Bolsa fecha em alta com otimismo ao risco, à espera do corte da Selic; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa brasileira reduziu os ganhos ao final da sessão após subir mais 1% ao longo do dia, mas fechou em alta após a confirmação da manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos e discurso mais ‘hawkish’ do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que novos aumentos poderão ser feitos ainda este ano e revisão das projeções para a taxa de juros nos Estados Unidos, principalmente a partir de 2024, reforçando a cautela em relação à economia. Agora, os investidores aguardam o anúncio sobre a taxa Selic no Brasil, por volta de 18h30 desta quarta-feira, com estimativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central volte a cortar a Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.). Analistas esperam mais dois cortes de 0,50 p.p. e um de 0,75 p.p até o fim do ano.

O Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, decidiu por manter os juros básicos da economia do país dentro da banda entre 5,25% e 5,50% ao ano, o que era amplamente esperado pelo mercado.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,72%, aos 118.695,32 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 0,66%, aos 119.605 pontos. O giro financeiro foi de R$ 15,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, o Ibovespa fechou em alta hoje, ainda que tenha diminuído os ganhos após a decisão do FOMC, com a Vale (VALE3, +065%) e outras mineradoras liderando os ganhos do índice em meio a alta do minério de ferro. “A perspectiva local é de queda da Selic, com corte de 50 bps na reunião desta quarta-feira. A inflação de serviços mostrou queda na última leitura do IPCA, o que reforça que o Banco Central tem espaço para continuar cortando o juro por um período prolongado de tempo por aqui. Esperamos que o comunicado do Copom sinalize novo corte de mesma magnitude para a reunião seguinte no mês de novembro.”

O petróleo Brent encerrou os negócios em queda, em correção a recentes altas, após Arábia Saudita e a Rússia anunciarem a prorrogação dos cortes voluntários na oferta da commodity até o fim do ano. “Eu acho que eles devem persistir nesses cortes. Acredito que (a queda) é só uma realização por parte dos investidores”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) fecharam em alta de 0,21% e 0,29%, Prio (PRIO3) subiu 0,41%, enquanto PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) caíram 2,37% e 0,33%.

Entre os destaques de alta do Ibovespa, Azul (AZUL4, +15,12%), CVC (CVCB3, +7,62%) e Gol (GOLL4, +6,09%) lideraram os ganhos, refletindo a elevação da recomendação do Goldman Sachs para a primeira, que destacou uma perspectiva positiva para a Azul, mencionando uma assimetria positiva entre a expansão do ebitda em 2024 e uma avaliação considerada atrativa.

Outra ação de peso do Ibovespa, da Suzano (SUZB3) também fechou em forte alta, de +4,03%, após anunciar reajuste nos preços da celulose.

Entre as maiores quedas, a Braskem recuou forte (-4,24%) após o BTG Pactual rebaixar a ação de compra para “neutra” e após notícia de que a Apollo e a Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc) desistiram de comprar uma participação na companhia. A pior baixa foi de Pão de Açúcar (PCAR3), de -5,67%.

Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, disse que os anúncios de manutenção dos juros pelo Fomc confirmam o que o mercado já havia precificado, refletindo nos DIs operando em baixa. “Como a taxa [nos EUA] não subiu e o aqui deve se confirmar o corte de 0.5 na Selic pelo Copom, o mercado retoma a confiança e volta a operar em alta. A taxa de juros real no Brasil continua bastante elevada, a diferença da inflação com a Selic continua bastante aberta, historicamente falando. Isso obriga os DIs a ajustarem, por que, provavelmente esse spread não vai diminuir no curto prazo com uma alta da inflação, então, é necessário diminuir esse spread.”

Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, destaca que o Fed deixou uma janela aberta para possíveis novos aumentos da taxa de juros ainda esse ano. “Um dos fatores que movimentou muito o mercado foi a revisão das projeções para a taxa de juros nos Estados Unidos, principalmente a partir de 2024, que saiu de 4,6% para 5,1%. Para 2023, a projeção segue inalterada em 5,6%. Essa sinalização é muito importante pois abre uma perspectiva de que cortes de juros só devem ocorrer em janelas mais longas de tempo no próximo ano.”

O analista acrescenta que o presidente do Fed disse que “o Fomc segue comprometido em trazer a inflação para 2%, seguem avaliando os dados econômicos e que dos 19 membros participantes do comitê, 12 avaliam um novo aumento, enquanto outros sete integrantes acreditam não ter necessidade de novas elevações na taxa de juros americana.”

Com isso, as Bolsas norte-americanas operam mistas, apenas Dow Jones em alta, e os yelds registraram um stress bem relevante durante as definições das taxas de juros por lá, com os títulos de 2 anos anos negociando em alta, sendo cotados no patamar de 5,12%, o maior patamar para esse vencimento desde 2007, enquanto os títulos de dez e trinta anos operam em queda.”

Marianna Costa, economista-chefe do TC, avalia que o comunicado que segue a reunião, assim como a entrevista dada pelo presidente, Jerome Powell após a decisão, “vem em linha com a postura cautelosa esperada da autoridade monetária que enfatiza que a estabilidade do Fed funds nesta reunião não significa que o processo de alta de juros terminou. Powell ratificou que um aperto adicional pode acontecer se for entendido pelo colegiado que essa alta marginal vá contribuir para o processo de estabilidade dos preços. Neste sentido, Powell enfatiza que a decisão de manter os juros neste nível ou promover nova alta dependerá, em grande parte, dos dados a serem divulgados nos próximos meses e que concerne a totalidade dos dados, não apenas o comportamento da inflação e do mercado de trabalho.”

Neste contexto, foi uma decisão e comunicação dentro do esperado pelos agentes de mercado. “Até mesmo a manutenção de que a maior parte dos dirigentes espera nova alta de juros até o fim de 2023 veio em linha, pois é largamente entendido de que se os dados continuarem a corroborar continuidade do arrefecimento do processo inflacionário, essa alta adicional dos juros neste ano não será necessária. Também é consenso que a manutenção de uma postura cautelosa é menos custosa para a autoridade monetária do que um cenário onde há a redução da expectativa da taxa básica de juros e se mostra mais condizente em um contexto em que houve alta de projeção para o crescimento do PIB e redução da taxa de desemprego.”

Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, comenta que o Ibovespa subiu impulsionado pelo desempenho positivo dos setores aéreos e turismo com altas relevantes da Azul e Gol, em meio à expectativa de corte de -0,50% na taxa Selic e em compasso de espera do comunicado do Copom mais tarde. “O Ibovespa teve queda após discurso mais hawkish de Powell e possibilidade de alta de juros na próxima reunião, mas ainda seguiu positivo. A manutenção dos juros por lá já era prevista pelo mercado. Os investidores também reagiram à decisão da China em manter as taxas de referência de um e cinco anos inalteradas”, resumiu.

Em relação à expectativa do mercado em relação ao corte de 50 pontos-base na taxa Selic e de uma sinalização, pelo Banco Central, de cortes “de mesma magnitude nas próximas reuniões”, Almeida pontua que, embora a desinflação seja um fator positivo, as incertezas fiscais e a resiliência da atividade econômica ainda justificam a cautela, tornando a expectativa de corte de 50 bps “uma escolha sensata para a próxima decisão de política monetária”. “Hoje saiu o dado do IGP-M que subiu 0,34%, fortalecendo a expectativa que talvez uma aceleração mais forte da queda dos juros so venha em 2024”, avalia.

O sócio da AVG Capital destaca as subidas das ações do Itaú e B3, após a 2W Ecobank afirmar que pretende realizar um oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e engajar os bancos Itaú BBA, BTG Pactual e Santander Brasil. “Também o cenário de queda de juros traz otimismo para o setor bancário.”

Sobre a queda da Braskem, Almeida ressalta que o BTG Pactual relatou que a empresa enfrenta desafios devido a uma demanda global mais fraca e a um aumento maior do que o esperado na oferta de resinas, resultando em um mercado com excesso de oferta. “Além disso, os spreads da Braskem permanecem baixos e podem continuar fracos no futuro próximo. O relatório também destaca preocupações sobre a alavancagem crescente da empresa e a expectativa de consumo de caixa, o que pode preocupar os investidores.”

A queda do Pão de Açúcar ainda reflete o corte, pelo Bank of America (BofA), do preço-alvo da ação em 76,6%, a R$ 3,50, ontem (19). “O banco apontou preocupações com os custos elevados, a perda de escala e a pressão da concorrência após o spin-off do Grupo Exito. Além disso, foi mencionado que o GPA está se desfazendo de ativos como parte de um esforço para evitar a falência e desalavancar.”

Ainda no varejo, a hoje a Casas Bahia (ex-Via) passou a negoiar com novo código (ticker) ‘BHIA3’, em substituição ao ‘VIIA3’, sem trazer mudança para o preço do papel. “A situação da empresa continua bem ruim. O follow-on a R$ 0,80 foi um “fracasso” e ficou abaixo do esperado mostrando sinais de preocupação dos investidores. A captação pode ser ainda insuficiente para resolver completamente os problemas financeiros da empresa. Embora a oferta tenha proporcionado um respiro, a empresa enfrenta um consumo de caixa significativo e precisará de mais capital no futuro.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,13%, cotado a R$ 4,8794. A moeda, que caiu ao longo de toda a sessão, ganhou força nos instantes finais, após o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. A instituição divulgou a manutenção das taxas de juros estadunidenses na faixa entre 5,25% e 5,5%.

Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, “a manutenção era amplamente esperada. O ponto mais importante é que mesmo o Fed não subindo os juros, a taxa deve permanecer alta por bastante tempo”.

Serrano, contudo, salienta que o cenário ainda é muito incerto e depende dos dados que irão sair até o final do ano, mas pontua que o mercado ainda contempla o corte início do corte dos juros em algum momento no meio do próximo ano.

“O mercado acredita que o discurso do Fed não irá se concretizar, e que deve ser moldado ao sabor dos resultados da economia”, avalia Serrano.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda acompanhando as treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) após decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) que decidiu por manter as taxas básicas de juros dos Estados Unidos inalteradas na faixa entre 5,25% e 5,5%.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,255% de 12,270 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,480% de 10,495%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,150%, de 10,180%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,380 % de 10,445% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 4,8700 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com o Nasdaq caindo 1,5%, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou que deixaria as taxas de juros inalteradas, mas indicou outra alta no horizonte.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,22%, 34.440,88 pontos
Nasdaq 100: -1,53%, 13.469,1 pontos
S&P 500: -0,93%, 4.402,20 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA.

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