Por Gustavo Nicoletta
São Paulo – Uma série de bancos e corretores estão ajustando suas previsões para a taxa básica de juros (Selic) depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou a taxa em 0,50 ponto percentual (pp) ontem, para 5,5%, e sinalizou que pode fazer novos cortes. Com isso, as previsões de que a Selic pode ir abaixo de 5% cresceram. O BNP Paribas, por exemplo, prevê que a taxa pode chegar a 4,25% no primeiro trimestre do ano que vem.
De acordo com o banco, os cortes aconteceriam em outubro e dezembro deste ano e em fevereiro do ano que vem. “As projeções de inflação do Banco Central mostram a leitura de 2020 abaixo da meta em todos os cenários”, acrescentou o BNP Paribas em nota.
O Rabobank, por sua vez, acredita que o BC indicou um plano de estímulos mais “ousado” para o futuro e acredita que a Selic sofrerá mais dois cortes de 0,5 pp até o final do ano, encerrando 2019 em 4,50%. “Continuamos não esperando mudanças na política monetária em 2020”, acrescentou, em relatório.
“Mesmo presumindo a manutenção de níveis elevados para a taxa de câmbio (próximo de R$ 4,05 por dólar), um outro corte na Selic, de 0,5 pp, para 5,0%, não seria suficiente para impulsionar o IPCA para o centro da meta de 2020, de 4,0%”, afirmou ainda o banco.
Já o Bradesco espera que a taxa chegue a 4,75% no final de ano, “reconhecendo a possibilidade de que a taxa possa chegar abaixo desse nível ao final do ciclo.”
O Bank oF America (BofA) manteve a sua projeção de queda de 0,50 pp em outubro e em mais 0,25 pp em dezembro, o que colocaria a taxa numa nova mínima histórica de 4,75% ao ano. “Achamos que a Selic ficará estável neste nível ao longo de 2020, dado o cenário de inflação benigno e da recuperação econômica ainda gradual. Dito isto, os juros menores em todo o mundo, a atividade doméstica fraca e especialmente a baixa inflação sugerem que há risco de cortes maiores”, acrescentou o banco.
O Société Générale (SocGen) é outro que viu um aumento da possibilidade de a Selic encerrar este ano abaixo de 5%. “O que apreendemos da reunião de setembro é que o banco central está completamente focado em tirar o máximo de proveito do cenário de inflação benigno quanto for possível e permitido pela até agora depreciação gerenciável do real”, disse o banco.
O Goldman Sachs, porém, avalia que embora a sinalização tenha sido por uma nova redução na reunião de outubro, há limites em relação a até onde a taxa pode chegar no atual ciclo de redução, devido a riscos inflacionários.
“Um afrouxamento adicional agressivo – por exemplo, que colocasse a Selic na faixa dos 4% – poderia se mostrar contraproducente pois não apenas comprometeria o cumprimento das metas de inflação mais baixas em 2020 e 2021 (de 4,00% e 3,75%, respectivamente), mas também poderia deixar o real mais volátil por causa das condições de arbitragem”, acrescentou, em relatório.
Mais conservadora, a consultoria Capital Economics acredita que haverá um corte de 0,25 pp em outubro, visto que ainda há dúvidas sobre a tramitação das reformas econômicas no Congresso.
“O próximo obstáculo [em relação às reformas] deve ser a aprovação da reforma da Previdência pelo Senado. Nossa expectativa central é de que ela provavelmente será aprovada antes da próxima reunião do Copom no mês que vem. Mas não está claro que os próximos estágios do plano de reformas do governo – incluindo as privatizações e as reformas tributária e orçamentária – avançarão tão rapidamente quanto a reforma da Previdência”, disse a consultoria em relatório.
Isto pode impedir o Copom de, a exemplo do que fez ontem e em julho, cortar a Selic em 0,5 ponto porcentual em 30 de outubro, principalmente se a taxa de câmbio atingir R$ 4,30 por dólar, disse a Capital Economics.