Membros do Copom que votaram por corte de 0,50 ponto citaram custo reputacional de não seguir foward guidance

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São Paulo, 14 de maio de 2024 – Os membros do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) que votaram pelo corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic durante a reunião realizada nos dias 7 e 8 de maio citaram o custo reputacional de não seguir o foward guidance. As informações partem da ata da reunião. Por 5 a 4, a decisão foi de cortar a Selic em 0,25 ponto para 10,50% ao ano.

 

Segundo o documento, os membros do Comitê que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março e maio, aqui já discutidas. “Compartilham ainda do firme compromisso com o objetivo fundamental de atingimento da meta e de reancoragem das expectativas”.

 

O debate proposto por tais membros foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período. Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê.

 

“Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado. Ressaltaram que a extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação. Robustecendo a análise, notaram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela determinação da taxa de juros terminal e que a redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria a política monetária suficientemente contracionista”, apontou a ata.

 

O grupo – formado pelos diretores indicados peloa atual governo – enfatizou a necessidade de flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria, “à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada”.

 

Após a análise do cenário, a maioria do Comitê avaliou que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Consideraram, para tanto, que o cenário esperado não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado.

 

Para tais membros, o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava. Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas. À luz do que foi analisado, tais membros consideraram que uma redução de 0,25 ponto percentual era mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante.

 

Segundo a ata, todos os membros concordaram que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas. Ressaltaram, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista e a taxa de juros terminal será aquela que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas.

 

“Por fim, todos corroboraram o entendimento de que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, concluiu o documento.

 

Dylan Della Pasqua / Agência CMA

 

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