Bolsonaro ataca Bachelet e diz que Chile seria Cuba sem Pinochet

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Por Gustavo Nicoletta

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro disse o Chile seria igual a Cuba se não houvesse ocorrido o golpe militar de 1973. O comentário foi feito em entrevista a jornalistas depois de ele ser questionado se responderia às críticas da ex-presidente chilena e atual alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

“A única coisa que eu tenho em comum com ela é minha esposa”, disse Bolsonaro sobre Bachelet, em referência ao primeiro nome dela e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. “[Bachelet] está acusando que não estou punindo policiais que estão matando muita gente no Brasil. Ela está defendendo direitos humanos de vagabundos”, acrescentou o presidente.

“Se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Acho que quando tem gente que não tem mais o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”, disse Bolsonaro.

O pai de Bachelet era da força aérea do Chile e se opôs ao golpe militar conduzido por Augusto Pinochet. Ele foi preso pelo governo ditatorial chileno em 1973 e torturado, e morreu em 1974 na prisão.

Ontem, durante uma entrevista coletiva, Bachelet foi questionada sobre o assassinato de defensores de direitos humanos no Brasil e disse que a ONU está preocupada não só com esses eventos, mas também com o aumento no número de mortes por policiais.

“De janeiro a junho de 2019, só no Rio e em São Paulo, tivemos notícia de 1.291 pessoas mortas pela polícia. Pode ser ação policial, mas o que quero enfatizar é que houve aumento de 12% a 17% comparado ao mesmo período do ano passado”, disse a comissária.

“Também vemos que violência afeta de forma desproporcional afro-descendentes e os que vivem em favelas. Vimos um aumento notável na violência policial, discurso público legitimando execuções sumárias e ausência de responsabilização. Também estamos preocupados com medidas recentes, como a desregulamentação das armas de fogo, propostas de reformas reforçando o aprisionamento, levando à superlotação de presídios”, acrescentou.

“Para nós também chama atenção ouvir negação de crimes cometidos pelo Estado no passado, algo que se condensa na proposta de celebração do golpe militar. Isso se combina com um processo de justiça de transição inacabado que pode entrincheirar a impunidade e reforçar a mensagem que agências de Estado estão acima da lei”, disse Bachelet.