São Paulo – No último pregão do mês, o Ibovespa fechou em queda de 1,52%, na mínima do dia – 115.741,81 pontos- com os investidores desconfiados se o governo vai conseguir zerar o déficit. O recuo foi generalizado dos papéis, poucas ações subiram. Agosto foi difícil para a Bolsa com a maioria das sessões em queda. No mês o índice acumulou perda de 5,08%, a segunda maior do ano.
Hoje na explanação sobre o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2024, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que “este orçamento é o mais complexo de toda a sua história. Tivemos que trabalhar com a regra vigente do teto de gastos, com a PEC da transição e do novo marco fiscal”. Também afirmou que é um orçamento equilibrado, que tem a meta de atingir o déficit zero em 2024.
A Vale (VALE3) perdeu fôlego no final da sessão, mas ainda fechou no positivo de 0,15%. A Petrobras (PETR3 e PETR4) caiu 2,70% e 2,08% “refletindo a mudança no Carf, o que muitos veem que aumenta o risco fiscal para a empresa”, disse Fabio Louzada, economista e analista CNPI e fundador da Eu me banco.
O principal índice da B3 caiu 1,52%, aos 115.741,81 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 1,26%, aos 117.700 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,1 bilhões. Nos EUA, as bolsas fecharam mistas.
Bruna Sene, analista de Investimentos da Nova Futura, disse que o risco fiscal pesa na Bolsa. “Dia mais negativo aqui, até descola um pouco do exterior, com o mercado receoso com o fiscal e sem gatilho positivo, o projeto de Lei Orçamentária de 2024 deve ser entregue hoje; o ponto mais favorável é a recuperação do minério o que acaba ajudando a Vale e o petróleo em alta impulsiona as empresas ligadas à commodity, à exceção da Petrobras com preocupação mais política. A queda das ações é generalizada, só seis papéis sobem, as falas dos ministros [da Fazenda e do Planejamento] fizeram o mercado piorar”.
Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, disse que a Bolsa recua “impactada por medidas publicadas hoje a respeito de tributação, subvenção de ICMS como o fim do JCP e acaba afetando muitas empresas do índice. As ações mais cíclicas são impactadas pela abertura na curva de juros, setores sensíveis a juros. São poucas ações em alta, com destaque para a Vale com medidas do governo chinês para estimular o setor de construção”.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que a Bolsa opera no negativo com fatores relacionados ao governo no contexto do cenário fiscal.
“Ontem a Tebet [ministra do Planejamento e Orçamento] falou [que no momento a conta fecha para atingir a meta de déficit zero em 2024], mas o governo aumentou gastos, será que vai conseguir arrecadar mais, a percepção do mercado é que o governo está defendendo maior gasto, mas também maior arrecadação. Os investidores acreditavam que o governo podia conseguir, mas ontem teve a aprovação da desoneração de salários, que reduz a arrecadação de governo e os investidores começaram a precificar isso. Esse contexto desconecta com o internacional e a bolsa vem pra baixo varejo, aéreas, proteína, bancos, Petrobras apesar do petróleo subindo, todos os setores caem e a mineração recua mesmo com o minério em alta, a exceção é a Vale. Isso não tem lógica, é um cenário de cautela dos investidores. Estão de olho no orçamento para a ver se a conta vai fechar”.
Lima disse que “o conjunto de indicadores-inflação PCE e pedidos de seguro-desemprego- divulgados hoje nos Estados Unidos veio em linha com a expectativa do mercado, a atenção é para o payroll amanhã (01)”.
Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa cai com receio dos investidores com o fiscal. ” A questão fiscal tem impactado o Ibovespa por conta do temor do não fechamento das contas públicas, ontem já teve o déficit [primário], apesar das commodities como Vale em alta e exterior positivo”.
Segundo um analista do mercado financeiro, a queda da Bolsa é empurrada pelo setor financeiro. “Aqui está caindo porque o governo quer acabar com JCP [Juro Sobre Capital Próprio, se isso acontecer impacta principalmente os bancos, o setor bancário está puxando o Ibovespa pra baixo”.
Mais cedo, os analistas da Toro Investimentos disseram que a inflação norte-americana “permanece substancialmente acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed e defendida pelo presidente, Jerome Powell, ao longo do simpósio de Jackson Hole da semana passada. Além disso, também há sinais de que a inflação no segundo semestre nos EUA deve se mostrar mais resiliente e difícil de ser controlada. O PCE trouxe volatilidade adicional nos mercados norte-americano e brasileiro”.
O dólar comercial fechou em alta expressiva no último dia do mês de 1,65%, cotado a R$ 4,949 com o mercado na expectativa para a divulgação do relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês), amanhã (01). Somado a isso, as incertezas fiscais no cenário doméstico contribuem para o pior desempenho do real. No mês, subiu 4,68%.
De acordo com o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “o dólar está forte no mundo todo. Ainda há esperança de que o payroll e o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) venham fracos e o dólar caia. Ainda existem mais preocupações do que fatos, estou otimista”.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “estamos bem descolados de fora. Teve o movimento mais técnico com o fechamento da Ptax, mas o mercado está percebendo que o governo está perdido na negociação fiscal, que a ala política ganhou força neste debate”.
“Nos últimos dias tivemos um acúmulo de decepções com a atividade dos Estados Unidos”, avalia Borsoi, que entende que payroll tem mais relevância do que os dados divulgados, além de entender que o problema atual norte-americano está mais focado no mercado de trabalho do que na inflação.
Borsoi ainda chama a atenção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre, que será divulgado amanhã: “O resultado vai balizar se o PIB (de 2023) será mais para 2% ou 3%. Se vier forte, pode haver um ajuste significativo da curva de juros”, contextualiza.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, em dia de preocupação por conta do cenário doméstico e piora das contas públicas. o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,390% de 12,385 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,520% de 10,060%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,140%, de 10,060%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,340% de 10,215% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto após quatro dias seguidos de ganhos, com Wall Street analisando os últimos dados de inflação enquanto encerra um mês de agosto difícil.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,48%, 34.721,91 pontos
Nasdaq 100: +0,11%, 14.035,0 pontos
S&P 500: -0,15%, 4.507,65 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA