Bolsa fecha em alta em movimento de correção e em queda na quinta semana seguida; dólar cai

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São Paulo -Após o tombo da véspera, a Bolsa recuperou parcialmente as perdas e fechou em alta em um movimento de correção. O setor financeiro subiu em bloco e as varejistas avançaram em dia de ajuste técnico. As ações da Vale (VALE3), de maior peso no índice, caíram 1,14% acompanhando a queda do minério de ferro na China. Em uma semana turbulenta marcada por eventos relevantes como Fed e Copom, o Ibovespa acumulou queda de 3,09%.

Os investidores seguiram atentos às questões bancárias internacionais. Hoje as ações do Deutsche Bank chegaram a cair forte com o aumento da inadimplência na carteira de crédito, e por aqui, o arcabouço fiscal e o embate entre governo e autoridade monetária ficaram no radar.

O grande destaque de alta do Ibovespa ficou para os papéis da BRFoods (BRF), subiram 11,35%, depois que a empresa informou que a unidade produtiva de Marau, no Rio Grande do Sul, foi liberada para a exportação de carne de frango à China. Em seguida, outra ação de relevância foi a Yduqs (YDUQ3), avançou 10,38% após um banco de investimento recomendar compra.

O principal índice da B3 subiu 0,92%, aos 98.829,27 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 2,11%, aos 99.615 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital, disse que em dia de agenda esvaziada de notícias, a Bolsa opera em alta “em um movimento de correção, após a queda de ontem; por aqui, o mercado segue aguardando o arcabouço fiscal em meio à desconfiança em relação ao sistema bancário internacional. Hoje vimos um movimento de aversão ao risco no exterior [principalmente Europa] com a queda de bancos como o Deustche Bank”.

Arlindo Souza, analista de ações da casa de análises do TC, disse que a Bolsa tem um “movimento de recuperação após as fortes perdas de ontem devido ao cenário fiscal com o tom duro do Copom; observamos uma leve redução nas curvas de juros e reprecificação dos ativos; o destaque [positivo] no Ibovespa é para os grandes bancos e o que ajuda é a alta do S&P 500”

Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, disse que a Bolsa tenta recuperação e não notícias para impactar o índice. “O Ibovespa está sem grandes triggers [sem grandes novidades] e o momento é mais errático”.

Mas Moura enfatizou que os últimos acontecimentos com a crise bancária global e, por aqui, a tensão entre o governo e o Banco Central “mostram que estamos vivendo uma tempestade perfeita”. Ele disse que esse clima de confronto institucional entre o executivo e o BC, “é péssimo para o mercado e ainda temos o problema do arcabouço, que quando for apresentado pode dar uma compressão nesses prêmios de risco que estão muito elevados e tirar o clima de pânico do mercado”.

O sócio e analista da Finacap Investimentos também comentou que os juros futuros caíam “com os investidores apostando em um aperto monetário ainda este ano; normalmente essa queda tem uma correlação com a alta do Ibovespa, mas nos últimos tempos o mercado anda disfuncional”. No comunicado do Copom, a autoridade monetária sinalizou que poderia ocorrer até elevação dos juros.

Um analista de uma grande corretora do mercado financeiro que não quis se identificar disse que o movimento da Bolsa é “técnico depois da forte queda de ontem; os bancos estão subindo forte e as empresa de consumo se recuperando”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,73%, cotado a R$ 5,2490. A moeda caiu durante a maior parte da sessão, em um movimento de correção. As disputas e incertezas que envolvem Banco Central (BC), Governo, Senado e Câmara preocupam e seguem no radar. Na semana, a moeda norte-americana teve desvalorização de 0,40%.

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “não existe um motivo pontual para a queda do dólar, hoje, já que ele segue forte no mundo. Não estou otimista para o dólar seguir assim enquanto o arcabouço fiscal não for palpável”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “hoje é um respiro, uma certa correção, mas o cenário não mudou. Esta briga entre (o presidente do Senado, Rodrigo) Pacheco e o (presidente da Câmara, Arthur) Lira tem um potencial enorme”. Komurata também entende que o Governo seguirá pressionando o BC até que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, renuncie.

Sobre o imbróglio bancário global, Komura é enfático: “Deve ter muito risco não mapeado, e é assim que surge uma crise. Na Europa a situação também é preocupante”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em sensível queda. Este movimento foi causado especialmente pelos sinais de desaceleração da inflação. O IPCA-15 de março subiu 0,69% ante fevereiro e deu sinais de que a inflação pode começar a perder força.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,055% de 13,170% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,945%, 12,115%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,985%, de 12,140%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,255% de 12,365% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, também registando ganhos semanais, à medida que Wall Street colheu as sinalizações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre os juros e o desenrolar sobre a pressão no setor bancário global.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,41%, 32.237,53 pontos
Nasdaq 100: +0,31%, 11.824,0 pontos
S&P 500: +0,56%, 3.970,99 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA