Bolsa fecha em queda e perto da mínima do dia com foco na Petrobras

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda pelo quarto dia de 1,01%, perto da mínima do dia-103.320,59 pontos- em mais uma sessão com os holofotes na Petrobras (PETR3 e PETR4). Os investidores temem em uma alteração na política de paridade de preços da empresa (PPI). A queda se acentuou próximo ao fechamento.

Em primeira entrevista à imprensa hoje à tarde, o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates tentou diferenciar o conceito de paridade de preço internacional de paridade de importação. “O PPI virou dogma, é uma abstração, o mundo comercial é feito por preços diferentes. O PPI é paridade internacional, não é paridade de importação”.

E acrescentou que a Petrobras vai praticar o preço “do mercado em que ela estiver atuando”. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíam 2,74% e 2,60%. Os bancos foram penalizados pela alta na curva de juros. Itaú (ITUB4) perdeu 3,28%. Bradesco (BBDC3 e BBC4) cedeu 1,55% e 1,31%.

O principal índice da B3 caiu 1,01%, aos 103.325,61 pontos. O Ibovespa futuro perdeu 1,20%, aos 104.525 pontos. O giro foi R$ 25,9 bilhões.

A corretora Mirae Asset, em relatório, mantém recomendação de compra para as ações da Petrobras (PETR4) “para médio e longo prazos” apesar das incertezas em relação à política de preços da empresa que “deve sofrer alteração, mas continua em discussão”.

Segundo um analista do mercado financeiro, apesar de toda a turbulência que envolve a Petrobras, com o lucro recorde no 4T22 da empresa divulgado na véspera- R$ 43,3 bilhões, uma alta de 37,6% em relação ao mesmo período de 2021, de R$ 31,5 bilhões-, o Itaú Unibanco tem recomendação de compra de Petrobras em preço-alvo de R$ 38 e o Safra em preço-alvo de R$ 34.

Fabricio Gonçalvez, CEO da Asset Management, disse que o case do dia é a Petrobras e a preocupação do mercado é com a política de paridade de preços e importação (PPI).

“Especula-se no mercado que talvez a Petrobras deixe de utilizar o parâmetro de reajuste de preços de paridade internacional e isso foi questionado ao presidente da estatal [em coletiva à imprensa agora à tarde]. Ele disse que a paridade foi essencial para determinado momento da companhia, mas que os preços serão sempre reajustados com base no mercado; deixou subentendido que a paridade vai ser alterada e fez com que as ações da Petrobras voltassem a cair mais”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que a Petrobras e os juros nos Estados Unidos pressionam o índice.

“Um dos dirigentes do Fed disse que pode ter um aumento de 50 ponto porcentual (pp) [nos juros dos EUA], antes a sugestão era 5,40%[taxa no fim do ciclo]. Em relação à Petrobras, o mercado está cético com o que pode acontecer com a política de paridade de preços. A empresa acabou de soltar um comunicado que não está em discussão isso, mas entrou em pauta desde a eleição. Pegou mal a questão dos dividendos. Os 0,50 centavos que devem ser retidos é a confirmação da política que era falada, mas não pega bem para o mercado e nem para o ativo e acaba reforçando o fluxo vendedor que começou alguns dias atrás com a taxação de exportação de petróleo”.

Mota acrescentou que “o cenário para a Petrobras é um pouco crítico, já a Vale está em um movimento de realização saudável; o ativo subiu ontem com dados favoráveis da China e sugere que a gente possa começar a ver a reabertura do país que se fala há tempos pós-covid, mas a realização casou fala do dirigente do Fed”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,25%, cotado a R$ 5,2050. A moeda refletiu o temor com uma inflação global, além do receio a mudança da política de preços da Petrobras.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o mercado de dólar está inseguro, com o temor de mexer na política da Petrobras e a indefinição sobre os juros nos Estados Unidos”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “temos um mercado exterior que está mudando bastante. Desde os dados do mercado de trabalho e da inflação, estamos vendo revisão sobre expectativa do que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai fazer”.

Komura, contudo, acredita que a reabertura chinesa tende a ajudar as emergentes ligadas às commodities, mas que os ruídos domésticos, como o pedido da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que novamente pediu a saída do presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, inflação alta na zona do euro pressionam as taxas de juros dos títulos soberanos o que impacta negativamente nas ações. Por aqui, Petrobras tem forte resultado, mas incertezas quanto à futura administração, por Jean Paul Prates, devem prevalecer”. A inflação na zona do Euro, em fevereiro, foi de 0,8% ante projeções de 0,5%. Já o núcleo avançou 5,6%, também acima das expectativas (5,3%).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, acompanhando uma expectativa de inflação persistente pelo mundo e incertezas domésticas.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,345% de 13,310% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,800%, 12,655%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,960%, de 12,795%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,170% de 13,015% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,2060 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, apesar de Nasdaq e S&P oscilarem negativamente durante a maior parte do pregão, à medida que os investidores passaram a apostar que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa reduzir o ritmo do seu aperto monetário na próxima reunião.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,05%, 33.003,57 pontos
Nasdaq 100: +0,73%, 11.463,0 pontos
S&P 500: +0,75%, 3.981,35 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.