Braskem despenca na Bolsa com iminência de desastre ambiental em Maceió e ação de R$ 1 bi

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São Paulo – Os investidores venderam as ações da Braskem após a Defesa Civil de Maceió (AL) decretar alerta máximo devido ao risco de colapso da mina desativada da companhia e a iminência de um desastre ambiental. Ontem a empresa também foi notificada em uma ação civil pública de R$ 1 bilhão em razão do afundamento do solo causado pela atividade extrativa da companhia, adicionando mais gastos relacionados ao evento. O papel BRKM5 chegou a cair mais de 8% no pregão, mas reduziu o ritmo e fechou em baixa de 5,85%, cotada a R$ 18,01. A ação ficou entre as principais quedas do Ibovespa.

Para a Guide Investimentos, o impacto é negativo. “Esses aumentos dificilmente eram previstos pelo mercado. Eles representam aproximadamente 6,6% aproximadamente do market cap da Braskem. Contudo, não é certo que a Braskem se comprometerá a pagá-los. Embora achemos provável que o faça para não atrasar o processo de venda das suas ações detidas pela Novonor”, comentou a corretora.

PRESSÃO SOBRE OS RATINGS

A agência de classificação de risco Fitch Ratings avalia que o iminente colapso de uma mina de sal localizada em Maceió (AL) pode impactar significativamente os fluxos de caixa da Braskem e pressionar seus ratings. A Fitch Ratings atualmente classifica a Braskem com a nota de crédito global de longo prazo BBB-, com perspectiva negativa, e com o rating nacional de longo prazo AAA(bra), com perspectiva estável.

Na avaliação da agência, outro evento geológico nas instalações da petroquímica pode aumentar substancialmente o número de novas ações judiciais contra a companhia e impactar sua capacidade de acessar aos mercados de capitais, uma vez que os investidores estão mais restritivos e preocupados com questões ambientais, sociais e governamentais (ESG, na sigla em inglês).

A Fitch entende que a nova ação civil pública, de R$1 bilhão, contra a Braskem, está em fase inicial e precisa seguir o processo judicial apropriado, que pode levar meses até ser finalizado. “A Fitch monitorará o caso e não considerará o pagamento da ação até a empresa ser oficialmente obrigada a pagar a penalidade”, afirmou.

O atual cenário-base da Fitch não pressupõe desembolsos relativos a ações judiciais além dos anunciados para o horizonte avaliado. A projeção considera pagamento de R$ 7,5 bilhões (US$ 1,5 bilhão) até 2025, R$ 3,0 bilhões, dos quais em 2023 e 2024, e R$ 1,5 bilhão em 2025. O FCF deve ficar negativo em R$ 4,5 bilhões (US$ 860 milhões) em 2023 e R$ 3,5 bilhões (US$ 685 milhões) em 2024, principalmente devido a acordos firmados com a Justiça. “Para 2025, esperamos que o FCF se torne positivo em aproximadamente R$ 1,0 bilhão.”

Em setembro, a Braskem reportava R$ 18,5 bilhões (US$ 3,4 bilhões) em caixa e equivalentes, o que seria suficiente para cobrir esses passivos e pagar o serviço de sua dívida até 2027.

Em 23 de agosto, a Fitch revisou a perspectiva da Braskem para negativa devido à probabilidade de a alavancagem permanecer elevada, em torno de 12 vezes, por mais tempo (ao menos até 2024) do que o esperado. No período de 12 meses encerrado em setembro, a relação dívida sobre o ebitda ficou em 14,0 vezes, ante 5,2 vezes em 2022.

Uma nova ação de rating negativa pode resultar, entre outros fatores, da permanência do índice de cobertura de juros abaixo de 1,0 vez e de FCF negativo na baixa do ciclo, que resulte em maior necessidade de dívida.

No período de 12 encerrado em setembro, a cobertura de juros era de 0,8 vez e o FCF estava negativo em R$ 5,2 bilhões, ante 3,2 vezes e R$ 1,5 bilhão positivo no fim de 2022.

A Fitch acredita que a empresa tem capacidade para ajustar sua estratégia de investimentos para preservar o FCF. Isso pode resultar de redução de investimentos, otimização do capital de giro, venda de ativos não essenciais ou de novas parcerias para aumentar a produtividade.

ALERTA MÁXIMO

Nesta sexta-feira, a Defesa Civil de Maceió (AL) informou que o deslocamento vertical acumulado da mina 18 é de 1,42 metro e a velocidade vertical é de 2,6 cm por hora. O órgão permanece em “alerta máximo” devido ao risco iminente de colapso da mina nº 18, que está na região do antigo campo do CSA, no Mutange, informou o órgão.

Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo.

A equipe de análise da Defesa Civil ressalta que essas informações são baseadas em dados contínuos, incluindo análises sísmicas. O órgão reitera a recomendação de evitar a área desocupada do antigo campo do CSA por questões de segurança.

Ontem (30/12), a Prefeitura de Maceió decretou estado de emergência por 180 dias no município devido ao risco de colapso de uma mina no Mutange, identificado pela Defesa Civil nesta quarta-feira (29) .

O presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, orientou os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) e Renan Filho (Transportes) a acompanharem de perto, em Maceió (AL), o risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem na Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange.

“Os ministros Renan e Wellington já estão na capital alagoana com uma equipe de técnicos do ministério dos Transportes, Integração e do Desenvolvimento Regional e Minas e Energia para monitoramento. Representantes da Defesa Civil Nacional e do Serviço Geológico do Brasil também chegaram ontem à capital alagoana. Ontem, a prefeitura de Maceió decretou estado de emergência por 180 dias pelo risco de colapso. Estamos atentos e de prontidão para as ações que forem necessárias e ajudar no que for preciso”, escreveu Alckmin, na rede social “X”.

Antes, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também disse que entrou em contato com o Ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Goes, solicitando prontidão e alerta da Defesa Civil Nacional para acompanhar as graves consequências geradas pela exploração das minas pela Braskem, em Maceió.