Manutenção de juros elevados reforça apelo de títulos públicos de curto prazo, diz Anbima

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São Paulo – A sinalização do Banco Central de manter a Selic (taxa básica de juros) em patamares elevados em 2023 já tem reflexos no mercado, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que aponta que a rentabilidade dos títulos de longo prazo espelhados no IMA-B 5+ (carteira de NTN-Bs, títulos públicos indexados à inflação, com vencimento igual ou acima de cinco anos) manteve, em janeiro, a trajetória de queda apresentada desde o fim de 2022.

Em janeiro, a rentabilidade do IMA-B 5+ chegou a -1,26%, ante -1,19% em dezembro, -1,18% em novembro, +0,65% em outubro, +2,93% em setembro e +2,49% em agosto de 2022.

Em contrapartida, o retorno dos títulos de curto prazo do IMA-S (carteira formada por títulos pós-fixados atrelados à Selic, que são as LFTs) teve valorização neste mesmo período. Em janeiro, chegou a +1,15%, ante +1,11% em dezembro, +1,01% em novembro, +1,08% em outubro, +1,11% em setembro e +1,19% em agosto de 2022.

As incertezas do mercado, que já eram altas por causa da ausência de um arcabouço fiscal para este ano, se intensificaram em janeiro após sinalizações do governo em flexibilizar a meta da taxa de juros. Com isso, as expectativas de inflação para o médio e longo prazo se elevaram e o mercado passou a projetar uma Selic maior para o fim de 2023, explica Marcelo Cidade, economista da Anbima.

Em sua última reunião, em janeiro, o Grupo Consultivo Macroeconômico formado por 25 economistas-chefes de instituições associadas à entidade elevou de 11,5% para 12,5% a projeção da taxa Selic para dezembro deste ano.

Diante deste panorama, os fundos multimercados, por investirem em ativos de prazos mais longos e com maior exposição a risco, sofreram impactos negativos. A postergação do ciclo de queda da Selic pode comprometer essas carteiras, que já vinham sofrendo resgates desde 2022. Somente em janeiro, essa classe de fundos perdeu R$ 17,6 bilhões em recursos.

Por outro lado, esse cenário favorece os títulos isentos de imposto de renda. No ano passado, eles foram responsáveis por mais da metade (53,1%) do crescimento de R$ 530,7 bilhões dos investimentos feitos por clientes pessoa física dos segmentos de varejo e private. Entre esses produtos, destaca-se o desempenho de CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio). Apenas em 2022, as emissões desses títulos corresponderam a um volume de R$ 91,2 bilhões, ante R$ 59,0 bilhões em 2021.