Bolsa fecha em alta e dólar recua com novo arcabouço fiscal

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta pelo quinto dia consecutivo e retomou o patamar dos 103 mil pontos no dia em que o mercado conheceu o tão aguardado arcabouço fiscal, a nova regra fiscal que substitui o teto de gastos.

Com a nova âncora, o governo pretende zerar o déficit em 2024 e prevê uma banda para o crescimento real da despesa primária entre 0,6% a 2,5% ao ano. A proposta deve ser encaminhada na próxima semana ao Congresso.

O principal índice da B3 subiu 1,88%, aos 103.713,45 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 1,93%, aos 104.330 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Os destaques positivos na sessão de hoje ficaram para os setores de bancos, varejos, construtoras e empresas de educação. “A divulgação do arcabouço gera um otimismo por uma possível queda dos juros, o que favorece os setores”, disse Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.

Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, disse que a proposta apresenta hoje pelo governo não foi ruim. “Foram regras bem claras e simples, a grande questão é que as metas são bastante otimistas e ainda temos um cenário global bem desafiador e muita coisa atrelada à diminuição dos juros por parte do BC, que é autônomo. Ainda vai ter entrave entre governo e RCN outro grande problema que a gente enxerga é que vai ser permitido um gasto acima da inflação e o mercado está pagando pra ver se o governo vai cumprir a regra de gasto menor que a receita”.

O economista da Valor Investimentos disse que ainda é necessário estudar mais a proposta para “entender os gatilhos que vão travar a trajetória de despesas e dívida, mas zerar o déficit em 2024 e ter superavit em 2025 é ok”. Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que é uma regra fiscal teve uma boa reação no mercado no primeiro momento.

“Não temos o texto formal, mas os mecanismos de maneira geral agradaram porque já se tem algo para se trabalhar e, no curto prazo, deve apaziguar o mercado, vamos continuar observando. A ministra do Planejamento garantiu a execução de ser crível. Não vai resolver os problemas do Brasil, mas é o primeiro passo. Precisa trabalhar a tramitação [no Congresso], com texto formalizado e a própria consequência da política monetária e ancorar as expectativas para reduzir a taxa de juro”.

Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, disse que o mercado reagiu bem à apresentação nova proposta do arcabouço fiscal.

“A primeira recepção do mercado foi positiva, muito em cima da projeção de receita realizada e os gastos projetados para cresceram abaixo das receitas, atenção às características anticíclicas do modelo, agora é aguardar um estudo mais profundo do arcabouço. É positivo na margem porque a gente conhece o gasto do governo para os próximos 4 anos, é importante a reação do BC e ver como o colegiado vai incorporar nos comunicados e nas próximas decisões”.

Lucca Ramos, assessor de renda variável da One Investimentos, disse que “chama a atenção a queda na curva de juros porque mostra uma expectativa dentro do arcabouço fiscal em que a vai ter uma proposta crível, o que daria espaço de uma queda de juros durante o ano em 2023; a expectativa é de que o venha um arcabouço que faça sentido e as despesas sejam controladas em base nas receitas”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse o mercado está reagindo bem porque qualquer arcabouço fiscal é melhor que nenhuma tentativa de equilibrar as contas.

“Parece que o governo tem uma regra de fazer o controle do equilíbrio entre receitas e despesas. É um governo que busca expandir os gastos para controlar isso, vai ter de aumentar a arrecadação. Esse é um ponto de atenção e o aumento da arrecadação pode prejudicar. Esse é um ponto sensível nas discussões. Hoje vai ser um dia bem carregado porque também temos falas de Campo Neto sobre o RTI e ele deve comentar sobre o arcabouço. Qualquer abertura mais exagerada, a Bolsa tende a ser corrigida”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,74%, cotado a R$ 5,0970. O mercado recebeu positivamente a apresentação do novo arcabouço fiscal doméstico, beneficiando a moeda brasileira.

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “só este primeiro sinal já foi positivo para a bolsa e dólar”.

Brigato entende que “isso é um começo, mas falta muito a ser desvendado. Mostraram o final, mas não como irão chegar nisso. Isso precisa ser apresentado com mais clareza”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o mercado está bastante cético em relação arcabouço fiscal. É preciso ver o quão exequível é isso”, referindo-se especialmente às metas de superávit para 2024 (0%) e 2025 (+0,5%) apresentadas pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Não ficou claro como eles irão fazer isso”, opinou Komura.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, após apresentação do novo arcabouço fiscal.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,165% de 13,225% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,965%, 12,150%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,900%, de 12,110%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,080% de 12,265% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo positivo, com o Nasdaq voltando a ter os maiores ganhos puxado pelo setor de tecnologia, à medida que Wall Street começa a apostar que o pior estágio da crise bancária pode já ter passado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,43%, 32.859,03 pontos
Nasdaq Composto: +0,73%, 12.013,5 pontos
S&P 500: +0,57%, 4.050,83 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA