Bolsa e dólar fecham perto da estabilidade em dia marcado por falas de Powell

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São Paulo- A Bolsa fechou em leve queda em dia marcado pelas falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, em que a sinalizou que não descarta mais altas de juros nos Estados Unidos e que segue de olho nos dados econômicos para tomar decisões. A queda da Vale (VALE3) também pesou no índice.

No início do discurso do Powell, o índice chegou a atingir a máxima no patamar dos 115 mil pontos, com a classificação de uma fala mais dovish, mas foi perdendo força ao longo da sessão.

A Vale (VALE3) caiu 1,43% e Petrobras (PETR3 e PETR4) perdeu 0,72% e 0,46%.

O destaque negativo ficou para Magazine Luiza (MGLU3), que caiu 6,93%.

“É mais uma correção do que qualquer outra coisa, ontem o papel estava entre as maiores altas do índice. No momento vemos uma troca de posição de investidores migrando de Magazine Luiza para outras varejistas”, disse Rodrigo Cohen, analista CNPI e cofundador da Escola de Investimentos.

O setor de construção teve ganho generalizado. “Essa alta foi puxada pela Gafisa, que disparou com uma suspeita muito grande em relação ao Tanuri, que é o maior acionista individual do papel, de que tenha feito mais compras por várias corretoras e isso fez com que as ações subissem por pura especulação”. Cyrela (CYRE3) e Eztec (EZTC3) subiram 1,27% e 0,27%.

Já o Grupo Soma (SOMA3) avançou 1,71%, após a empresa ter anunciado que a Atmos Capital aumentou a participação na companhia.

Outro setor de destaque positivo foi o elétrico com a notícia de que o relator da reforma tributária, senador Eduardo Braga (MDB-AM), “deve pedir a retirada do setor elétrico da cobrança do novo imposto seletivo na reforma, o que animou setor”.

Outro fator que favoreceu a Copel (CPLE6) foi a divulgação de que um número grande de pessoas aderiu ao plano de demissão voluntária da empresa, notícia vista com bons olhos, já que pode levar a empresa a uma economia de mais de R$ 400 milhões. A XP vê a notícia com bons olhos e reiterou a recomendação de compra para a ação.

O principal índice da B3 caiu 0,04%, aos 114.004,30 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro aumentou 0,01%, aos 115.740 pontos. O volume financeiro foi de R$ 21,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o discurso de Powell teve dois momentos no mercado.

“Ele começou com uma fala mais dovish dizendo que não estão garantidas as altas de juros e que vão analisar dado a dado e isso acalmou o mercado, depois mudou o tom quando mencionou que tem de ficar com juros mais altos por mais tempo e que entre aliviar a parte fiscal e levar a inflação pra meta, a prioridade é levar a inflação pra meta e acabou neutralizando um pouco o primeiro sentimento que o mercado poderia interpretar de não ter nenhuma chance de alta de juros, mas ainda deve o Fed deve elevar as taxas”.

Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, disse que o mais relevante da fala de Powell foi “dizer que a política monetária ainda não está muito restritiva, disse que os dados continuam com tendência descendente, mas ainda são encorajadores, mas precisa que ter estabilização da inflação e que o Fed tem o compromisso de fazer a inflação chegar à meta de 2%, então possivelmente teremos mais alta de juros”.

Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, afirmou que em seu discurso Powell disse que existe a possibilidade de novos aumentos na taxa de juros “tendo em vista o forte crescimento da economia e seu impacto sobre a inflação, mas as declarações foram mais dovish. Ele observou que havia evidências de um arrefecimento no mercado de trabalho dos EUA e que os eventos geopolíticos em Israel haviam criado “incertezas e riscos”. Powell também ecoou a retórica de outros membros do FOMC, dizendo que os rendimentos mais altos do Tesouro restringiram as condições financeiras, ou seja, diminuíram a pressão sobre o Fed para continuar aumentando”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o discurso do Powell “chegou a dar uma animada no mercado, mas já voltou. Ele disse que acredita que a economia está forte, mas vai ser monitorada. Até agora não está trazendo nenhuma novidade. Acho que a melhora interna está mais conectada com as falas do Braga [Eduardo Braga-MDB-AM], relator da reforma tributária no Senado, que passou algumas prévias como proposta de reforma”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, vê de certa forma o mercado se recuperando em meio à queda de Petrobras e Vale, mas ainda tem preocupação global.

“A flexibilização que os Estados Unidos colocaram à Venezuela em relação ao petróleo, apesar de o país estar fora do mercado, é um grande produtor da commodity, vemos como um vetor de calma da oferta e isso acaba tirando um pouco de fluxo de Petrobras; o mercado segue temoroso com economia norte-americana, os dados de seguro-desemprego vieram baixos-caíram para 198 mil na semana-, além disso, a questão do conflito no Oriente Médio com medo de uma escalada da guerra e ainda a crise entre Rússia e Ucrânia deixam os investidores mais preocupados que otimistas; não acredita que hoje o Powell traga alguma novidade em seu discurso.”

Lourenço ressaltou um ponto importante na relação do mercado brasileiro com o externo.

“O Brasil está com as mesmas questões de sempre, preocupado com o fiscal, mas quanto mais acompanhamos o cenário internacional- guerra, inflação- vemos que os nossos problemas são menos complexos. No relativo não estamos tão ruins-não temos risco de envolver em conflito, a inflação não está descontrolada, estamos no ciclo de corte de juros, fiscal não está fácil pra ninguém, temos commodities- e por isso deve estar refletindo no dólar, que não está escalando, o fluxo de estrangeiro no ano ainda está positivo”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,02%, cotado a R$ 5,0525. A moeda chegou a cair com mais intensidade após a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, mas voltou a ganhar força próximo ao final da sessão.

O mandatário reiterou que as decisões de política monetária estão pautadas nos resultados da economia e que a instituição está atenta à disparada das Treasuries.

Para o economista da Ajax Research Rafael Passos, “Powell não trouxe nenhuma novidade”, mas que o mercado sentiu certo alívio ao comandante do Fed dizer que os juros futuros americanos são um dos ingredientes para as decisões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

Passos, contudo, pondera que este cenário pode se deteriorar caso uma desaceleração da economia estadunidense não comece a ser observada no último trimestre de 2023.

Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, “hoje temos a ausência de destaques. A guerra eleva o nível de incertezas e a volatilidade. O ambiente é de incertezas quanto à política monetária”.

Serrano, contudo, disse que a moeda brasileira tem demonstrado estabilidade, permanecendo na faixa dos R$ 5,00, patamar no qual deve se manter a curto prazo.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham no positivo, já que firmaram alta depois de ensaiarem um recuo durante a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Ao fim do discurso, as taxas subiram reagindo à fala de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está cauteloso sobre as decisões futuras de política monetária, reafirmando que a inflação segue alta, apesar de registrar desaceleração nos últimos meses.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, após oscilarem durante a tarde, enquanto os rendimentos dos Treasuries subiram e os investidores analisaram o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,75%, 33.414,17 pontos
Nasdaq 100: -0,96%, 13.186,2 pontos
S&P 500: -0,84%, 4.278,00 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA