma continuada desaceleração global, liderada pelos Estados Unidos, culminando em uma recessão em algum momento do primeiro semestre. Desde o fim de 2022, com a acelerada reabertura da economia chinesa, esse consenso vinha sendo questionado, e ao longo de janeiro esse processo se acelerou. As grandes economias globais dão sinais de resiliência, ao mesmo tempo que os dados de inflação surpreendem, na margem, para baixo. Essa combinação de melhor crescimento com menor inflação tende a ser bastante positiva para os mercados, e vimos altas fortes de preços de ativos: o S&P 500 subiu +6.2%, o Eurostoxx +9.75%, e o MSCI Emerging Markets +7.85%.”

Na visão da Verde, o Brasil deveria se beneficiar muito deste quadro, mas “o novo governo não perde uma oportunidade de perder oportunidades” com os “constantes questionamentos sobre a meta de inflação e ataques à independência do Banco Central mantém os prêmios de risco, especialmente na curva de juros, bastante altos, e afetam diretamente o valuation das ações.”

O Ibovespa subiu +3.37% no mês, apenas puxado por ações ligadas à commodities, enquanto os setores domésticos continuam sofrendo.

O fundo manteve exposição na bolsa brasileira, e zerou os hedges na bolsa americana, voltando para uma pequena posição comprada em ações globais. A posição comprada em inflação implícita no Brasil foi mantida, além do risco tomado em juros na Europa. “Continuamos comprados em ouro e petróleo, e vendidos no Euro contra compra de Real. As posições em crédito high yield global foram substancialmente reduzidas dada a boa performance, enquanto mantivemos a exposição em crédito local.”