São Paulo – As ações da Petrobras operaram o pregão de hoje com bastante volatilidade e encerraram no negativo após intenso fluxo de notícias ao longo do dia que trouxeram bastante incertezas em relação ao futuro da companhia. As ordinárias PETR3 caíram 0,45%, a R$ 39,12, e as preferenciais PETR4 recuaram 1,40%, a R$ 37,88.
A Ativa Investimentos comenta que as ações da empresa iniciaram o dia em alta, repercutindo os futuros do Brent, que tocaram os US$ 90, depois passaram a recuar com notícias que Aloizio Mercadante substituiria Jean Paul Prates no comando da Petrobras e voltaram a subir com a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria tido sucesso no convencimento de ministros na liberação dos R$ 43 bilhões em dividendos referentes aos resultados de 2023 e atualmente retidos para aliviar o fiscal.
Em relação à notícia divulgada na mídia sobre pagamento de dividendos extraordinários, a Petrobras divulgou comunicado após o fechamento do pregão, informando que não há decisão quanto à distribuição de tais valores e que fatos julgados relevantes serão tempestivamente divulgados ao mercado.
A Ativa considera a troca de comando negativa para a empresa, pois avalia que Mercadante não tem expertise e know-how em óleo e gás. “Num momento em que o setor energético ganha preponderância mundial e que a transição energética está no seio estratégico do Brasil, politizar o principal cargo da principal empresa petrolífera do país não nos parece uma boa opção”, comenta.
Em relação aos dividendos, a Ativa classifica como positivo o pagamento deste montante, apontando “uma série de dúvidas” a respeito da rentabilidade real dos projetos que Petrobras efetuará ao longo do seu atual plano de investimentos e, que a distribuição, por sua vez, eliminaria integralmente a possibilidade dos recursos serem utilizados para outros fins, como investimentos.
Por fim, a corretora avalia que a chance de Prates sair e os dividendos serem liberados é uma opção que ganhou força, entra várias possíveis. “E com ela, mesmo o investidor (e as contas da União) ganhando um motivo para comemorar com o destravamento dos dividendos, nada impede que novas retenções ocorram no futuro. Em suma, ainda que positivo para as ações num primeiro momento, o mercado ainda terá dificuldade de perenizar o movimento, sobretudo se for confirmada a troca no comando da empresa”, comenta.
Pedro Coutinho, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, também destaca a volatilidade dos papéis da Petrobras ao longo do dia com a possível nomeação de Mercadante para o lugar do Prates como CEO da companhia, e com um possível acordo para o pagamento de dividendos extraordinários. “O mercado gostou da questão dos dividendos e acabou trazendo um pouco mais de otimismo para o papel”, observou o analista.
Lista de substitutos de Prates começa a circular e Mercadante é citado
Os rumores de uma queda próxima do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, são tantos que há uma lista de possíveis substitutos já circulando em Brasília, segundo notícias. A “Globonews” menciona o nome de Aloísio Mercadante.
A “Folha de S. Paulo”, que noticiou o pedido de reunião feito por Prates ao presidente Lula, cita Ricardo Savini, fundador da 3R Petroleum, Bruno Moretti, hoje Secretário Especial de Análise Governamental da Presidência da República, e Magda Chambriard, engenheira química, ela atuou na Petrobras antes de migrar para a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que presidiu entre 2012 e 2016.
Possível queda de Prates do comando da estatal mantém mercado em atenção
A Ativa lembrou que os rumores envolvendo a saída de Prates ocorrem desde o início de seu mandato, e que o choque com o Ministério de Minas e Energia não é novidade. “O que nos preocupa, no momento, é que, o maior embate entre a companhia e o governo pode tirar poder de manobra para a companhia seguir executando a sua atual política de preços como fez ao longo de 2023. Vemos, por exemplo, a defasagem na gasolina ultrapassando com facilidade os dois dígitos percentuais frente aos preços no Golfo e acreditamos que embates políticos como estes podem diminuir o capital politico necessário para a empresa seguir conduzindo a sua política de preços como vêm fazendo desde a sua criação no ano passado. Ademais, não vemos tais riscos integralmente precificados no papel diante da sua atual cotação”, explicou a Ativa.
Ontem, em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reconheceu que há um conflito entre seu papel e o do presidente da Petrobras, mas disse ver as divergências como salutares e não pessoais. Entre as divergência está a destinação de dividendos aos acionistas. Prates defendeu distribuir 50% dos recursos extraordinários, mas Silveira e o conselho discordaram.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que a decisão sobre como prosseguir com o plano de investimentos da Petrobras, além da distribuição de dividendos extraordinários, depende de informações finais do conselho da diretoria da estatal.
“A decisão sobre dividendos é um desdobramento da execução do plano de investimentos da Petrobras. Toda a questão que está para ser debatida pela diretoria, e depois pelo conselho, é se vai ou não faltar recursos para execução do plano de investimento”, disse Haddad a jornalistas..
“O que nós estamos esperando são as informações finais da diretoria da Petrobras com base nas provocações que foram feitas pelos membros do conselho.” Em relação à data de divulgação, Haddad disse que não cabe à Fazenda anunciar um prazo sobre o tema.
Defasagem da gasolina ante PPI está em 19% nas refinarias da Petrobras, 100 dias após último corte
O acompanhamento diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) divulgado hoje mostrou que os preços do litro da gasolina e do diesel nas principais refinarias do País estavam 17% e 12%, respectivamente, abaixo do preço de paridade internacional (PPI). No caso da gasolina, a variação foi a mesma registrada ontem (3) e representa um preço por litro de R$ 0,58 mais barato nos principais polos, e no diesel, R$ 0,46 inferior. A defasagem do diesel na medição anterior era de -11% (-R$ 0,43) em relação ao preço no exterior.
Ainda conforme a medição de hoje da Abicom, os preços praticados nos polos operados pela Petrobras estavam menores que o internacional em 19% (-R$ 0,64) na gasolina e 12% (-R$ 0,49) no diesel, em média. Na quarta-feira, as defasagens nos mesmos polos estava em -18% (-R$ 0,62) na gasolina e -11% (-R$ 0,44) no diesel em relação ao PPI.
O parâmetro usado para a comercialização desses combustíveis pelos importadores brasileiros é preço praticado no Golfo do México. A Abicom calcula o PPI usando como referência os valores para gasolina, óleo diesel, câmbio, RVO e frete marítimo nas cotações, considerando os fechamentos do mercado do pregão anterior ao dia da apuração.
A Abicom comenta que apesar da estabilidade no câmbio e nos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional no fechamento do dia útil anterior, o cenário médio de preços está abaixo da paridade para o óleo diesel e na paridade para gasolina.
A taxa de câmbio Ptax, calculada diariamente pelo Banco Central, fechou na sessão de 3 de abril operando em patamar elevado (no fechamento, em R$ 5,07) e pressionando os preços domésticos dos produtos importados. A oferta apertada do petróleo segue pressionando os preços futuros da commodity, acrescentou a associação, que apontava que os futuros do Brent eram negociados acima dos US$ 89/bbl.
A medição de hoje ocorreu 100 dias após a vigência da redução linear média de R$ 0,30 por litro no diesel S10, em 27 de dezembro de 2023, e 167 dias após da validade da redução de R$ 0,12 por litro na gasolina, pela Petrobras, em 21 de outubro de 2023.
A análise também considerou os aumentos dos preços do diesel A em R$ 0,0887 por litro, e da gasolina A em R$ 0,0962/l, pela Acelen, no Polo Aratu (BA), na última quarta (3). Mesmo assim, os preços médios dos dois combustíveis operam abaixo da paridade em todos os polos analisados.
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