Lula estressa mercado com falas sobre déficit fiscal; Bolsa cai e dólar sobe

321

São Paulo- A Bolsa fechou em queda de 1,28% com o mercado se estressando com as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o Café com os jornalistas, em que afirmou que a meta fiscal zero não deve ser atingida em 2024, contradizendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe econômica. Lula também disse que não vai cortar gastos. Na semana, o Ibovespa subiu 0,13%.

Haddad sempre defendeu que atingir a meta fiscal mostra seriedade do governo com as contas públicas.

O Ibovespa operou praticamente toda a sessão com volatilidade. No meio da tarde firmou queda sob efeito Lula.

Na sessão desta sexta-feira o destaque positivo ficou para a Vale (VALE3) e siderúrgicas, após o balanço da mineradora e da Usiminas. Vale (VALE3) subiu 3,47% e Usiminas (USIM5) avançou 4,18%. As ações ordinárias da Petrobras (PETR 3) e as preferenciais (PETR4) caíram 0,72%.

O principal índice da B3 caiu 1,28%, aos 113.301.35 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,73%, aos 114.665 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que o comentário do Lula “dá a entender que ele passou por cima de tudo que o Haddad vem fazendo, uma boa interlocução com o mercado, que vem dando uma certa credibilidade ao ministro; a partir dessa fala não prevalece a questão econômica e sim a política, que o mercado não gosta; fica a preocupação com o fiscal, tema mais sensível neste momento para o cenário doméstico”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse que a fala do presidente Lula de que não será possível cumprir a meta para zerar o déficit fiscal em 2024 derruba Bolsa.

“Agora o mercado começa a refazer as contas; vale destacar a alta do setor de siderurgia e mineração refletindo os resultados das empresas; na ponta negativa Hypera lidera a perda por conta do balanço abaixo do esperado; ações da construção civil, varejo e B3 caem por serem sensíveis a juros”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse que a fala de Lula “pega mal pra percepção de risco no Brasil, pra questão de agências de ratings e para o mercado como um todo o mercado é ganancioso de cobrar a meta não faz muito sentido porque quem propôs a meta foi a equipe econômica com o seu aval; o mercado entendeu que o governo poderia cumprir; essa cobrança nunca foi colocada no Boletim Focus”.

Mais cedo, Lucas Mastromonico, operador de mesa de renda variável da B.Side Investimentos, disse que tem pouca liquidez no mercado e, apesar de Vale (VALE) subir bem, acaba neutralizada por Petrobras e bancos.

“A liquidez está baixa, a média de setembro e outubro estão nas mínimas dos últimos meses-setembro negociou R$ 22,4 bi e outubro do ano passado R$ 34,3 bi -por conta da guerra [Hamas-Israel], expectativa de inflação nos EUA por mais tempo e o mercado acredita que o Fed vai manter a taxa de juros alta por mais tempo e até subir em uma próxima reunião, isso tira a liquidez do mercado. A Vale começou tímida com os investidores avaliando o resultado e agora pegou tração. Mesmo com o peso que tem no índice não ajuda impulsionar por conta de Petrobras e bancos, que juntos pesam e netam a alta expressiva da mineradora. Hoje também é sexta-feira e os investidores preferem não ficar comprados devido à guerra e Super Quarta na próxima semana [decisão de juros aqui e nos EUA] Fica na expectativa e prefere não ficar comprado em uma sexta-feira dado a guerra e Super Quarta”.

Em relação aos balanços do 3T23 e o relatório da Petrobras, Mastromonico disse que “o resultado da Vale veio levemente acima do esperado, mas anunciou um bom dividendo e programa de recompra de ações, tudo isso faz a impulsionar a empresa, mas ainda está em menores níveis históricos por conta da China; o relatório da Petro veio em linha, bem substancial, mas tem muita preocupação política”.

Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, disse que os dados de inflação nos EUA “vieram em linha com as expectativas do mercado, apresentando evolução de 3,4% nos últimos doze meses, medida igual às dos meses de julho e agosto, depois de consideradas as devidas revisões. O núcleo, que desconsidera itens mais voláteis que ocasionam choques temporários e, por isso, é mais observado na condução da política monetária, apresentou alta de 3,7% em termos anuais. Apesar de permanecer em patamares elevados, significativamente acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed, é importante considerar o arrefecimento em relação aos dados de julho e de agosto, que foram de 4,3% e 3,8%, respectivamente.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o número geral do deflator PCE parece positivo.

“Aqui o Ibovespa futuro ainda está meio indeciso e lá fora já vemos movimento mais positivo. Com esse dado, o comunicado do Fed na semana que vem não deve mudar muito, a autoridade monetária deve deixar a porta aberta pra manter taxa de juros lá em cima. Os gastos pessoais em termos mensais vieram um pouco acima-subiu 0,7% e o consenso era 0,5%, mas o dado não parece que vai mudar muito a leitura de ontem do PIB acima do esperado, só confirma o que vimos ontem. O mercado também responde ao conflito no Oriente Médio. Após a decisão do Fed, temos payroll”. As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, depois de virarem por conta de uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que ‘dificilmente’ o governo cumprirá a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024.

O dólar comercial fechou em alta de 0,43%, cotado a R$ 5,0123. A moeda, que operava em queda até o começo da tarde, mudou de rumo após o presidente Lula falar que dificilmente irá conseguir zerar o déficit em 2024. Na semana, a divisa estadunidense teve desvalorização de 0,38%.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, temos uma deterioração quanto à confiança da meta de 2024. É difícil acreditar que o arcabouço vai ser cumprido.

Abdelmalack entende que o mercado já precificava que a meta dificilmente seria cumprida, mas que a atitude de Lula foi contraproducente: A declaração foi desnecessária, opina.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, depois de virarem por conta de uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que ‘dificilmente’ o governo cumprirá a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,092% de 12,096% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,990% de 10,915%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,800%, de 10,590%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,965 % de 10,570% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com os três índices com perdas semanais acentuadas, arrastados por quedas acentuadas na Meta, controladora do Facebook e a Alphabet, controladora do Google.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,12%, 32.417,59 pontos
Nasdaq 100: +0,38%, 12.643,0 pontos
S&P 500: -0,48%, 4.117,37 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA