São Paulo – A Bolsa fechou em queda pressionada pelas ações da Petrobras (PETR3 e PETR4), com o mercado receoso diante das falas do presidente da estatal, Jean Paul Prates, em relação à distribuição de dividendos pela companhia aos acionistas. O papel tombou. A queda da Vale (VALE3) também pesou em dia de pessimismo.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) despencaram, chegaram a cair mais de 6% e fecharam, respectivamente, 5,39% e 5,16%. Vale (VALE3) caiu 1,09%. As duas ações têm peso no índice.
Mais cedo foi divulgado o PIB americano-cresceu 3,2% no quatro trimestre de 2023, um pouco abaixo das estimativas (3,3%), mas o núcleo da inflação avançou 2,1% e o esperado era 2%.
Os investidores ficam com dúvida de quando se inicia o corte de juros por lá, mas o dado de hoje reforçou a tese que não será março. Amanhã, sai o principal indicador da semana, a inflação PCE de janeiro.
O principal índice da B3 caiu 1,16%, aos 130.155,43 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 1,19%, aos 131.765 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,2 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.
Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, disse que as falas do Prates sobre dividendos assustaram o mercado e Petrobras caiu forte.
“A fala dele sobre dividendos e investimentos na empresa gera um certo susto. Ele disse que quase metade das receitas da Petro podem vir de fontes eólicas solares e de combustíveis em dez anos e o mercado ficou temeroso de que haja mudança nos investimentos pra Petrobras. Como o mercado não sabe o que estão planejando gera receio, medo que possa mudar a estratégia e política de condução da companhia, que vai afetar dividendos e a condução da empresa como um todo. A dúvida é de como será feita a transição para energia renovável; a Vale cai por ruído político, a incerteza sobre o comando da empresa e a alta dos juros compromete as ações cíclicas”.
A analista lembrou que o ano passado, a condução de Prates frente à companhia surpreendeu e a Petrobras se destacou. A estatal continuou a pagar bons dividendos e não mudou a política de preços, conforme o mercado esperava.
Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a queda da Bolsa é puxada por Petrobras após falas de Jean Paul Prates [presidente da estatal], em entrevista à Bloomberg.
“Prates disse que tem de ter cautela em relação à distribuição de dividendos. É totalmente contra as expectativas do mercado depois do relatório de produção em que o mercado começou a projetar bons dividendos extraordinários. Mas essa fala de hoje, ainda mais, perto da divulgação dos resultados [7/3], é bem ruim”.
Enzo Pacheco, analista da área internacional da Empiricus Research, disse a segunda leitura do PIB americano não veio tão diferentes da primeira leitura, mas pesou no mercado alguns dados.
“O PIB veio 0,1 pp abaixo das estimativas e resultado foi suficiente para aumentar ainda mais as apostas de que não teremos corte de juros em março, que já está precificado. O que impactou mais o mercado foram os índices de preço do PIB (+1,6%) e o esperado era (+1,5%), patamar da leitura anterior, e o núcleo do PCE trimestral (+2,1%) e expectativa era de + 2,0%, como a 1 leitura. O PCE subiu 1,8% e esperado era de 1,7%. Amanhã (29) sai o PCE e os analistas entendem que o número vai vir maior que o esperado e as dúvidas são se o corte será no primeiro semestre ou se vai ser postergado para mais adiante”.
Os analistas da Toro Investimentos, em relatório, comentaram que o PIB americano mostrou “crescimento da economia de 3,2% de forma anualizada, abaixo das expectativas e da primeira medição, de 3,3%. Número ainda é robusto e mostra a resiliência da economia americana, o que pode pesar sobre a decisão de juros do Fed. Caso vejamos uma inflação mais fraca sendo divulgada amanhã (29), o cenário de soft landing pode ganhar força”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,78%, cotado a R$ 4,9711. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano do 4º trimestre (+3,2% ante projeção de +3,3%), que foi mais uma demonstração de que a economia estadunidense permanece aquecida.
Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, o PIB “entra na linha de que é cada vez mais difícil um movimento de queda de juros nos Estados Unidos. É possível que estiquem ainda mais o o início dos cortes”.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, entende que mesmo abaixo das projeções, o resultado impactou o câmbio: “Embora a revisão tenha vindo para baixo, a abertura do PIB foi muito forte. O ponto de partida da economia americana é mais aquecido do que se imaginava”, analisa.
Borsoi observa que a situação, no caso doméstico, é agravada pela queda no valor das commodities, em especial a metálica e agrícola: “Vemos uma piora nos termos de troca, o que deve pressionar o câmbio”, contextualiza.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, em movimento de correção e refletindo a elevação de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre – as projeções eram de +3,3% – e do preço das despesas de consumo pessoal, que aumentou 1,8% no trimestre no valor global e 2,1% no núcleo excluindo alimentação e energia, ambos 0,1 pontos percentuais acima da estimativa inicial. As taxas ainda refletem o IPCA-15 divulgado ontem que subiu 0,78% contra previsão de 0,83%, e em 12 meses acumula alta de 4,49% e a expectativa era de +4,56%.
O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,995%, de 9,985% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,840% de 9,805%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,045, de 10,000%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,310% de 10,270% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com os investidores aguardando a divulgação dos dados da inflação PCE, que será amanhã (29), às 10h30 (horário de Brasília).
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,06%, 38.949,02 pontos
Nasdaq 100: -0,55%, 15.947,7 pontos
S&P 500: -0,16%, 5.069,76 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Vanessa Zampronho/ Agência CMA