Bolsa fecha em queda em dia de realização de lucros; dólar recua

1703

São Paulo- A Bolsa fecha em campo negativo, na contramão de Nova York, em dia em que os investidores realizam lucros após três sessões em alta e, somado a isso, a queda do minério de ferro na China refletiu nas ações ligadas à commodity, principalmente a Vale (VALE3) com o peso que tem no índice, e acabou impactando no movimento do Ibovespa.

A Vale (VALE3) caiu 1,35%. Outro setor prejudicado na sessão de hoje foi o de proteína animal com a desvalorização do dólar. BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) recuaram, respectivamente, 7,63% e 7,04%. Minerva (BEEF3) cedeu 6,46%.

Os papéis da MRV (MRVE) lideraram a alta do Ibovespa em 6,55%, após a companhia soltar a prévia operacional no 1T23. Petrobras (PETR3 e PETR4) subiu 1,17% e 0,6%.

O principal índice da B3 caiu 0,40%, aos 106.457,85 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho cedeu 0,42%, aos 108.395 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que o Ibovespa recua “em um movimento mais técnico de realização de lucros, visto que a Bolsa subiu mais de 5% ao longo da semana, além disso o minério de ferro caiu e acaba impactando as ações do setor, principalmente a Vale e puxa o Ibovespa pra baixo”.

Bruna Sene, analista de Investimentos da Nova Futura Investimentos, disse que após a forte alta da terça-feira e um pouco de ontem, na sessão de hoje a Bolsa “tem um movimento de realização de lucros; tem comitiva do Lula na China e Campos Neto em eventos nos Estados Unidos que podem movimentar pontualmente, mas o dia é mais morno; a queda das ações da Vale (VALE3) também influencia no índice; a tendência para a mineradora ainda é de baixa”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Investi, disse que o Ibovespa está em um movimento de correção após falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto da véspera e altas recentes da Bolsa.

“Ontem Campos Neto elogiou o arcabouço fiscal, e disse que o IPCA foi um bom número, mas deixou claro que não é suficiente para fazer a Selic cair, talvez a fala dele em conjunto com as altas recentes da Bolsa, a gente vê sentido um tipo de correção; juntamente a isso lá fora o minério de ferro caiu bastante e pesa no setor, a Vale está em queda; é saudável ver esse tipo de correção”.

Farto disse que o principal agora é “antever as próximas notícias, saiu o PPI nos EUA [caiu 0,5% em março], o que deve fazer preço são os vetores internos: aguardar protocolar o arcabouço fiscal e ver como vai funcionar, temos a reforma tributária, e o Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara] formou um bloco maior para fazer frente ao grupo governista”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,28%, cotado a R$ 5,9270. A moeda refletiu a expectativa do mercado que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) encerre o ciclo contracionista e a percepção de menor risco fiscal doméstico.

Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “ainda existe o peso do mercado de trabalho nos Estados Unidos, que não está considerado. A grande confirmação deve vir no próximo payroll (folha de pagamento)”.

Jason entende que o momento é bom e deve ser aproveitado, mas que a inflação norte-americana segue desancorada das expectativas, e isso ainda é desafiador para o Fed.

De acordo com o especialista da Valor Investimentos Gabriel Meira, “sobram poucos países para o investidor estrangeiro, e o Brasil tem vantagem nisso”. Meira entende que o aumento que o aumento da Selic (taxa básica de juros), iniciada com antecedência pelo Banco Central (BC), beneficia o real.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o PPI (índice de preços ao produtor, na sigla em inglês) foi melhor que o esperado, e aumenta as expectativas para que o Fed não suba os juros na próxima reunião, em maio”. O índice de preços ao produtor de março, nos Estados Unidos, caiu 0,5% ante expectativa de +0,1%.

Weigt observa que o real tem se destacado entre as moedas emergentes, e o que a diminuição do risco fiscal doméstico é benéfica neste contexto. A recuperação chinesa mais rápida que o esperado, pontua, também ajuda a moeda brasileira.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas com viés de queda depois de abrirem de lado e passarem para o território negativo ainda pela manhã. Com taxas mais curtas subindo e as mais longas caindo mais de 1%, por causa do leilão do Tesouro, o mercado de DI hoje foi agitado por causa também da divulgação dados do Índice de Preços ao Produtor dos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês) levemente abaixo da média, além do número de pedidos de auxílio desemprego, que veio um pouco acima da expectativa.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,165% de 13,140% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,810% de 11,810%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,530%, de 11,615%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11, 630% de 11,755% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com o Nasdaq liderando os ganhos puxado pelo setor de tecnologia e o S&P atingindo seu maior nível desde fevereiro. Os investidores estão reagindo bem aos últimos dados de inflação, que mostraram uma desaceleração da alta nos preços.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,14%, 34.029,69 pontos
Nasdaq 100: +1,99%, 12.166,3 pontos
S&P 500: +1,32%, 4.146,22 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA