Bolsa fecha em alta e dólar cai após governo se comprometer em cortar gastos

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São Paulo -A Bolsa fechou em alta tímida limitada pelo impacto negativo da Petrobras (PETR3 e PETR4), mas conseguiu se manter na região dos 126 mil pontos.

Com a ausência dos Estados Unidos em razão do feriado da Independência, o mercado foi pautado pelo cenário doméstico com compromisso do governo pelo equilíbrio fiscal.

Na sessão de hoje, as empresas sensíveis a juros lideraram as altas refletindo o recuo dos DIs. Na contramão, as exportadoras caíram em consequência de um dólar mais fraco.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) recuou 1,34% e 1,37% na contramão do petróleo. Vale (VALE3) caiu 0,49%. Vamos (VAMO3) foi destaque de alta em mais de 8%.

O principal índice da B3 subiu 0,39%, aos 126.163,98 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto tinha estabilidade, aos 127.545 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,3 bilhões.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável a Veedha Investimentos, disse que o mercado tem um movimento favorável, Petrobras pressiona.

“Depois de vários dias de tensão, o mercado caminha para um desenrolar positivo após o Haddad reafirmar que o governo quer buscar o equilíbrio fiscal, déficit zero com as reduções de gastos para o ano que vem. Isso fez com que a Bolsa subisse, dólar recuasse e DIs fechassem. O Ibovespa é impactado pelo peso de Petrobras ainda com temor de risco político depois das indicações de diretores pela nova CEO. As empresas expostas a juros sobem e, na contramão, as exportadoras como Klabin, Suzano, Vale, Gerdau e CSN caem com o dólar mais fraco, mas tiveram performance positiva quando o dólar subiu”.

Raony Rossetti, Ceo da Melver, disse que a proposta de ontem do governo em cortar gastos foi positiva, mas ainda faltam os detalhes.

“O mercado viu com os olhos um pouco melhor [a proposta], mas ainda quer saber como será executada e falta saber o que vai ser feito em termos de agenda tributária para o segundo semestre. O Plano Safras [lançado ontem para estimular o agronegócio] também é importante. Dois pontos de atenção: qual vai ser taxa do crédito para não impactar a parte fiscal, vai ser abaixo mais ainda falta clareza; e como influenciar o agronegócio do jeito correto, já que 30% do PIB é agronegócio. É necessário um melhor entendimento do Plano. Outro fator de relevância é o PMI brasileiro, lá fora está caindo, à exceção de China que ficou estável, mas o PMI brasileiro está subindo. Com toda a bagunça fiscal, as empresas estão indo bem, e se tiver uma pequena sinalização de controle de despesas, a nossa bolsa explode”.

Mais cedo, Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que o Ibovespa futuro sobe pouco, mas em relação ao ajuste de ontem avança mais reagindo ao anúncio do governo para controlar o fiscal.

“O movimento do dólar é mais agressivo. A Bolsa vem se recuperando nos últimos 15 dias e o dólar e os DIs estavam sofrendo bastante. O anúncio de ontem foi importante, o valor é significativo [corte de R$ 25,9 bi em gastos obrigatórios no orçamento de 2025], mas não é um tamanho suficiente para melhorar o déficit [das contas públicas]. Além disso, temos de acompanhar como será feita a execução dos cortes. O mercado não vai ficar pessimista, mas vai ficar com um pé atras. Temos de acompanhar os próximos dias. Hoje sem NY e só com os locais [investidores], que são mais pessimistas que os estrangeiros, o mercado pode ficar mais devagar também com baixa liquidez payroll amanhã”.

Silva também ressaltou a alta do minério de ferro e queda do petróleo. “A Vale pode performar bem, mas ela é uma exportadora e com a queda do dólar temos de acompanhar o desempenho. As exportadoras se animaram com a valorização do dólar nos últimos pregões, mas agora pode ter uma migração para as ações do mercado interno”

O dólar comercial fechou em queda de 1,48%, cotado a R$ 5,4854 para a venda, pelo segundo dia consecutivo, chegou a bater a mínima de R$ 5,4658 com o mercado respirando aliviado após o governo se comprometer com a questão fiscal, buscando cortar gastos.

Cristiane Quartarolli, economista-chefe do Ouribank, disse que a queda do dólar tem relação com o cenário interno com o governo reforçando o compromisso fiscal.

“Essa melhora na taxa de câmbio que a gente viu nesses dois últimos dias tem muito a ver com o ambiente interno local. Na reunião de ontem teve um alinhamento entre o presidente [Lula] e o ministro da Fazenda [Fernando Haddad] em relação às das contas públicas, depois o Haddad anunciou que o governo vai cortar parte dos gastos obrigatórios. Isso foi suficiente para a melhora, mas ainda o câmbio está em um nível elevado”.

A economista-chefe do Ouribank disse esperar que as medidas se concretizem para melhorar ainda mais o câmbio. Caso não aconteça, o contrário também é verdadeiro. Então, acho que a gente tem um ambiente ainda avesso ao risco e o mercado vai ficar bastante atento a essas questões locais. Hoje foi um dia de liquidez reduzida por conta do feriado nos Estados Unidos”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda nesta quinta-feira de feriado nos Estados Unidos. Em dia de liquidez reduzida, o mercado ainda repercute a postura do governo de cuidado fiscal.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,620%, de 10,770% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,295% de 11,590%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,620%, de 11,970%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,870% de 12,150% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 5,4849 para a venda.

 

Camila Brunelli / Agência Safras News