Bolsa fecha em queda com exterior, Vale e Petrobras; dólar cai e encerra a R$ 5,031

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda em mais um dia de aversão ao risco com as incertezas no exterior -guerra no Oriente Médio e juros nos Estados Unidos- e recuo da Vale (VALE3) e realização das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4). Na semana, o índice recuou 2,24%.

O recuo do minério de ferro impactou negativamente as ações da Vale (VALE3) e siderúrgicas. A Vale (VALE3) caiu 2,70%, CSN (CSNA3) baixou 3,28% e Usiminas (USIM5) cedeu 2,45%. Petrobras (PETR 3 e PETR4) perdeu 1,09% e 1,27%.

Hoje, mais cedo, foi divulgado o IBC-Br, prévia do PIB, recuou 0,77% em agosto na comparação com julho e a expectativa era – 0,60%, o que mostrou queda na atividade econômica. Já em base anual subiu 1,28% e a previsão era de +1,30%.

As falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ficaram no radar. Mais cedo, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse que o Comitê Geral do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deveria manter os juros em seu pico por algum tempo. O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que não enxerga corte nos juros dos Estados Unidos até metade de 2024.

O principal índice da B3 caiu 0,74%, aos 113.155,28 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 0,81%, aos 114.695 pontos. Na mínima do dia, atingiu 112.533,33 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que o Ibovespa “sucumbiu às tensões externas, além de volatilidade extra devido ao vencimento de opções. A cautela devido ao temor de escalada no conflito no Oriente Médio não fugiu do padrão, pela proximidade do final de semana, o que impossibilitaria que o investidor fizesse qualquer movimentação nesses dias nos quais se teme movimentações na guerra. As tensões dos investidores também se ampliaram com novas falas de dirigentes do Fed, no sentido de postergação do ciclo de juros altos”.

Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse que o Ibovespa cai “por conta do recuo das Vale e siderúrgicas com a desvalorização do minério de ferro devido à demanda menor da China, Petrobras realiza os lucros da semana, depois de subir forte, e as varejistas caem por um temor maior com a crise no Oriente Médio. Além disso, o IBC-Br mostrou que a atividade econômica está esfriando e o ministro Haddad [ministro da Fazenda Fernando Haddad] reforça que é uma desaceleração forte no 3T23”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse que o movimento no mercado está estranho com queda, mas também do dólar e DIs também. “O mercado ainda muito atento ao conflito em Gaza com receio de uma escalada com possibilidade de envolvimento de outros países; ações dependentes dos juros-Casas Bahia e Locaweb- subindo e as commodities sofrendo”.

Com o início da temporada de balanços na semana que vem aqui, Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos, disse que não tem boas expectativas e se fosse para apostar em um segmento seria o bancário.

“Não tenho uma visão otimista, mas alguns setores podem performar melhor que outros, temos que olhar diante das reformas que temos, Pacheco [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado] teve posição favorável ao PL da desoneração [dos 17 setores], mas temos caminho longo; o setor com potencial de bons resultados são os bancos, acredito no Itaú e gosto do Banco do Brasil , varejo não vejo nenhuma possibilidade de trazer boas notícias; lá fora os resultado dos bancos tem vindo muito bom, hoje o Haddad disse que a atividade econômica no 3T23 preocupa, mas a inflação está convergindo para meta. O investidor ainda tem desconfiança grande de tomar de risco mediante o contexto geopolítico”.

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que a falta de notícia positiva faz o Ibovespa cair em meio a um ambiente global complicado.

“Não é um cenário de pânico, mas não tem nada que motive os investidores com a guerra e possível escalada, as falas de Jerome Powell de ontem e para somar a gente tem uma China que manteve a taxa de juros, o mercado esperava um bc mais flexível e o minério de ferro caiu forte e refletindo na Vale e siderúrgicas; a Petrobras é instigada a vir para um processo de correção, a valorização dos papéis era devido ao conflito no Oriente Médio. O mercado já esperava uma realização das ações porque tinha distorção grande com o preço internacional de petróleo segundo a Abicom [Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis]”.

Já Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que o corte no preço da Petrobras pode ter causado um mal-estar no mercado. “Os investidores estão começando a ficar com a pulga atrás da orelha com a questão da Venezuela [a estatal pensa em investir de novo na Venezuela depois que os EUA suspenderam as sanções ao país], abaixar preço com o petróleo subindo, a estatal poderia estar surfando nessa alta da commodity já que o preço está defasado com o internacional; a China também não ajuda, o minério de ferro caiu forte com a notícia de que a Country Garden pode dar outro calote e o cenário global de aversão ao risco”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,42%, cotado a R$ 5,0312. A sessão foi marcada pelo alívio nas Treasuries e intenso fluxo estrangeiro na bolsa brasileira, o que enfraqueceu a moeda norte-americana. Na semana, a divisa estadunidense teve retração de 1,12%.

De acordo com o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, o fluxo estrangeiro fortalece a moeda brasileira, embora não seja um movimento constante e sólido.

“Neste cenário, o câmbio deve se sustentar no patamar de R$ 5,00 a curto prazo”, opina Komura.

O analista da Potenza observa que as incertezas incertezas do mercado pairam sobre quando o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) irá começar a cortar o juros, sendo que no momento a maior aposta é para o último trimestre de 2024.

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, o discurso do (presidente do Fed, Jerome) Powell foi “brando”, suficiente para melhorar o humor dos mercados.

Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), que operam em movimento de correção. A divulgação do IBC-Br de agosto, que teve retração de 0,77% ante projeções de -0,60%, fez com que as DI caíssem com mais veemência.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,144% de 12,160% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,045% de 11,245%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,960%, de 11,270%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,145% de 11,450% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, enquanto os investidores estavam concentrados no recente aumento nas taxas dos juros projetados dos Treasuries para 10 anos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,86%, 33.127,28 pontos
Nasdaq 100: -1,53%, 12.983,8 pontos
S&P 500: -1,25%, 4.224,16 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA