Questões geopolíticas impediram a formação de um consenso para um comunicado, diz Haddad

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São Paulo – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou de uma coletiva de imprensa no final da cúpula do G20 do grupo de finanças. Para ele, a reunião transcorreu muito bem, o tema da desigualdade foi muito notado, além da discussão sobre a tributação internacional, que obtiveram uma grande adesão.

Por outro lado, os líderes financeiros dos principais países do G20 não conseguiram chegar a um consenso em torno de um comunicado conjunto, em meio a profundas divisões sobre como abordar conflitos geopolíticos.

“Muitas vezes um comunicado não é possível não porque os temas não foram discutidos; na track financeira conseguimos fazer um comunicado que contempla todas as perspectivas que foram colocadas. Havíamos nutrido a esperança de temas mais voltados à geopolítica fossem debatidos exclusivamente no track diplomático, mas como não se chegou a uma redação comum, isso acabou contaminando o estabelecimento de um consenso do track financeiro”, disse.

Ao falar das discussões do ponto de vista econômico, Haddad falou que os debates falam do mundo como um todo. “Não estamos aqui para tratar somente dos problemas que afetam o mundo rico, mas de todo o mundo”.

Ele ressaltou a importância do papel do Brasil no grupo. “O papel do Brasil é muito importante no G20. Estamos em uma posição muito especial, por participar do G20, do Brics, Celac e que somos convidados para o G7, além de sua situação particular por ser um credor líquido. Não estamos endividados, não pertencemos ao mundo rico, nem aos países devedores e de baixa renda”.

Por conta disso, o país, em fóruns globais, não faz muitas reivindicações para si, mas para o mundo como um todo. “O Brasil pode pedir muito pouco para si, mas mais para a reorganização da governança global. Temos um papel a cumprir, uma legitimidade a exercer, e que nem sempre estão representados no G20”.

Ao falar da nova globalização, Haddad falou que “ela deve ser sustentável, justa, ambientalmente correta e fiscalmente responsável. Precisamos pensar de forma mais abrangente, há temas que não serão resolvidos nacionalmente, e sim internacionalmente. Um deles é o problema da dívida, que não seria tratado no G20 se não afetasse as finanças globais”.

Sobre o uso de outras moedas que não o dólar, o ministro disse que houve uma discussão sobre a necessidade de usar novos mecanismos, no comércio exterior, e no sistema internacional de crédito, para usar as moedas nacionais. “É um tema que passou em 2023 e continua sendo discutido”.

A respeito da inflação, Haddad reconheceu que há um processo desinflacionário em curso, e que pode refletir na queda dos juros. “E espero que aconteça o quanto antes, não apenas para o Brasil, mas há muitos países endividados em dólar. É algo que machuca o mundo todo, especialmente para quem está devendo em moeda forte”.

Ao falar da taxação internacional dos super-ricos, Haddad citou que o Brasil estava muito atrás no que diz respeito ao assunto. “São poucos os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do G20 que tem uma tributação tão regressiva quanto a brasileira. Estamos levando para o G20 outra consideração, mostrando como nem no mundo desenvolvido o tema dos bilionários foi resolvido adequadamente. Não se pode ter tabus para um mundo que busca soluções para crises dramáticas, sociais, políticas, ambientais. O tema da desigualdade foi mais bem recebido porque é mais aceito que se deve resolver de forma global”, concluiu.